A meditação, apesar de muitos benefícios adquiridos, é um exercício espiritual, não é uma prática terapêutica. Não meditamos para tratar distúrbios psicológicos ou para nos aliviar das frustrações do ego; meditamos para transcender o ego e compreender a nossa natureza divina (Hsu Yun)
Conforme as palavras do monge budista Hsu Yun, meditar não é para se alcançar algum estado pacífico da mente. É certo que tal estado de quietude é alcançado na meditação e, assim, podemos desfrutar da paz interior no momento de nossa prática. Porém, manter a mente quieta por alguns minutos, por si só, não é meditação.
Imaginemos um cavalo selvagem: se o encurralarmos, não significa que o domamos e ficará dócil. Ele poderá descansar do embate por alguns momentos, e parecerá tranquilo. Todavia, se abrirmos o portão, ele escapará com todo o seu vigor selvagem.
Assim é a mente: um cavalo selvagem que, quando não domada, sempre retorna ao estado de agitação, mesmo após os momentos de quietude proporcionado por uma prática meditativa equivocada.
Isso quer dizer que, pelo simples fato de sentar-se com as pernas cruzadas sobre uma almofada e permanecer em silêncio por alguns minutos, ninguém realizará o yoga – o estado de consciência unificado e desperto que reflete na alma a Luz Divina.
Quando o estado meditativo (dhyana) é alcançado, uma sensação espontânea de alegria toma conta de nós. A quietude não é capaz de gerar essa alegria fluida, mas apenas um torpor, que reduz a nossa sensibilidade e percepção. A mente embotada não se encontra sensível à percepção da Presença Divina na alma.
A meditação é um exercício espiritual e, como tal, jamais deverá ser realizada quando nos encontramos agitados ou perturbados. Necessário se faz estar descontraído, despreocupado, bem-disposto e calmo.
Assim, em um local onde se possa, por pelo menos alguns minutos, manter-se resguardado de possíveis interferências externas, o praticante deverá observar, basicamente, 3 pontos importantes:
(1) Postura, preferencialmente sentado, alinhando-se a coluna, mantendo-se firme e relaxado, sem rigidez e sem dor. A dor indica que a postura não está condizente com o que se pretende alcançar – um tranquilo permanecer, um sentar e esquecer. O alinhamento da coluna, mantendo-se o tronco ereto, facilita a expansão da caixa torácica e, consequentemente, amplia o movimento dos pulmões, potencializando a respiração;
(2) Respiração, justamente o segundo ponto a ser observado. A respiração deverá ser suave, seguindo o ritmo natural, sem ansiedade. Estar atento ao ritmo respiratório é um exercício fundamental para desenvolvermos a concentração. Há de se considerar que determinados pensamentos, sentimentos, sensações e emoções interferem na respiração, causando desconforto e prejudicando a atenção e a concentração;
Esses dois pontos – postura e respiração – são muito importantes. Se a manutenção da postura gera incômodos, não há como concentrar-se na respiração; se nos dispersamos em meio aos pensamentos, sentimentos, sensações e emoções, perdemos a atenção.
Portanto, o domínio da postura e o controle da respiração são fundamentais para a prática meditativa, caso contrário, sucumbiremos às sensações corporais e aos conteúdos mentais. Quando falamos em meditação, o corpo e mente mantem-se em quietude, para que a alma desponte no silêncio.
Há de se resistir a qualquer impulso que nos faça desistir como, por exemplo, os pensamentos que surgem nos cobrando sobre as tarefas do dia, ou à sensação de “formigamento” em alguma parte do corpo. Entretanto, é melhor parar e resolver o que perturba (seja no corpo ou na mente), do que ficar “lutando” contra uma causa perdida - a agitação exigente.
Por último, o terceiro ponto:
(3) Constância, que é a capacidade de persistir, de se esforçar com afinco, empenhado no firme propósito de “domar o cavalo selvagem”. Isto não é algo que se consegue da noite para o dia; para alcançar o estado meditativo, o tranquilo permanecer, é necessário praticar diariamente, disciplinar o comportamento. O momento do dia reservado para a meditação deverá ser aguardado com alegria, jamais como uma obrigação.
Lembramos que o resultado de uma prática meditativa é o afloramento de uma alegria fluida, acompanhado de uma sensação de serenidade que brota da alma. É apenas nesse estado de tranquilo permanecer que emergirá a virtude do discernimento (viveka), que nos conduzirá à sabedoria da vida.
Hari Om Tat Sat.
A quietude gerada pela mente não é meditação, é estagnação; mas o silêncio que surge quando a mente compreende a sua essência de clareza e tranquilidade, isto é meditação
(Jiddu Krishnamurti)
Comments