Nos últimos anos a prática do Ioga tem sido cada vez mais disseminada no Ocidente e, especialmente, no Brasil, o número de pessoas que buscam os benefícios da tradicional cultura indiana tem aumentado significativamente.
Nos anos mais recentes, muitos fatores podem ter contribuído com o alastramento dos conhecimentos desta filosofia oriental milenar em terras brasileiras. Também compreendida no país como um recurso terapêutico, sua inclusão no leque de tratamentos alternativos de base oriental disponíveis no sistema nacional de saúde, há cerca de 5 anos, pode ter sido um deles.
Não se tem a clareza dos nomes pioneiros responsáveis pela inclusão da prática no Brasil e, geralmente, a década de 1950 é apontada como o momento inicial dessa jornada no país. Mas, pesquisas mostram notícias de prática de Ioga no Brasil já desde o final do século XIX.
Entre as versões que transitam o tema da introdução do ioga no país, cinco são bastante difundidas. A primeira aponta o francês Swami Asuri Kapila como o pioneiro, a partir de sua viagem até Montevidéu, em 1936, de onde partiu para diversas "missões" no Brasil com intenção de disseminar sua proposta de uma Yoga Integral.
Outro francês, Leo Costet de Mascheville, também chamado Sevananda Swami, é apontado como nome pioneiro na introdução do ioga no Brasil, em uma segunda versão. Sevananda teria começado a difusão da prática no Brasil quando foi enviado pelo mestre Asuri Kapila para um congresso no Rio de Janeiro, em 1947.
Mas, há controvérsias em tal versão, sobretudo acerca do papel de Asuri Kapila como mestre ou discípulo de Sevananda. Há relatos de que Sevananda teria sido iniciado no Ioga por um alemão, durante sua travessia pela Argentina a pé e teria se vinculado à uma organização "espiritual", "mística" e "multissecular" com sede no Himalaia.
Entre 1930 e 1940, Sevananda teria fundado o Grupo Independente de Estudos Esotéricos que versava sobre estudos de ioga, teosofia, budismo e vedanta e em 1952 teria iniciado seus trabalhos no Brasil, na cidade de Resende, no Rio de Janeiro, onde fundou um mosteiro e uma associação: Associação Mística Ocidental.
Na terceira versão, teria sido o general do exército Caio Miranda, o primeiro a ensinar ioga no Rio de Janeiro, durante a década de 1940 e seu primeiro contato com o tema teria sido o livro As 14 Lições da Filosofia Yogi, de Yogui Ramacharaka.
Shotaro Shimada, seria apontado como pioneiro, em uma quarta versão sobre o assunto. Por meio de aulas ministradas em São Paulo, por volta de 1956, e a partir da leitura do livro A Ciência Hindu-Yogi da Respiração, também de Yogui Ramacharaka.
O quinto nome a ser apontado como pioneiro no país é de José Hermógenes, outro militar, tenente do exército, que teria começado na prática do ioga, a partir de 1950, como alternativa terapêutica para tratar sua tuberculose, obtendo a cura. Seus livros e aulas ministradas em sua academia no Rio de Janeiro, tornaram-se muito populares e contribuíram imensamente para a difusão do tema entre os brasileiros.
Como mostra o artigo Primórdios da Ioga no Brasil, c. 1910- 1920, escrito pelos os autores Andrea Calazans Rocha Dias e Cleber Dias, estes foram apenas algumas das importantes iniciativas que contribuíram para o posterior desenvolvimento da prática no país, tal como a percebemos na atualidade. Em seus argumentos, as iniciativas desenvolvidas a partir da década de 1910 lançaram um repertório sobre o tema que influenciou amplamente a prática que se fortaleceu nos anos seguintes. Entre as décadas de 1910 e 1920, fundamentados nas notícias de jornais e revistas do acervo digital da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, os autores mostram uma história esquecida da ioga no Brasil.
As notícias pesquisadas pelos autores fazem referências a situações diversas que tangenciam o ioga no Brasil, como tentativas de imitação de faquires indianos, ainda que em tons sensacionalistas. São também mencionados estudos autointitulados "naturistas", "esotéricos", "ocultistas", "psquistas", "de cultura psicotranscedental e vibração mental" que também promoveram a divulgação de práticas que mais tarde se refletiram na aceitação da ioga.
As iniciativas da "Sociedade Teosófica", fundada originalmente por Helena Blavatsky, por volta de 1874 e 1875 em Nova York, também provocou reflexos na divulgação do assunto no Brasil e em várias outras partes do mundo, pois contribuíram com uma grande quantidade de títulos e trabalhos publicados e relacionados com os temas descritos.
Além das sociedades teosóficas, os autores enumeram outras organizações "espiritualistas" nas quais eram divulgadas a "filosofia yogue", como por exemplo o Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento, idealizada na década de 1910; o Centro Comum Brasileiro e a Comunhão Mystica Darma que contribuíram com a divulgação do ioga a partir da década de 1920.
A pesquisa dos autores mostra que já estavam em curso desde os primeiros anos do século passado, palestras, grupos de estudos, livros, etc. Enfim, o assunto é vasto, interessante e importante pois mostra a abertura de caminhos brasileiros para a sedimentação da prática yogue, ainda que muito temos a aprender sobre o tema além de sua mera compreensão como prática apenas corporal.
Pratique Yoga, leia sobre Yoga. Você vai se surpreender!
Om Shanti
Referências
DIAS, Andrea Calazans Rocha. DIAS, Cleber. Primórdios da Ioga no Brasil, c. 1910- 1920. In: Movimento Revista de Educação Física da UFRGS, 2021.
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