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Foto do escritorMarcelo Augusti

A INTEGRAÇÃO DOS YAMAS E A PERFEIÇÃO NA CONDUTA




O propósito do Yoga é eliminar as impurezas causadas pelos processos de condicionamentos.

(Yoga Sutras II:28)



Renunciar à violência, à falsidade, ao roubo, à indulgência e à possessividade são os primeiros passos, e não menos importantes, daqueles que pretendem seguir pelas veredas do Yoga. Ahimsa (não violência), Satya (não falsidade), Asteya (não roubar), Brahmacharya (não indulgência) e Aparigraha (não possessividade), são as virtudes a serem praticadas pelos adeptos do Yoga.


Patañjali, no Yoga Sutras, nos alerta, entretanto, que tais virtudes não sejam apenas cultivadas ou praticadas como parte de uma moralidade social, algo que nos condiciona a agir de determinado modo e em determinadas circunstâncias, apenas para nos ajustarmos ao ambiente, como parte de um padrão de comportamento aprendido e que nos orienta, unicamente, para a conquista de interesses pessoais.


Pela tradição do Yoga, as virtudes emergem espontaneamente, a partir da compreensão de que a vida não é para ser conformada, porém, vivida com autenticidade. Assim, cultivar essas virtudes por mera questão de moralidade, não reflete em nada a vida que se vive a partir de nossa natureza espiritual.


A moralidade exige de nós o esforço para que possamos agir conforme uma conduta padronizada. Esta conduta padronizada exige de nós a continuidade de um comportamento social que, todavia, se altera, conforme às circunstâncias se apresentam e quem são os participantes envolvido na trama.


Ou seja, agir de modo violento, com falsidade, roubar, ser tolerante com os próprios erros ou erros alheios que nos favoreçam, e controlar e dominar o outro, no contexto da moralidade, ora podem ser expressões de um comportamento aceito socialmente, ora não. Dito de outro modo, os fins justificariam os meios.


A moralidade é um aspecto civilizatório que atua como auxílio no combate à nossa natureza material ou natureza adquirida. Ela nos impõe normas de condutas para não cedermos facilmente aos instintos e impulsos mais vis e deletérios. Por isso, há de se fazer um esforço muito grande para seguir as regras da moralidade, pois a tendência é sermos subjugados pela natureza material e reagirmos a tudo, em conformidade com o padrão de comportamento que adquirimos.


A natureza material é o componente inferior de nossa existência. Inferior no sentido de que não é estável, muda constantemente e está sujeita às variações de tempo, circunstância, pessoa e lugar. É o aspecto frágil e impermanente da vida, sujeito à transformações, e se colocarmos nessa natureza as nossas expectativas de paz, amor e felicidade, com toda a certeza haverá grandes frustrações e arrependimentos, pois nela nada perdura.


A vida autêntica somente pode ser vivida quando as ações estão fundadas em nossa natureza espiritual. Então, toda virtude não será mera condição para o alcance de algum propósito pessoal na vida; as virtudes simplesmente florescem a partir do despertar da consciência que, livre das impurezas de todos os condicionamentos materiais, reflete em si mesmo, a nossa natureza espiritual.


A natureza espiritual é imutável, permanente, estável e jamais se altera com tempo, pelas circunstâncias ou lugar. É somente nela que encontramos a paz, o amor e a felicidade. Em nossa natureza espiritual revela-se o verdadeiro propósito da vida, e não precisamos de nenhum esforço pessoal para aparentarmos alguma virtude ou buscar algo que já não seja aquilo que somos.


O Yoga nos diz que, quando estabelecidos nos Yamas, nossa conduta sempre será correta. Os Yamas se constituem naquilo que devemos evitar, naquilo que temos que nos abster para seguirmos com firmeza em nossa jornada de vida. Ahimsa, Satya, Asteya, Brahmacharya e Aparigraha são as bases de nossa conduta correta para com todos os seres vivos.


Os Yamas expressam a nossa natureza espiritual, e quando agimos com base nessa natureza, nossa ação é, em si mesmo, o nosso propósito. Ou seja, não agimos com alguma “segunda intenção”, mas apenas para fazer o que tem que ser feito, de acordo com a exigência da situação, de modo livre e autêntico. Há contentamento na ação pela ação, quando há harmonia entre o fazer e o que tem que ser feito.


Esta “ação sem propósito além da própria ação” (no taoísmo, denomina-se wu-wei), é a excelência da conduta humana. Logo, a “perfeição na conduta” somente pode ser realizada quando as nossas atitudes perante a vida refletem a nossa natureza espiritual que, então, se expressa pela integração dos Yamas. Isso significa que, quando estamos estabelecidos em um dos Yamas, estamos estabelecidos em todos.


Não é possível alcançar a “perfeição na conduta” apenas observando um dos Yamas e negligenciando outro. Vejamos um exemplo: posso agir sem violência, porém, agir com falsidade para subtrair algo, justificando o meu ato, sem, contudo, manipular as pessoas para alcançar meu objetivo. Podemos questionar se agir com falsidade não significa ter que manipular pessoas e, na manipulação, já não está implícita a violência. Isto é uma conduta falsa, por mais justificada que possa ser, e apenas reflete a nossa ignorância e egoísmo.


Quando não buscamos a satisfação egoísta de nossos desejos pessoais (Brahmacharya), não agimos com falsidade (Satya) e, assim, não temos qualquer interesse em tomar do outro aquilo que não nos pertence (Asteya); logo, não manipularemos ninguém (Aparigraha) e, portanto, não agiremos de modo ofensivo ou violento (Ahimsa). Eis a “perfeição na conduta”, que apenas aquele, cuja consciência está desperta, pode realizar.


Yamas, portanto, se refere àquilo que vem a nós pelo “mundo exterior”, e o modo como proceder corretamente, conforme os objetos e coisas se apresentam à experiência sensível. Somente quando houver a integração dos Yamas, haverá uma disposição genuína à prática das virtudes, que emergirá espontaneamente do nosso “mundo interior”; a nossa conduta, assim, será perfeita, a despeito de tempo, circunstância, pessoa ou lugar.


Hari Om Tat Sat.



O controle do externo é o início para o caminho da libertação.

(Viveka-Chudamani, 336)





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