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Foto do escritorMarcelo Augusti

A RESISTÊNCIA ESPECÍFICA EM CORREDORES DE 5.000m e 10.000m

Atualizado: 18 de ago. de 2022



Resumo: A capacidade do atleta especialista nas provas de fundo do Atletismo em manifestar um elevado nível de resistência, força e velocidade durante as disputas atléticas é proveniente da especialização morfofuncional induzida pelo treinamento da Resistência Específica. Os atletas que se encontram preparados adequadamente para a competição esportiva apresentam alto grau de desenvolvimento da Resistência Específica, sendo esta a condição fundamental para o sucesso nas corridas de fundo.


1. A resistência específica e as tarefas da preparação esportiva

Nas provas de fundo do Atletismo, a capacidade de Resistência é o fator que exerce a maior influência para o sucesso competitivo.


A capacidade de Resistência apresenta variadas formas de expressão nas corridas de fundo. Didaticamente, e simplificando, podemos fazer a seguinte classificação da capacidade de Resistência nas corridas de fundo: 1) resistência aeróbia; 2) resistência específica.


A resistência aeróbia é expressa pelos valores do consumo máximo de oxigênio (VO2max), constituindo-se na base fisiológica da formação do atleta de corridas de fundo. É a capacidade cardiovascular e respiratória do organismo em prover aos músculos do atleta uma suficiente quantidade de oxigênio para a realização do trabalho mecânico de longa duração e alta intensidade em regime aeróbio.


A resistência específica manifesta-se pelos parâmetros fisiológicos expressos pelo limiar de lactato e seu correspondente percentual em relação ao VO2max. Os ajustes bioquímicos que ocorrem nas fibras musculares, induzidos pelo treinamento específico da modalidade, permitem o alto grau de especialização morfofuncional do organismo, que se torna apto a enfrentar as exigências típicas das diversas distâncias competitivas.


Portanto, dentre as formas de manifestação da capacidade de Resistência do atleta fundista, os parâmetros relacionados à sua aptidão em manifestar o condicionamento que seja característico a uma dada disciplina atlética, são fundamentais para a obtenção do melhor rendimento competitivo.


O objetivo da preparação esportiva nas corridas de fundo, portanto, é elevar gradualmente o nível de condicionamento orgânico do corredor até a obtenção de um patamar de desenvolvimento da sua capacidade atlética (resistência específica) que lhe permita manifestar o alto grau de aperfeiçoamento dos atributos necessários para a participação nos eventos competitivos.


No início da preparação para a competição o atleta não está apto a percorrer toda a distância competitiva no ritmo exigido pela sua disciplina atlética. Para melhorar o rendimento, o atleta necessita realizar treinamentos específicos que lhe darão o suporte fisiológico ideal para a realização esportiva. A base do treinamento do corredor fundista é o desenvolvimento da resistência aeróbia; porém, a especialização morfofuncional do organismo ocorrerá por conta da utilização de meios e métodos de preparação que sejam específicos a cada disciplina atlética. Logo, o tipo de treinamento para se obter a condição atlética necessária para enfrentar com êxito as exigências de uma competição de 5.000 m e 10.000 m no Atletismo, deve estar direcionado para o desenvolvimento da resistência específica.


A Resistência Específica (RE) pode ser definida como a capacidade do atleta em manifestar um elevado nível de condicionamento nas condições típicas do exercício competitivo. Isto é, o atleta está preparado para enfrentar as exigências características de sua especialidade.


As tarefas da preparação para a competição, portanto, devem prever exercícios que se aproximem ao máximo da estrutura peculiar que é característico da modalidade competitiva para o qual se está treinando. Tanto a intensidade quanto a duração dos estímulos provenientes dos treinos para o desenvolvimento da RE devem ser ajustados de modo que esses parâmetros fiquem muito próximos da condição específica da modalidade.


Assim, é fundamental que o planejamento do rendimento atenda eficazmente às exigências da competição e seja elaborado conforme o nível de condicionamento de cada atleta em particular.


2. Determinação do nível de condicionamento atlético (prognóstico do desempenho)


O nível de condicionamento atlético deve ser determinado por meio de testes físicos de caráter específico, que sejam capazes de reproduzir total ou parcialmente as exigências da disciplina atlética para o qual se está treinando. Os testes servem como parâmetros para orientar o treinamento (estipular o melhor ritmo de corrida), e como prognóstico do rendimento competitivo (qual marca poderá ser obtida na competição).


Para os atletas especialistas na distância de 5.000 m o teste sugerido é a corrida na distância de 1500 m; para os especialistas em 10.000 m, o teste será realizado por meio da corrida de 3000 m. As distâncias propostas para os testes servem como base para o prognóstico do rendimento nas distâncias competitivas e como meio de orientação para o treinamento.


As distâncias de 1500 m e 3000 m, portanto, aproximam-se das exigências de força, velocidade e resistência que são típicas das provas atléticas de 5.000 m e 10.000 m respectivamente. Por meio delas, podemos determinar a condição atlética do corredor e a sua expectativa em relação ao rendimento competitivo.


Os testes devem ser realizados após o devido aquecimento e na pista de Atletismo. Os atletas devem percorrer as distâncias propostas a cada caso no menor tempo possível, no máximo de suas possibilidades de momento.


Teste de 1500 m = para os especialistas em 5.000 m

Teste de 3000 m = para os especialistas em 10.000 m


Após a realização do teste, anota-se o tempo para a realização do cálculo do prognóstico do rendimento. Aplicam-se as seguintes fórmulas:


Prognóstico 5.000 m = tempo 1500 / 0,27

Prognóstico 10.000 m = tempo 3000 / 0,28


O tempo é dado em minutos e os segundos devem ser transformados em decimais. Para isso, basta dividir os segundos por 60. Exemplo: 1500 em 3’36” passa a ser 3,6 (36 / 60). Para calcular o prognóstico do rendimento, aplica-se a fórmula e os decimais são multiplicados por 60:


Prognóstico 5.000 = 3,6 / 0,27

Prognóstico 5.000 = 13,33 (0,33 x 60)

Prognóstico 5.000 = 13’19”


Portanto, para um atleta que tenha como marca no teste de 1500 m o tempo de 3’36” o mesmo apresentará uma condição atlética que o possibilite a percorrer os 5000 m em 13’19”. Lembremos que esse é um valor estatístico, que deve ser comprovado durante as sessões de treinos específicos. Na prática, devido a outras variáveis fisiológicas e biomecânicas, além das condições climáticas e característica de percurso, o atleta poderá estar acima ou abaixo desse prognóstico.

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3. Avaliação da Resistência Específica


Para avaliar a RE o atleta será submetido a testes de corridas pelo método fracionado. Por esse método, o atleta deverá percorrer a distância total de sua especialidade, porém, dividida em frações.


A intensidade em que cada trecho será percorrido é correspondente ao ritmo médio obtido no teste de prognóstico do desempenho ou Velocidade Média de Performance (VMP). As pausas de recuperação entre cada trecho são breves, apenas o suficiente para aliviar a tensão muscular.


Na tabela abaixo seguem os parâmetros para a avaliação da RE dos atletas especialistas nas distâncias de 5.000 m e 10.000 m.



A seguir apresentamos um exemplo prático para ilustrar a teoria proposta:


a) Determinação do Prognóstico do Rendimento (PR)


Atleta especialista em 5000 m percorre a distância de 1500 m em 3’36”;


PR 5000 = 3 (36 / 60) / 0,27

PR 5000 = 3,6 / 0,27

PR 5000 = 13,33 (0,33 x 60)

PR 5000 = 13’19”


b) Cálculo da VMP


VMP = 13 x 60 + 19 = 799 seg

VMP = 5000 / 799 = 6,25 m / seg

VMP = 6,25 m / seg


O ritmo corresponde a VMP = 6,25 m / seg. Para calcular o ritmo, basta dividir as distâncias pela velocidade proposta (1500 / 6,25; 800 / 6,25; 400 / 6,25). O resultado será dado em segundos. Transformando para minutos, temos o seguinte:


1500 m = 4’00” / pausa 30”

1500 m = 4’00” / pausa 30”

800 m = 2’08” / pausa 20”

800 m = 2’08” / pausa 20”

400 m = 1’04”


Para o nosso atleta hipotético, esses são os valores bases (ritmo de competição) para o treino específico, que deve ser realizado no período pré-competitivo (ou polimento), em uma ou duas sessões para observação e possíveis ajustes. Trata-se de um treino que exigirá do atleta muita disposição e foco, exigindo, portanto, de muita intensidade física e psicológica.


O ritmo intenso e as breves pausas recuperativas, além de servirem de parâmetros para a avaliação da RE dos atletas fundistas, também são fundamentais para determinar o seu Índice de Resistência Específica (IRE).


O IRE é a diferença entre a VMP obtida no teste (VMPteste) e a VMP do treino específico (VMPtreino). Para determinar o IRE, portanto, basta fazer a somatória do ritmo real executado em cada fração e dividir o resultado por 5.


Supondo que o nosso atleta hipotético tenha obtido os seguintes desempenhos no treino específico (VMPtreino):


1500 m = 3’55” // 6,38 m / seg

1500 m = 4’10” // 6,00 m / seg

800 m = 2’12” // 6,06 m / seg

800 m = 2’15” // 5,92 m / seg

400 m = 1’08” // 5,88 m / seg


Seguem os cálculos do VMPtreino:


VMPtreino = 6,38 + 6,00 + 6,06 + 5,92 + 5,88 / 5

VMPtreino = 6,04 m / seg


Agora, o IRE será obtido pelo seguinte cálculo:


IRE = VMPtreino / VMPteste

IRE = 6,04 / 6,25

IRE = 0,96


Estimativa para 5000 = 13’48” (5000 / 6,04).


Assim, pelo teste e pelo treino específico, o atleta estaria apto a correr os 5000m entre 13’19” (expectativa otimista e ideal) a 13’48” (expectativa conservadora e real).


Pelo IRE, quanto mais o atleta se aproxima do valor 1,0 maior o nível de desenvolvimento de sua RE. Pela metodologia proposta, consideramos que valores acima de 0,95 indicam que o atleta encontra-se em condições atléticas adequadas para cumprir as exigências psicofisiológicas das distâncias competitivas.


Considerações Finais

O conhecimento das possibilidades de rendimento dos atletas fundistas é fundamental para a elaboração de programas de treinamento cada vez mais eficientes e eficazes. A individualidade do atleta deve ser respeitada sempre e os testes específicos trazem informações que permitem ao técnico esportivo uma análise das condições reais do seu atleta e de suas possibilidades de êxito no futuro. O desenvolvimento da RE deve ser o objetivo a ser alcançado durante a preparação para a competição, e o planejamento do rendimento esportivo deverá ser capaz de proporcionar aos atletas a melhor atuação possível nas provas de fundo do Atletismo.


Fonte: Wix


Bibliografia Recomendada


BOMPA, T. Periodização do Treinamento.

MARTIN, D. e COE, P. Entrenamiento de Corredores de Fondo y Médio Fondo.

PLATONOV, V. El Entrenamiento Deportivo: Teoría y Metodología.

PLATONOV. V. Teoria Geral do Treinamento Desportivo Olímpico.

VERKHOSHANSKI, Y. Treinamento Desportivo: Teoria e Metodologia.



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