O rei Dasaratha, suas rainhas (Kaushalya, Kaikeyi e Sumitra)
e seus filhos Rama, Bharata, Satrughna e Lakshmana)
Veda é um Poema Cósmico: quanto mais conhecemos, mais conhecemos o Veda, e quanto mais conhecemos o Veda, mais conhecemos (Tulsi Ram)
A Cosmogonia hindu adverte-nos que estamos vivendo a Era de Kali (Kali-yuga a Era da Escuridão). Trata-se de tempos sombrios, onde a virtude, a sabedoria e a religião declinaram assustadoramente, onde o mal e a mentira predominam em 75% das atitudes humanas e circunstâncias da vida, e o bem e a verdade em apenas 25%.
Conforme a Cosmogonia hindu, Kali-yuga corresponde à quarta e última Era Cósmica, aquela em que o Universo será, irremediavelmente, destruído pela maldade que tomou conta do coração dos seres humanos. Kali-yuga, portanto, marca o fim de um Ciclo Planetário, onde o Espírito Universal (Brahman) se manifestou plenamente em suas infinitas formas e nomes.
Ao fim desse tempo, todavia, embora tudo se acabe, tudo volta ao início. E no início de um novo ciclo, a virtude, a sabedoria e a religião estarão novamente presentes em 100% das atitudes humanas e circunstâncias da vida. Este “recomeço” é a Era de Satya (Satya-yuga a Era da Iluminação), onde Vrishabha (o touro que simboliza o Dharma), sustenta o mundo manifestado, apoiado em suas quatro patas.
Cada era cósmica tem um tempo definido, que declina tento em duração quanto em presença da Luz Divina na vida dos seres manifestados. Satya-yuga é a mais longa de todas e a mais iluminada. A era seguinte, a segunda do ciclo, é Treta-yuga, que tem início com o declínio da ética e da moralidade, onde o mal e a mentira passam a predominar em 25% das ações e circunstâncias da vida humana. Aqui, Vrishabha apoia-se em apenas três de suas quatro patas.
Com o avanço da decadência ética e moral da humanidade, entra-se em Dvápara-yuga, a “era de dois”, o que significa que a verdade está presente em 50% das ações e circunstâncias da vida, enquanto a mentira, prevalece em outros 50%. O touro do Dharma se apoia, agora, em duas patas. A ignorância contrabalança-se ao conhecimento.
Em Satya-yuga, vive-se em perfeita harmonia com o Dharma. Os Vedas habitam o coração dos seres, que agem espontaneamente conforme os ensinamentos da Sabedoria Divina. Os Vedas correspondem às escrituras religiosas tradicionais do hinduísmo que apontam para "o caminho espiritual único e eterno" (Sanátana-Dharma).
A palavra ‘Veda’ significa conhecimento. Veda, portanto, é Conhecimento. É derivado da raiz sânscrita vid, cujo significado é: ‘ser, saber, investigar e se beneficiar de’. Tudo o que existe é Veda, o próprio mundo fenomênico é Veda. O conhecimento do mundo fenomênico é Veda. O pensamento, a investigação da essência, a reflexão sobre a existência e a vida, tudo é Veda. Usar o conhecimento em benefício da humanidade com a proteção e preservação da natureza, sem prejudicar nenhuma forma de vida, isto é Veda.
Veda é conhecimento puro e simples, a quintessência de tudo o que existe, tudo o que acontece, tudo o que nós somos, tudo o que fazemos e tudo o que colhemos em consequência das nossas ações. Trata-se do conhecimento Original e Universal da Realidade da Existência e dos ideais aos quais aspiramos, os processos do vir-a-ser, suas interações e as leis que operam nessas interações. Em resumo, Veda é a Voz do Silêncio, conhecimento pleno, abrangente e profundo, livre de complexidades locais e de variações históricas de significados.
Os Vedas foram escritos em sânscrito. Sânscrito é uma língua ancestral da Índia, mais antiga que o latim e o grego. Samskrtam significa 'compor, arranjar, preparar, criar'. Samskrtam vak quer dizer "idioma refinado", conhecido e utilizado apenas por pessoas altamente instruídas e autorrealizadas no conhecimento religioso (brâmanes). O sânscrito é também denominado de Devabasha, "a língua dos deuses".
Os Vedas contém ensinamentos eternos. Em suas fórmulas místicas (mantras), cantadas ou recitadas em rituais religiosos, os Vedas nos ensinam sobre o autocontrole dos sentidos, a união com o Divino, a exortação aos deuses para proteção, o caminho para a vida plena e a imortalidade.
Quatro são os Vedas: Rigveda (conhecimento do Absoluto / Jñana), Yajurveda (conhecimento da ação / Karma), Samaveda (conhecimento da devoção / Bhakit) e Atharvaveda (conhecimento para a vida plena / prosperidade e prazer / Artha e Kama).
Com os indícios da primeira decadência da moralidade humana, todavia, a Sabedoria Divina decidiu tomar nome e forma. Em Treta-yuga, os Vedas se personificaram em quatro seres humanos: Rama, Lakshmana, Bharata e Satrughna. Esses quatro irmãos eram filhos de Dasaratha, rei de Ayodhya, “a cidade que não podia ser vencida em batalhas”.
O poema épico Ramayana narra os acontecimentos dessa era, Treta-yuga, em que os Vedas se manifestaram na forma humana. Rama, avatar de Vishnu, simbolizava o Rigveda, personificando os mantras sagrados do conhecimento do Absoluto; Lakshmana, o irmão mais próximo e companheiro inseparável de Rama, simbolizava o Yajurveda, adorava a “divindade com forma”, contemplava os mantras da ação e os colocava em prática; Bharata personificava o Samaveda, cantando com sentimento, ritmo e melodia os mantras da devoção, adorando a “divindade sem forma”; por fim, Satrughna, simbolizando o Atharvaveda, conquistou, com o entoar ritualístico dos mantras da proteção e prosperidade, tanto o mundo físico quanto o controle da mente.
A encarnação dos Vedas no Treta-yuga não foi por acaso. A humanidade estava em risco de extinguir-se, pois Ravana, o terrível e temido rei dos demônios, assolava a Terra, com suas implacáveis legiões do mal. Coube aos sábios Vasishtha e Vishwamitra declarem ao mundo a mensagem de libertação dos Vedas em sua encarnação na forma humana como Rama, Lakshmana, Bharata e Satrughna.
O Ramayana nos ensina que os Vedas têm "nome e forma", e não são apenas palavras ao vento, conceitos inúteis ou meras abstrações fantasiosas. As atitudes dos quatro filhos de Dasaratha, narradas no Ramayana, estabeleceram o ideal de conduta de todo ser humano consciente de seus deveres. Pelo estudo dos Vedas e a prática de seus ensinamentos, o ser humano adquire discernimento sobre a verdade e a realidade, liberta-se das ilusões do mundo fenomênico e realiza, por fim, a união com o Divino (yoga), livrando-se dos infindáveis ciclos de nascimento e morte.
Nesta era de Kali, a discórdia e o conflito estão exacerbados; o ódio prevalece no coração das pessoas e o mundo caminha para a dissolução final. Para aqueles que buscam o conhecimento da verdade, todavia, e permanecem firmes na unidade do Brahman Supremo, estes serão como os rios que correm para o oceano: embora tenham distintos nomes e percorram diversos tipos de terrenos que lhes dão inúmeras formas, ao desaguarem no oceano, todos eles se tornam o próprio oceano.
Hari Om Tat Sat.
Então Satyakāma questionou Pippalāda: "Ó Senhor, que mundo conquista aquele que, entre os homens, medita na sílaba Om (AUM) até sua morte?" Pippalāda respondeu: "ó Satyakāma, Om (AUM) é verdadeiramente Brahman "com forma" e "sem forma". Portanto, o homem sábio que medita por este meio, de fato, alcança qualquer um deles.”
Se ele meditar sobre uma sílaba (A), ele retorna logo a este mundo ao ser iluminado por ela. Os hinos do Rig-veda (a sílaba A) conduzem-no ao mundo dos homens. Sendo dotado de austeridade, continência e fé ele experimenta poderes.
Mas se ele meditar sobre as duas sílabas (A + U), torna-se unido à mente. Ele é levado pelos hinos do Yajur-veda ao mundo lunar, no espaço intermediário, e daquele mundo lunar, tendo experimentado poderes, ele retorna ao mundo dos homens.
Quando ele medita no supremo Purusa através da sílaba Om, constituída de três mātrās (A + U + M), torna-se unido ao sol refulgente. Ele fica livre de todos os pecados, assim como uma cobra se livra de sua pele. Ele é levado ao mundo de Brahmā pelos hinos do Sāma-veda. Desse Self Macrocósmico (Hiranyagarbha), ele contempla o Supremo Purusa residente no coração.
Os três mātrās quando empregados separadamente são perecíveis; mas quando estão unidos, são empregados corretamente. Quando são devidamente empregados em todos estados, interno, externo e intermediário, o conhecedor não se abala.
Pelo Rig-veda (A) este mundo é alcançado, pelo Yajur-veda (U), o mundo Lunar é alcançado, e pelo Sāma-veda (Ṃ), é alcançado aquilo que é conhecido apenas pelos sábios. O que é pacífico, imperecível, imortal, destemido e supremo, o sábio alcança por meio deste Om.
(Prashna Upanishad, 4; 1-7)
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