Á águia, representação da pessoa focada, inteligente, perspicaz, penetrante, que vê mais longe!
A palavra dharana se origina do sânscrito dhri, que tem seu significado vinculado ao sentido de "segurar fortemente". Dharana, portanto, trata da solidez obtida pelo desenvolvimento da concentração máxima, do foco, da libertação das perturbações mentais.
A mente, geralmente, é inquieta, atormenta-se com facilidade, tende ao desvio da atenção, ao escape, à sabotagem. Para alguns, esta agitação acontece de forma mais sutil, enquanto para outros, de maneira perturbadora.
As metáforas que descrevem a mente e suas artimanhas para driblar o estado de quietude no qual a maioria das pessoas gostaria de se manter, são bastante úteis para a compreensão do fenômeno.
Stephen Sturgess, professor de Yoga e autor do livro Meditando com o Yoga-Tranquilize a mente e desperte o seu espírito interior, compara a mente a um lago e os pensamentos e sentimentos que surgem dela com as ondas que agitam as águas. E diz ainda que só podemos enxergar claramente nosso reflexo na água quando as ondas na superfície se acalmam, se aquietam.
Em outro exemplo, os taoístas comparam a mente com o céu límpido e azul que existe por trás das nuvens em dias de céu nublado. O céu claro significa a mente enquanto os pensamentos que a bloqueiam são representados pelas nuvens fechadas, escuras e cinzentas.
A mente, assim como o céu límpido e azul, está ali, tranquila, íntegra e ativa. Mas, da mesma maneira que as nuvens bloqueiam o céu, os pensamentos atormentam a mente e precisam ser dissipados para que a luz emane.
A mente deve manter suas atividades como pensar, raciocinar, buscar soluções. Dharana ensina que nesse processo é necessário desenvolver o foco e libertar a mente das perturbações trazidas pelos pensamentos agitados. Os pensamentos podem trazer tensão e pressão que poderão se transformar em sentimentos contidos, energias estagnadas e, posteriormente, em doenças psicossomáticas.
Como mostram nossos posts, o relaxamento físico e o desbloqueio das tensões acumuladas por meio da execução das técnicas posturais e respiratórias são componentes importantes para que avançar no caminho do autoconhecimento.
Mas, como mostra o Lama Surya Das, no livro O tempo do Buda - abrindo os olhos para as infinitas possibilidades do agora, relaxar não é só liberar as tensões do corpo físico, é necessário relaxar também a mente. Relaxar, diz o Lama, é deixar estar, deixar ser.
Se estamos realmente relaxados, deixamos tudo passar - pensamentos, sentimentos, preocupações, tensão corporal; apenas observamos os acontecimentos, sem criar apegos ou nos identificarmos com alguma coisa. Sem puxar ou empurrar, julgar ou avaliar. Sem interferência e manipulação
(LAMA SURYA DAS).
Somente quando as águas do lago se acalmarem e quando as nuvens do céu se dissiparem, perceberemos o verdadeiro eu. Isso ocorrerá por meio da concentração, do foco, sem que dar espaço para a manifestação do eu egóico.
O desenvolvimento da concentração máxima, evitando-se dispersões e os desvios, em qualquer aspecto da vida diária, nos fortalecerá para seguirmos firmes em nossos caminhos e propósitos!
Assim preparados em Dharana, seguiremos com sucesso para o próximo passo: Dhyana (meditação)
Dharana no cotidiano, concentração em nosso dia-a-dia
Ainda que seja bastante convidativo praticar Dharana em silêncio, podemos fazê-lo nos ambientes mais desafiadores do nosso cotidiano. Algumas atitudes auxiliam nossa prática diária. Controlar a ansiedade e executar uma atividade de cada vez são atitudes que beneficiam o desenvolvimento da concentração e do foco único.
Podemos, por exemplo, evitar consultas constantes de mensagens de e-mails ou celulares e programá-las para uma, duas ou três vezes por dia; desenvolver atividades domésticas focados nos detalhes; no trânsito, dirigir concentrado sem dispersão com mensagens; nas conversas, saber ouvir e estar atentos ao que as pessoas estão nos dizendo; nas práticas corporais manter a consciência corporal.
Quando agimos sem foco, executando duas ou mais atividades ao mesmo tempo, cometemos equívocos constantes e nos irritamos com mais facilidade.
Assim, ao praticarmos a concentração, teremos um foco: uma pessoa, uma leitura, um trabalho, etc., sem esquecimentos, falhas ou dispersões. Dessa forma, não se multiplicarão as atividades, mas sim as chances de obtermos um resultado mais preciso ao executá-las!
Om Shanti.
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