Esta realidade possui dois estágios: um é o absoluto e o outro é o manifesto.
(Swami Satyananda Saraswati)
A maioria dos nossos textos finalizamos com o mantra Hari Om Tat Sat. Hoje, vamos discorrer um pouco sobre o significado desse mantra e o quão ele expressa a verdade da realidade, segundo o conhecimento e a tradição do yoga.
Esse mantra é a junção de dois mantras: Hari Om e Om Tat Sat.
Hari representa o universo manifestado, a realidade relativa, tudo o que é visível e perceptível aos sentidos.
Om representa a realidade absoluta, a existência total, o imanifesto, tudo o que não é perceptível aos sentidos; é o inconcebível.
Assim, Hari Om representa as duas faces da realidade: uma é o universo concreto, a vida como nós a experienciamos com nossos sentidos, é tudo aquilo que se manifesta como criação.
Mas esse universo concreto, toda a criação manifestada e transitória é gerada a partir da outra face da realidade: a existência eterna, imutável, invisível e imperceptível aos sentidos.
Hari Om, portanto, significa “a realidade em si”, “aquilo que vejo e que não vejo é real, pois é a realidade”; tudo o que é real se apresenta simultaneamente como absoluto e relativo, irrestrito e parcial, perceptível e inefável.
Vejamos, agora, o segundo mantra:
Tat é o princípio da realidade, tudo aquilo que compõe a realidade; é a base de todas as nossas experiências.
Sat é a verdade, a verdade da realidade em si.
Om Tat Sat, logo, é “a realidade e a verdade de tudo aquilo que existe”
O mundo fenomênico é tudo aquilo que nasce, surge, permanece por um tempo, se altera, modifica-se e, por fim, desvanece, dissipa-se. Mas a “verdade da realidade” é que “o real” é imutável e imperecível, e “a existência” é eterna e infinita.
Ao dizermos Hari Om Tat Sat, logo, estamos afirmando que “tudo aquilo que existe - o que vejo e o que não vejo, o finito e o infinito, o impermanente e o eterno - tudo integra uma mesma verdade e realidade”. Em suma, o visível e o invisível são, ambos, a mesma coisa.
O mantra Hari Om Tat Sat é uma lembrança de que todos fazemos parte de uma mesma realidade e de uma mesma verdade; as fronteiras que estabelecemos sobre identidades, etnias, raça, classe social, gênero e etc., são barreiras psicológicas, erguidas pelo nosso ego, e que nos separam e nos afastam da harmonia e da serenidade.
Se o que buscamos na vida é paz, amor e felicidade, são essas barreiras psicológicas que nos mantém entrincheirados em nosso egoísmo; nessas circunstâncias, jamais nos libertaremos do jugo dos conteúdos mentais que nos aprisionam ao nosso “castelo de cartas marcadas, nosso pequeno universo”.
Apenas como complemento, Hari Om também é utilizado como uma súplica ou saudação, seja no início ou final de um canto védico, ou quando saudamos uns aos outros.
Assim, Hari possui o significado de carregar, no sentido de levar embora, e está associado a Vishnu, a divindade que sustenta o universo. Om aqui significa a fonte de toda bem-aventurança e proteção.
Ao dizer Hari Om, estamos suplicando que os nossos sofrimentos e a sua causa - ou seja, a ignorância de quem somos em essência - sejam removidos por aquele que sustenta o universo (Vishnu, Deus, o Absoluto, a Consciência Universal, etc.), e que nos abençoe com as bem-aventuranças – a paz, o amor e a felicidade.
Hari Om Tat Sat.
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