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FUNDAMENTOS DA PREPARAÇÃO EM CORRIDAS DE FUNDO

Introdução

Até a década de 1970, os atletas de corridas de longas distâncias praticamente não realizavam exercícios com pesos. Para o trabalho de força, a opção era treinar em rampas (corridas em aclive) ou dunas de areia, sendo tal procedimento dito específico e único para o desenvolvimento da força e potência muscular nesses atletas.


As descobertas científicas de outrora confirmavam as expectativas de treinadores e atletas do período em questão. Pesquisas da época afirmavam que o treinamento com pesos era o responsável por promover alterações específicas nas fibras musculares que eram prejudiciais ao rendimento nas corridas de fundo. Tais pesquisas sugeriam que os corredores de fundo não deveriam treinar com pesos, sendo o trabalho ideal aquele que apregoava uma alta quilometragem semanal como meio fundamental para o desenvolvimento e aperfeiçoamento da resistência geral e específica dos atletas.


Com a evolução da ciência e o advento de novas descobertas na área, a partir da década de 1980, tem início uma revisão dos conceitos fundamentais relacionados ao paradigma em questão. Entretanto, a maioria dos treinadores ainda relutava na inclusão de exercícios com pesos na rotina dos atletas e como parte da preparação. O conceito de força e suas implicações para o rendimento na corrida de fundo estava passando por alterações significativas e, contudo, seria questão de tempo para que novas abordagens metodológicas surgissem e novas técnicas de treinamento fossem introduzidas no planejamento do rendimento dos atletas.


Já na década de 1990, treinadores e atletas começaram a perceber a real importância do desenvolvimento da força muscular para a melhora do rendimento competitivo e alcance de novas marcas nas provas de fundo. Além do trabalho com pesos leves e moderados e máquinas de força, os saltos e o treino com cargas pesadas, foram adicionados na rotina de treinamento dos atletas altamente qualificados. Metodologias especificas foram elaboradas e introduzidas a partir de conceitos relacionados à preparação especial de força e o aperfeiçoamento da capacidade de força muscular, em suas várias formas de manifestação e, agora passaram a ser imprescind íveis para o alcance dos objetivos da preparação.


O paradigma das altas quilometragens, típico das décadas de 1960 e 1970, portanto, não apenas já foi posto em xeque pelos cientistas e técnicos esportivos, como superado. As marcas expressivas nos 5.000m, 10.000m, Meia Maratona e Maratona, obtidas pelos corredores africanos a partir dos anos 90, não permitem mais dúvidas sobre a importância da preparação em força, considerando que os mesmos enfatizam o treino de força como base de sua preparação. Nos modelos atuais de periodização a carga de treinamento, antes voltada para as altas quilometragens, dá lugar aos aspectos da intensidade e da especificidade do esforço, considerados como fundamentais para a evolução do condicionamento atlético e obtenção de marcas cada vez mais expressivas nas modalidades cíclicas do esporte competitivo.


O advento da preparação em força aliou, harmoniosamente, a resistência e a velocidade, dando origem a atletas fundistas fenomenais como Said Aouita, Nourredine Morceli, Hicham El Guerrouj, Arturo Barrios, Paul Tergat, Yobes Ondieki, John Ngugi, Robert Cheruyot, Samuel Wanjiru, Haile Gebrselassie, Kenenisa Bekele, Eliud Kipchoge, Wilson Kipsang e os brasileiros Ronaldo da Costa e Marilson Gomes dos Santos, dentre tantos outros, que são verdadeiros expoentes de uma época de evolução científica e avanços tecnológicos nunca dantes imaginados pelos antigos treinadores e atletas.


A abordagem proposta nessa obra, portanto, evoca os aspectos teóricos e práticos de uma metodologia e sistematização do treinamento em corridas de fundo onde o elemento força se constitua no principal fundamento de todo o processo de preparação esportiva para o sucesso competitivo no alto rendimento.
A todos os leitores, corredores e treinadores, que a “força” esteja com vocês

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