Caieiras, Cal, Papel, Urbanização
Introdução
O município de Caieiras está ligado intimamente à implantação, no Estado de São Paulo, da Estrada de Ferro São Paulo Railway e ao período de industrialização no Brasil. A São Paulo Raiway que foi iniciada pelo Barão de Mauá teve seu primeiro trecho - São Paulo até Santos - inaugurado em 1866 e seu prolongamento até Jundiaí, em 1867.
Dez anos após o prolongamento da Estrada de Ferro São Paulo Railway em direção à cidade de Jundiaí, portanto no ano de 1877, o empreendedor paulistano Antonio Proost Rodovalho mandou construir em sua fazenda, dois fornos de barranco para produção de cal, as chamadas caieiras. A fazenda, que inicialmente produzia vinho, ficava às margens desta linha férrea e do Rio Juqueri-Guaçu, a uma distância aproximada de 25 quilômetros da capital. Neste mesmo ano, o Coronel Rodovalho, alguns amigos e alguns financistas fundaram ainda a Companhia Cantareira de Esgotos visando à extração dos recursos naturais de Caieiars e produção de serviços de higienização na Capital (DONATO, 1990).
O fundador de Caieiras, Antônio Proost Rodovalho, teve atuação na vida empresarial e política paulista do século XIX. Nasceu em 1838 [...], atuou no comércio desde os 12 anos de idade. Instalou filiais no interior do estado, negociando fornecimento para a lavoura do café. Foi nomeado, em 1875, gerente tesoureiro da caixa filial do Banco do Brasil e posteriormente presidente do Banco Commercial de São Paulo, do qual era fundador e principal acionista. Em 1885, colaborou para a fundação da Caixa Econômica e Monte de Socorro. Administrou as obras da Estrada de Ferro Dom Pedro II (depois Central do Brasil) entre São Paulo e Rio de Janeiro, participou da organização da Companhia de Gás de São Paulo., adquirindo a quarta parte do capital; motivou a criação e manteve-se acionista majoritário da Companhia Cantareira de Esgotos. Foi acionista da Companhia Ituana de Estrada de Ferro. Forneceu a primeira sede própria para a Bolsa de Valores de São Paulo. Foi acionista, organizador e diretor da Fábrica de Tecidos Anhaia & Cia, da serraria Gustavo Sidow & Comapanhia e da Companhia Melhoramentos de São Paulo. Militou na União Conservadora, foi vereador da Câmara Municipal paulistana de 1866 a 1870 e ocupou posteriormente a presidência da edilidade. Foi oficial da Guarda Nacional desde 1857 e atuou no apoio ao Exército na Guerra do Paraguai, onde recebeu o título de coronel. Foi benemérito da Casa de Misericórdia. Faleceu a 30 de dezembro de 1913 aos 75 anos (DONATO, 1990),
Como o desenvolvimento da Companhia Cantareira de Esgotos e com a extensão de fabricação de outros produtos além da cal, como as manilhas, os ladrilhos, as guias, as sarjetas, e, posteriormente, tijolos e telhas, os trabalhadores, a maioria composta por italianos, foram atraídos para esta região pelas oportunidades de trabalho encontradas. Foram construídas, originalmente, 180 residências para fixar esta mão de obra no local. (DONATO, 1990). Este núcleo estaria entre os primeiros núcleos habitacionais organizados para trabalhadores livres no Brasil. Muitos dos trabalhadores do núcleo de Caieiras eram empregados por meio da Companhia de Imigração, de propriedade de Rodovalho, instalada no Porto de Santos, que contratava trabalhadores recém chegados de vários países como Alemanha, Portugal, Suiça e principalmente, como já citado, Itália (MAGALHÃES, 2002).
A necessidade de escoamento da produção, que até então era levada em lombo de mula para a Estação Ferroviária de Perus, que fora inaugurada com o prolongamento da São Paulo Railway até Jundiaí, aliada à influência de Rodovalho e seus sócios da Cantareia permitiram a criação de uma parada de trens da São Paulo Railway na região, surgindo assim, em 1883, a Estação Ferroviária de Cayeiras, com referência aos fornos para a produção de cal (DONATO, 1990).
Nas décadas de 1880 e 1890 verificou-se a intensificação do desenvolvimento industrial no Brasil. Em 1885 o Estado de São Paulo registrava treze fábricas têxteis com 1670 operários, três fábricas de chapéus com 315 operários, sete empresas metalúrgicas com 500 operários. Em 1889 havia no Brasil 636 empresas industriais onde trabalhavam 54 mil operários. Em 1901, entre as 91 mais importantes empresas industriais paulistas, 33 empregavam de 10 a 49 opérários,, 33 de 50 a 199, 22 de 200 a 499, duas outras ocupavam 600 operários cada e uma empresa possuía cercade 800 operários (SIMONSEN, 1973 apud SILVA, 1995).
Nesse contexto, os estabelecimentos fabris de Caieiras caracterizavam essa área com um dos principais centros industriais dos arredores paulistanos na época. A fábrica de cal, em 1888 era considerada como uma das duas mais importantes da província.
Os centros urbanos foram adensados com a chegada de um grande número de trabalhadores que migravam das áreas rurais ou chegavam de países estrangeiros, motivados pelas oportunidades de trabalho oferecidas pela indústria. As moradias ocupadas por este contingente de trabalhadores encontravam-se, em sua maioria, em condições insalubres de habitação e eram frequentemente apontadas como responsáveis pela disseminação de doenças e maus hábitos. Preocupados com este cenário caótico dos centros urbanos, segores da sociedade concentravam-se em tentar solucionar ou amenizar estes problemas que julgavam colocar em risco toda a população urbana, Começavam a surgir ações que visavam solucionar estas questões como a propagação de novos conceitos de utilização do interior da casa e do espaço urbano levando em consideração as regras sanitárias, limpeza, arborização, drenagem, esgotos e abastecimentos e serviços públicos e construções de casas populares.
Entre as iniciativas de se construir casas para as famílias de operários percebem-se duas formas de empreendimentos diferentes. Uma era voltada à acomodação das famílias nos centros urbanos, constituindo-se normalmente de iniciativas de empreendedores imobiliários que recebiam diversos incentivos para estes investimentos como, por exemplo, isenções fiscais e facilidade para aquisição de materiais de construção. A partir da República, sobretudo, constituiu-se formalmente um mercado para construção de casas para aluguel (REIS FILHO, 1994). A outra forma de construir para operários era por iniciativa de empresas que, muitas vezes estavam estabelecidas em locais afastados dos centros urbanos e por este afastamento fazia-se necessário promover a fixação dos moradores no local, formando assim núcleos fabris muitas vezes providos de uma infraestrutura semelhante à de uma pequena cidade: " (...) muitas empresas criaram não só vilas mas verdadeiras cidadelas porque se estabeleciam em locais isolados onde inexistia mercado de trabalho ou cidades capazes de concentrar trabalhadores e oferecer o mínimo de serviços e equipamentos urbanos" (BONDUKI, 1998, p. 47). Os moradores destes locais eram muitas vezes confinados no interior dos núcleos, cujo acesso para estranhos era, muitas vezes, controlado (CORREIA, 1998).