Aqueles que fixam suas mentes em Mim e sempre se dedicam à Minha devoção com fé inabalável, considero-os os melhores iogues. E aqueles que são sensatos, discretos e imparciais em todos os lugares, tais pessoas, engajadas no bem-estar de todos os seres, também Me alcançam (Bhagavad Gita)
Como sabemos, yoga é o processo de unir o Humano ao Divino, a Terra ao Céu, a consciência individual à Consciência Universal. O Ser Supremo, em sua infinita compaixão e sabedoria, provê aos seres humanos, diversas vias de acesso ao yoga. Assim, cada indivíduo tem à sua disposição, variados meios e métodos para o cumprimento da meta mais elevada da vida humana: a união da alma com o Ser Supremo.
As quatro principais vias de acesso ao yoga, descritas no Bhagavad Gita, são: Karma yoga, Jñana yoga, Raja yoga e Bhakti yoga. No post de hoje, finalizamos a explanação das quatro vias do yoga.
Bhakti yoga
A via da Devoção ou Bhakti yoga diz respeito a um sentimento fervoroso ao Divino, expresso em uma dedicação completa ao serviço à divindade. Trata-se de um intenso zelo religioso, uma entrega da alma a uma promessa solene de observância sincera às práticas espirituais.
A via da Devoção é considerada o caminho mais simples para a liberação da alma do apego às atividades mundanas, pois basta “amar ao Divino acima de todas as coisas”, relacionando-se com Ele a partir de uma profunda conexão que deve ser fonte de alegria, compreensão e generosidade ilimitadas.
Esta relação devocional com a divindade, todavia, não é estanque, cultivada em templos ou retiros, oculta aos olhos da sociedade. Ela deve se manifestar naturalmente na vida cotidiana do devoto. Ou seja, aquele que ama ao Divino com toda a sua disposição física e mental, também ama, na mesma intensidade e sinceridade, a todas as pessoas, a todos os seres vivos e a natureza.
Assim, o devoto ama a todos, e não odeia ninguém; e isso o deixa em paz e feliz para sempre. O amor devocional não pode ser reduzido a qualquer benefício pessoal ou exclusivo, pois, enquanto durarem os desejos pelas coisas e objetos mundanos, o amor devocional não se realiza. Bhakti, pelas suas características, é o fim do processo de todas as vias do yoga.
Recapitulando, em termos gerais: Karma é a renúncia aos resultados dos próprios esforços, quando consagramos ao Divino às nossas ações; Jñana conduz ao conhecimento de si mesmo, ou seja, da alma como expansão do Divino, sempre em harmonia com o Universo e a divindade; Raja nos habilita a repousar no Ser Supremo, elevando a consciência individual aos patamares da Consciência Universal.
Cada uma dessas vias nos possibilita a reconexão com o Divino. Entretanto, não basta apenas estar conectado à divindade; se em nós não brotar um amor ardente e um respeito profundo e sincero pelo Divino e, mais ainda, se esse amor não transbordar para todos os seres sencientes e à natureza, abarcando a tudo e a todos, o processo do yoga não se realiza em sua plenitude.
Por isso se afirma que Bhakti é a conclusão natural do yoga, pois quem se conecta ao Divino, cedo ou tarde o amor pela humanidade nele se realizará. O êxtase do amor divino supera a fragilidade do raciocínio lógico, que a tudo fragmenta para tentar entender; o amor divino a tudo integra e compreende em sua total abrangência. O devoto sente o Divino, desfruta a divindade.
O perigo da via da Devoção está no charlatanismo e no fanatismo religioso. Há muitos que se intitulam “guias espirituais”, independente de qual categoria religiosa pertençam. Aproveitando-se da fragilidade psicológica de quem os procura em seus “templos”, esses falsos profetas anunciam o caminho da salvação.
Porém, vejamos: é pelo fruto que se conhece a árvore. O que um falso guia espiritual pode ensinar, a não ser falsidades? Pois ninguém vislumbra a divindade enquanto não purificar seu coração. Logo, não se pode ter tido uma experiência com o Ser Supremo e, ao mesmo tempo, pregar o ódio e a mentira. Há uma contradição que não deixa dúvidas sobre o caráter do “mestre”.
Todavia, a ignorância, enquanto enraizada na alma, obscurece o discernimento. Muitos são os que se perdem no caminho da devoção, por acreditarem cegamente nas palavras proferidas por um falso líder religioso. O fanatismo religioso, instigado pela liderança maléfica, se ergue no coração dos seguidores, e a amor divino, que reside em todo ser vivente, reduz cada vez mais sua influência na vida dessas pessoas.
O ser humano dá um importante passo no processo de aproximação com o Divino quando assume, de modo sincero, suas relações pessoais, cumprindo, com dedicação e generosidade, os seus papéis sociais. Quando amamos os seres vivos, sem exceção, isso é uma projeção de nossa devoção ao Divino, pois entendemos que a divindade está em tudo e todos. Quando assim nos aproximamos do Divino, Ele também se aproxima de nós.
O progresso pela via de Bhakti yoga ocorre nessa imersão ao amor devocional – seja em relação à família, aos amigos, ao trabalho e aos cuidados próprios. Iniciamos a jornada de Bhakti no amor a nós mesmos, passando pelo amor ao próximo e até alcançarmos a realização plena desse caminho, quando a Luz do Amor Divino se revela totalmente e nos tornamos um com o Ser Supremo.
São muito queridos por Mim aqueles devotos que são livres de malícia para com todos os seres vivos, que são amigáveis e compassivos. Eles estão livres do apego às posses e ao egoísmo, equilibrados na felicidade e na angústia e sempre perdoadores. Eles estão sempre contentes, firmemente unidos a Mim em devoção, autocontrolados, de firme resolução e dedicados a Mim de corpo e alma (Bhagavad Gita)
Hari Om Tat Sat.
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