Quem age fracassa
Quem se apega perde
(Lao Zi)
Como sabemos, yoga é o processo de unir o Humano ao Divino, a Terra ao Céu, a consciência individual à Consciência Universal. O Ser Supremo, em sua infinita compaixão e sabedoria, provê aos seres humanos, diversas vias de acesso ao yoga. Assim, cada indivíduo tem à sua disposição, variados métodos e técnicas para o cumprimento da meta mais elevada da vida humana: a união da alma com o Ser Supremo.
As quatro principais vias de acesso ao yoga, descritas no Bhagavad Gita, são: Karma yoga, Jñana yoga, Raja yoga e Bhakti yoga. Vejamos cada uma delas com mais detalhes.
Karma yoga
Karma é ação. A ação é parte indispensável da vida humana. Não há como fugir a ação. Se refugiar em uma caverna na montanha, isolado das pessoas, não livra-nos da ação. Porque ação é energia, é atividade. Pensamentos e sentimentos se movem, como o corpo, pois são energia e atividade. Tudo é ação.
É o karma que imprime, na alma, as marcas da ação. Trazemos para o mundo presente as marcas das ações passadas. E levaremos para o mundo futuro, as marcas das ações presentes. Karma, em si, não é algo bom nem ruim. O karma apenas deixa sua marca quando nos enredamos na ação.
Qualquer ação nos prende se nos envolvermos emocionalmente com ela. A emoção nos enreda na vereda da ação. Quando uma ação oculta uma segunda intenção, ficamos emaranhados pelos efeitos da ação. Pois nunca podemos prever, com certeza, o efeito de uma ação. A ação é como um bumerangue: uma vez realizada, volta para nós. Isso é o karma, a marca que sela a nossa aventura no mundo.
Seguir pela via do Karma yoga é agir sem se deixar levar pelos resultados; é ação sem ego. Karma yoga é a renúncia aos resultados: é fazer o que deve ser feito sem esperar nada em troca. Pois quem espera algo em troca é o ego, que sempre deseja satisfazer-se. O ego quer aplausos, elogios, reconhecimento.
A via do Karma yoga exige do praticante a dedicação de todas as ações e seus frutos à divindade. Karma yoga é a ação que liberta, não a que enreda. Qualquer atividade, pensamento ou sentimento aos quais você não se deixa enredar, isso é ação libertadora. Dedicar-se a algo, com empenho e seriedade, seja o que for, sem que isso nada signifique para além da própria ação, isso é uma ação libertadora.
Quando agimos sem uma segunda intenção (isto é, sem o ego), mesmo nos envolvendo na ação, a ação se torna yoga. E quando qualquer atividade, pensamento ou sentimento nos enreda, isso é karma. Não importa o que seja. É o modo como a ação se realiza é que faz a diferença.
O nosso trabalho pode ser karma ou yoga. Se nos é penoso trabalhar, se fazemos tudo com má vontade, ou se buscamos apenas reconhecimento, fama ou sucesso em nossa profissão, isso é karma. Por outro lado, se nos dedicamos ao que fazemos, e fazemos com disposição e alegria, sem nada esperar e apenas agradecer pela oportunidade, seja o que for, isso é yoga.
A via do Karma yoga não é fácil de ser seguida, pois o ego, porém, é o maior obstáculo a ser superado. É muito difícil fazer algo sem a expectativa do resultado e sem se deixar levar pelo resultado, seja para o bem ou para o mal.
Assim, quem age comandado pelo ego, colherá os frutos do fracasso. Fracasso é não receber o retorno daquilo que se esperava. O ego fracassa, pois, suas tentativas de satisfação não seguem a sabedoria do Céu e da Terra, não acompanham o fluxo da naturalidade. Em algum momento a ação egóica se tornará inadequada e inconveniente em suas tentativas de preservar uma circunstância que lhe é favorável.
O Universo, regido pela Consciência Suprema, está em constante transformação; o ego, agarrado a si mesmo, apegado às próprias satisfações, não compreende as mudanças e transformações que ocorrem, naturalmente, no mundo fenomênico. Hoje não é mais o que foi ontem; amanhã, não será mais o que foi hoje. Assim, o ego sempre experimentará o sentimento de perda – a perda de algo que nunca lhe pertenceu.
Karma yoga nos ensina que apegar-se a ação como “eu fiz”, e apegar-se ao resultado como “eu conquistei”, é não compreender que toda ação e seus frutos pertencem ao Ser Supremo. Aquele que age com desejos de posse ou em busca apenas de benefícios próprios, acreditando que conquistou algo por si mesmo, permanece na ignorância.
Diz um provérbio taoísta: “quando boas ações conduzem à fama ou riqueza, é hora do sábio se retirar”. Reflita sobre isso!
No próximo post, falaremos sobre Jñana yoga. Aguardem!
Hari Om Tat Sat.
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