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Foto do escritorMarcelo Augusti

AS TRÊS ETAPAS DO TREINAMENTO ESPORTIVO


Não sonhe em vencer, treine para isso

(Mo Farah)


Qualquer corredor que deseja fazer sucesso em sua principal distância competitiva, deve considerar as três etapas básicas do processo do treinamento esportivo: (1) treinar para treinar, (2) treinar para competir e (3) treinar para ganhar.


Treinar para treinar é o primeiro momento da preparação de qualquer corredor, de qualquer nível de qualificação. Nesta primeira etapa, o corredor irá desenvolver, por meio de uma preparação geral ampla, a sua aptidão física. Ou seja, treinar para treinar significa melhorar, de um modo geral, a resistência, a força, a velocidade, a flexibilidade e a coordenação, que são capacidades físicas básicas. De modo gradual e progressivo, treinar para treinar promove o aumento e a melhora do condicionamento físico geral do corredor, preparando-o para suportar as cargas específicas de maiores intensidades e volumes que serão aplicadas nas duas próximas etapas.


Esta é a etapa fundamental da preparação de longos anos, indicada aos corredores iniciantes, e pode ter uma duração de 2 a 4 anos. Para não se precipitarem as lesões, recorrentes de treinos mais duros e intenso, o corredor iniciante necessita acostumar-se com a rotina de exercícios físicos e habituar o seu organismo a exercitar-se regularmente. Além da corrida, ele deve realizar treinos de efeito abrangente, como o treino com pesos, a natação, o ciclismo, Pilates e a ginástica geral para aumentar a sua aptidão física. Assim, além de desenvolver hábitos motores mais eficazes e rotinas de treinamento consistentes, suas reservas de energia serão ampliadas e seus órgãos e sistemas irão trabalhar em um nível mais elevado de capacidade funcional que o possibilite sustentar cargas específicas e de maiores intensidades.


Esta primeira etapa é fundamental na preparação do corredor e jamais deverá ser negligenciada, pois é a base geral do treinamento de corrida. Vencida esta etapa, o corredor terá um novo desafio, agora que já apresenta uma ampla melhora na sua condição física geral.


Treinar para competir é a segunda etapa da preparação para a corrida. O corredor agora se encontra em um nível ampliado de sua capacidade orgânica e, portanto, está apto a receber uma carga de treinamento específica que o qualifique para a participação em um evento competitivo.


A duração desta etapa também é variável, conforme a capacidade individual em ajustar-se às cargas de treinamento e o nível de condicionamento obtido nesse momento da preparação. Fatores como a variação da carga (intensidade, volume, frequência) e a manipulação correta dos meios e métodos de preparação, irão conduzir o corredor a um estado de treinamento favorável às disputas atléticas. Nessa etapa, as habilidades individuais devem ser exploradas em seu máximo e o treinamento será direcionado para aquilo que o corredor tem de melhor, definindo qual(ais) a(s) distância(s) competitiva(s) que mais tem a ver com as suas características.


Portanto, quanto mais treinável for um corredor, ou seja, quanto mais rápido ele responde às cargas de treinamento e quanto maior a sua capacidade funcional, menor será o tempo necessário para entrar em forma atlética para as disputas competitivas. Para que as cargas de treinamento sejam absorvidas pelo organismo de um modo gradual e progressivo, sem incorrer em lesões, treinar para competir tem uma duração de 1 a 2 anos, a depender da distância competitiva e da capacidade adaptativa do corredor. Provas longas, como a maratona, exigem tempos maiores de preparação, já que os ajustes biomecânicos e fisiológicos exigem mais tempo para serem incorporados.


Aqui, quando o corredor apresenta-se em condições para treinar para competir, há um ponto interessante: como saber quando se está apto a competir?


Essa questão é fundamental para determinar a direção do processo de treinamento do corredor. Ele pode, simplesmente, participar apenas por participar, sem maiores pretensões; por outro lado, ele pode querer competir, isto é, apresentar uma determinada performance que o possibilite a um determinado resultado competitivo.


A participação sem maiores pretensões, a não ser aquela que garanta a finalização do percurso em um bom estado físico e emocional, é o que a maioria dos corredores não profissionais almeja. Esses corredores querem desfrutar dos benefícios da promoção da saúde e a consequente melhora da qualidade de vida, que pode ser proporcionada pelo exercício físico contínuo e regular. Um plano de treinamento que vise a essa intenção de participação, embora elaborado de modo específico a cada corredor, apresentará uma rotina menos rigorosa do que aqueles que competem para alcançar resultados competitivos.


Alguns corredores, entretanto, almejam algo mais além de finalização de uma disputa atlética em boas condições. Para eles, a aquisição de uma performance mais elevada é importante para a satisfação de seus desejos competitivos. Nesse caso, para o corredor que pretenda o alcance de uma marca pessoal, para saber se está em condições de pôr à prova a sua capacidade atlética com a de outros corredores, inicialmente basta comparar o nível técnico médio de uma disputa com o próprio rendimento atlético.


Ou seja, se as exigências medianas de uma disputa de 10 km, por exemplo, correspondem a um tempo de finalização de percurso de 45 min, o corredor deverá treinar para alcançar essa marca ou estar o mais próximo dela. Assim ele estará em condições de competir com outros corredores que se encontram no seu mesmo nível de qualificação e, entre as disputas individuais que a prova lhe oferecerá, o corredor irá obter a satisfação pelo esforço realizado, seja pela marca alcançada ou pelo resultado obtido.


O nível técnico de uma disputa também pode ser observado não apenas em relação às marcas gerais de um evento competitivo, porém, pelos resultados das faixas etárias, o que aumenta a oportunidade do corredor competir com outros que, além das marcas pessoais, têm em comum a idade cronológica.


É importante para a satisfação emocional que o corredor conheça as suas limitações e entre consciente de suas possibilidades na disputa. Ele não deve se enganar ou se iludir, imaginando coisas que, possível e provavelmente, não irão acontecer. Isso gera apenas frustação e, em casos mais graves, o abandono definitivo da prática da corrida, por não conseguir realizar uma expectativa que não condiz com a sua realidade naquele momento.

Alguns indivíduos apresentam uma capacidade orgânica maior que os demais, além de responderem de um modo mais rápido e eficiente ao exercício físico regular e contínuo. São altamente treináveis e dispostos mentalmente a enfrentarem a rudeza cotidiana do treinamento de corrida que visa os resultados superiores.


Esses corredores, se devidamente orientados em relação aos meios e métodos de preparação e sua distribuição periódica ao longo da temporada competitiva, juntamente com as condições materiais adequadas, provavelmente se tornarão grandes atletas, recordistas e vencedores das disputas mais acirradas. Não importa em que idade alcancem o topo, em algum momento eles serão destaques nos eventos em que participam e fonte de inspiração aos demais. São esses corredores que avançam para a terceira etapa.


Treinar para ganhar é a terceira etapa da preparação para a corrida e são poucos aqueles que se lançam a este desafio. É o ‘viver para competir e o competir para vencer’. Para esses corredores, o que importa é a vitória e o rendimento máximo e nada mais. Sua imagem vitoriosa é explorada por patrocinadores que associam o sucesso deles à marca da empresa. São profissionais do esporte e fazem da corrida o seu trabalho. Uns ganham muito dinheiro com seus feitos e se tornam celebridades mundiais, já outros, nem tanto. Porém, todos têm algo em comum: a força mental para superar os mais duros desafios da preparação, os mais ousados concorrentes durante as disputas mais rigorosas e nos percursos mais hostis.


O corredor que decide treinar para ganhar deve considerar seriamente o longo e doloroso percurso até o sucesso. O primeiro item a ser observado nesta jornada é o nível técnico da disputa, ou seja, quais as exigências da distância competitiva que ele necessita suprir para tornar-se um possível e provável vencedor, e se ele possui os pressupostos fisiológicos, biomecânicos e psicológicos necessários para ser incluído nesse círculo restrito.


Assim, por exemplo, para vencer uma maratona de alto nível técnico no Brasil, o corredor tem que ser capaz de percorrer a distância na casa de 2h20min, que é a marca provável dos possíveis ganhadores na maioria das provas disputadas no Brasil, a depender das condições climáticas e altimétricas, dos adversários e, principalmente, do prêmio em disputa. Quanto mais alta a premiação, mais adversários de peso na disputa e, como consequência, maior será a exigência em relação à performance e ao resultado competitivo – maiores, portanto, as exigências físicas e emocionais. No caso das disputas entre as corredoras, a marca a ser alcançada para estar entre as prováveis vencedoras está na casa de 2h40min.


Entretanto, esse mesmo corredor, para disputar a maratona em uma Olimpíada ou um Campeonato Mundial, deverá ser capaz de alcançar a marca mínima de 2h11min30seg, apenas para participar da competição. Caso sua pretensão seja maior – o ouro olímpico ou o título de campeão mundial – sua marca pessoal terá que vencer a barreira das 2h06min, provavelmente. Entre as corredoras, a marca mínima para participação é de 2h29min30seg. Essas marcas são os índices atuais de qualificação da Federação Internacional de Atletismo.


Para treinar para ganhar, o corredor terá que se dedicar pelo menos de 5-7 anos ou até 12-15 anos de sua vida para obter os índices de performance necessários que satisfaçam as exigências cada vez mais elevadas das disputas atléticas. E não é qualquer um que está disposto a passar anos treinando, treinando, treinando... E sem qualquer garantia de que o resultado será o esperado, pois no caminho há muitos obstáculos e surpresas nem sempre agradáveis.


Assista ao desabafo do atleta olímpico Altobeli dos Santos Silva:


Tanto para os corredores que cumprem a sua missão de finalizar o percurso com um sorriso no rosto, satisfeitos com seus desempenhos que lhe garantam um domingo de lazer junto aos amigos, quanto para aqueles que, após muitos anos de dedicação alcançam uma vitória incontestável em uma disputa importante, a corrida é capaz de proporcionar alegrias, amizades e autoconhecimento.

As etapas do treinamento que aqui foram mencionadas referem-se à preparação a longo prazo. Portanto, dizem respeito a uma carreira esportiva de muitos anos de treinamento. Todos os corredores passam pela primeira etapa, que é a base de todo o processo de preparação. Muitos avançam para a segunda etapa; porém, poucos são aqueles que se entregam à terceira etapa. O cume dessa pirâmide é apenas para aqueles que detém os atributos que os distinguem em capacidade e qualidade em relação aos demais. São os eleitos do Olimpo.

Observados os benefícios da corrida sobre o organismo humano, e consciente de suas possibilidades, probabilidades e das etapas do processo de treinamento esportivo, qualquer indivíduo poderá fazer da corrida uma filosofia de vida, um estilo de viver que garanta o bem-estar por muitos anos. Como se dizia antigamente, se correr não acrescentar anos em sua vida, pelo menos acrescentará vida em seus anos!









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