Cena do filme Dias Perfeitos
Fonte: Artsmeme.com/2024/01/08/
Que ninguém se engane. Só se consegue a simplicidade através de muito trabalho.
(Clarice Linspector)
Recentemente assisti ao filme Dias Perfeitos (Perfect Days). Trata-se de um filme lançado em 2023, dirigido por Wim Wenders, que retrata uma história simples, delicada e profunda, na qual sua principal personagem é Hirayama. O filme veio ao post porque assisti-lo é uma oportunidade para refletir sobre condutas e hábitos, considerados incompatíveis com a vida cotidiana atual, sobre valores e o estado das coisas.
Hirayama é um homem de meia idade e de hábitos simples e regrados que trabalha como limpador de banheiros públicos, em Tókio. A vida de Hirayama, poderia ser considerada vazia. Mas, é nesse ponto que o filme nos presenteia, ao conseguir despertar em nós percepções sobre a vida, que embora imperfeita, pode ser dotada de uma sublime perfeição.
No filme, a perfeição não vem à tona, propriamente, pela qualidade de vida da qual a personagem usufrui, mas pela maneira como lida com sua vida, com seu trabalho, com suas relações. Em tempos atuais e acelerados, nos quais as pessoas mostram necessidades profundas de expressarem suas opiniões e conhecimentos sobre todas as coisas, estarem conectadas com tudo e todos ao redor do mundo, desfrutar das tecnologias mais avançadas possíveis, emerge Hirayama para mostrar um cotidiano exatamente contrário a tudo isso, em uma das maiores e mais digitais cidades do mundo.
Hirayama possui uma rotina simples, e em princípio repetitiva. Dedicado à mais perfeita execução de seu trabalho - limpar arrojados banheiros públicos - ele divide o aproveitamento de seu tempo com os afazeres domésticos que se resumem à limpeza e organização de um quarto sem banheiro; os cuidados com as plantas; à apreciação das músicas das fitas k7 que escuta enquanto dirige; à leitura; às reduzidíssimas relações pessoais; à observação e aos registros da natureza, que se modifica a cada dia, assim como a sua própria rotina.
Ao mesmo tempo que é visto, sobretudo pela geração mais jovem, como uma pessoa estranha, Hirayama é também para eles uma espécie de porto seguro, pois é a ele que recorrem para solucionar suas variadas angústias. Calado e sem a menor necessidade de colocar sua opinião sobre as coisas, ele geralmente se comunica com as expressões faciais, com o olhar. Dificilmente expressa rancores, mas não é indiferente ao que não lhe agrada ou agrada. Muitas vezes ignorado por onde anda, está longe de ter uma vida perfeitamente resolvida. Entretanto, ele apenas faz o que deve ser feito e da melhor forma, cuida do que tem, compartilha o que é necessário e se relaciona com as pessoas a seu modo, inclusive, à distância, sem o emprego de tecnologias de comunicação.
Hirayama aprecia detalhes, vive o presente. Não está disposto a remoer sentimentos do passado ou lamentar as incertezas do futuro. Agradece os dias se iniciam com um sorriso para o céu, e nos lembra, em cada passagem de sua história, que ele e sua vida não são perfeitos, no sentido do ideal, ileso e completo - assim como também não o são as relações, o trabalho, as condições materiais. Todavia, ele nos transmite a sensação de que é possível passar pela vida com a intensidade possível a quem vivencia o presente, com satisfação e conforto, a depender da forma como lidamos com os desafios e nos mantemos equilibrados diante deles. No meu entender, o modo de vida de Hirayama, de alguma forma, é Yoga.
Experimente: pratique Yoga, medite, desperte e avance!
Om Shanti.
Cena do filme Dias Perfeitos
Fonte: https://www.teatromunicipaldoporto.pt/imagens/eventos/dias_perfeitos_6579d94590190_2025_2.jpeg
Muito bacana o texto Vanice! Com amparo na vida de Hirayama, você nos mostra como complicamos a vida, e que os momentos de felicidade estão nas coisas simples, ao alcance de todos.