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Foto do escritorMarcelo Augusti

JÑANA YOGA



A felicidade é a sua natureza. Não é errado desejá-la. O que é errado é procurá-la do lado de fora quando ela está do lado de dentro

(Ramana Maharshi)


Como sabemos, yoga é o processo de unir o Humano ao Divino, a Terra ao Céu, a consciência individual à Consciência Universal. O Ser Supremo, em sua infinita compaixão e sabedoria, provê aos seres humanos, diversas vias de acesso ao yoga. Assim, cada indivíduo tem à sua disposição, variados métodos e técnicas para o cumprimento da meta mais elevada da vida humana: a união da alma com o Ser Supremo.


As quatro principais vias de acesso ao yoga, descritas no Bhagavad Gita, são: Karma yoga, Jñana yoga, Raja yoga e Bhakti yoga. Vamos acompanhar cada uma delas com mais detalhes.


Jñana yoga

Jñana significa conhecimento. Mas não se trata de um conhecimento apenas intelectual, coisas que estudamos e aprendemos por meio de leituras de textos sagrados ou ouvindo palestras dos mestres espirituais.


Na tradição do yoga, o estudo das Upanixades, do Bhagavad Gita e do Brahma Sutras é fundamental no processo de aquisição do saber filosófico. Jñana yoga, todavia, vai além disso: é o conhecimento originado por meio do questionamento que fazemos sobre a nossa realidade constitucional. Ou seja, quem sou eu? - essa é a questão fundamental do Jñana yoga.


A compreensão plena de quem sou eu em realidade, pode ser conquistada por meio de nossa dedicação ao alcance do saber filosófico contido nos textos sagrados, paralelamente à constante reflexão sobre a questão fundamental.


Deste modo, o hábito de estudar e refletir sobre a nossa natureza constitucional, por meio de um questionamento sincero, é um processo contínuo de autoaprendizagem e autodesenvolvimento. É do estudo e da reflexão, logo, que emergirá o verdadeiro conhecimento e a consciência de nós mesmos.


Jñana yoga, portanto, significa, autoconhecimento. E a questão primordial na via do Jñana yoga, como já foi dito, é: “quem sou eu”? Ou seja, para nos livrarmos, definitivamente, da ignorância primordial, precisamos saber, de fato, quem somos. Essa é a meta do praticante do autoconhecimento.


Pelo estudo (leituras) e pelo autoestudo (reflexão), o Jñana yoga nos conduz à busca da Realidade, e a renunciar a tudo o que é ilusão. Ilusão é acreditarmos que somos um corpo físico; que somos a mente com seus pensamentos e sentimentos; que somos as emoções; que somos independentes; que somos separados da natureza.


Essa ignorância primordial cega-nos a compreensão correta. Vagamos pelos infindáveis ciclos de nascimentos e mortes sem saber quem somos. Buscamos o conhecimento fora de nós, no mundo exterior, quando, na verdade, ele se encontra em nosso mundo interior. Jñana yoga nos impele a dissolver toda ignorância que nos aprisiona na ilusão, na própria origem onde ela brota: na mente.


Quando, no silêncio e na quietude, questionamos quem somos, as respostas advindas da mente, a princípio, são geradas pelos seus condicionamentos egóicos. Ela nos diz “eu sou isso”, “eu sou aquilo”. É o ego que responde. O praticante, assentado no saber filosófico, e atento aos condicionamentos da mente, responde “neti, neti”, ou seja, “não sou isso, nem aquilo”.


Como uma cebola, vamos nos despojando de nossas camadas egóicas, até nos encontrarmos, verdadeiramente. A mente vai clareando e a consciência vai avançando etapas até revelar-se a plenitude de quem, de fato, somos. É uma superação todos os conceitos e especulações para chegar ao que é real. E quem somos, afinal?


O saber filosófico da tradição do yoga nos esclarece que, em essência, somos uma alma, ou seja, uma emanação do Ser Supremo. Nossa origem, portanto, é o Divino. É o Divino que difunde e propaga sua própria essência, expande a sua própria natureza, dando origem ao universo e a todos os seres existentes.


Embora os seres manifestados no mundo fenomênico são distintos em nome e forma, o conhecedor da verdade (jñani) sabe, por estudo e autoconhecimento, que todos os seres integram a mesma Realidade Suprema. Ou seja, a centelha do Divino habita em todos os seres, em toda matéria, sem qualquer distinção.


O yoga do autoconhecimento é isso: investigar a própria natureza constitucional. É necessário dedicação no estudo e na reflexão, e manter a tranquilidade, a persistência. É a constância que nos possibilitará o alcance do conhecimento e a revelação de quem somos.


A autorrealização espiritual pela via do Jñana yoga se assenta em quatro pilares:


- Viveka, a discriminação entre a realidade e a ilusão;

- Vairagya, o desapego dos prazeres e sofrimentos, a renúncia aos desejos e aversões;

- Mumukshutva, a vontade inabalável de liberar-se da ignorância;

- Shatsampatti, a firmeza de caráter, que se traduz nas seis virtudes: serenidade (shama), autocontrole (dama), tolerância (titiksha), entusiasmo (uparati), fé (shraddha) e contentamento (samadhana).

O conhecimento adquirido apenas pelo saber filosófico, todavia, pode gerar um comportamento prepotente. O ego pode se alimentar do "eu já sei tudo", e o caminho para a evolução espiritual estará prejudicado.


Portanto, no jñana yoga, o saber filosófico ou qualquer outra informação recebida pelo “ouvir a palavra”, não será suficiente para o autoconhecimento. A reflexão, seguida da meditação, são tão importantes e necessárias quanto o estudo.


Logo, todo conhecimento dos textos sagrados deve estar relacionado diretamente com a reflexão de quem sou eu; somente assim, o praticante será recompensado pela constância de seus esforços, e a graça divina lhe revelará toda o conhecimento verdadeiro de si mesmo.


No próximo post, falaremos sobre o Raja yoga. Aguardem!



O ser humano não tem por finalidade o prazer, mas sim o conhecimento. É a ideia do corpo que nutre o egoísmo, a ilusão de que somos o corpo e devemos fazer o possível para preservá-lo e satisfazê-lo

(Swami Vivekananda)



Hari Om Tat Sat.






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