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Foto do escritorVanice Jeronymo

MANDALAS NO UNIVERSO DO YOGA E MEDITAÇÃO

Atualizado: 8 de jul. de 2023


Mandala artesanal, acervo da autora, 2023


A palavra mandala, significa círculo (em sânscrito) ou círculo mágico (do hindu), e se refere às formas plásticas associadas a desenhos considerados sagrados. Mandalas compreendem composições que se formam a partir do centro de um círculo e da repetição simétrica de elementos.


Acredita-se que de mandalas emanem energias, forças regenerativas, equilibradoras e ativadoras, produzidas pela combinação e justaposição de elementos, formas e cores, etc.

Dessa maneira, as peças assumem papeis importantes como instrumentos favoráveis às práticas terapêuticas e pedagógicas que visem a produção do autoconhecimento.


As formas, bases e técnicas utilizadas para elaborar mandalas podem ser muitas: planas, tridimensionais, moldadas em areia, desenhadas ou pintadas sobre madeira, papel, metal ou qualquer superfície que as suportem e podem surpreender expectadores ao emergirem em coreografias, danças circulares, rodas e cirandas humanas, como já retrataram diversos artistas do passado.


The Dance, Henri Matisse, 1910
Round Dance, Natalia Goncharova, 1910

La Danse Ronde, George Heriot, 1807


Historicamente, usos e significados atribuídos às peças de mandalas estão frequentemente associados ao Sagrado. No Oriente, a criação das mandalas atende quase sempre motivações religiosas e fazem parte de rituais que visam movimentar as energias das divindades. Nesse caso, mandalas são chamadas de yantras, e muitas vezes são traçados no chão, com pós coloridos e outros elementos como flores e incensos. No hinduísmo, por exemplo, mandalas são representações da vida, do universo, e da harmonia que deve estar presente em tudo que existe. No budismo Vajrayanas, ou budismo tibetano, o khilkor (mandala), serve como instrumentos que aguçam a concentração dos monges. Na técnica de meditação, mandalas podem representar o espaço sagrado, para o qual o ego do praticante se projete e se dissolva, ao vivenciar as imagens produzidas.


Na tradição tibetana, o centro da peça representa o vazio que está por baixo da experiência fenomênica, origem da criação. As peças configuram símbolos da impermanência de todas as coisas, da vida como um sopro, da transitoriedade. Por este motivo, os desenhos produzidos em areia são imediatamente desmanchados após a finalização.


Na tradição taoísta, o equilíbrio necessário às dualidades da vida, representadas pelos símbolos Yin e Yang, podem compor uma peça de mandala formada por 2 partes e 4 elementos.

Yin yang, fonte: freepik, rawpik.com


Nas igrejas cristãs, as formas aparecem como ornamentação arquitetônica representadas pelas rosáceas e vitrais. No contexto cristão, as iluminuras de Hildegarda de Bingen, merecem destaque.


Detalhe de Rosácea do século XVIII,

Ilustração de 1856.



Iluminura de Hildegarda de Bingen.


O luteranismo, tem em seu símbolo mais conhecido - o Selo de Lutero ou Rosa/Brasão de Lutero – um formato de mandala, impregnado de significados. O Selo é uma representação do mundo e da fé luterana. Cada elemento disposto na composição do Selo tem um significado, assim como suas cores. A Rosa de Lutero significa um caminho ao coração de Deus; a cruz preta negra do centro remete à prisão, julgamento, condenação e crucificação de Cristo; o coração vermelho faz alusão ao amor de Deus por sua criação, sua misericórdia e seu envolvimento com a salvação da humanidade; o vermelho simboliza o sangue, paixão, doação total ao amor; a flor branca, rodeada por um campo azul, remete ao céu, o Reino de Deus; e o arco dourado remete à aliança de ouro e simboliza a aliança de Deus com a humanidade através da morte e ressurreição de seu filho Jesus Cristo.


Na psicologia analítica, na qual o conceito central é o da individuação - compreendido como um processo a tornar-se um ser único, de singularidade profunda, que tende a voltar-se ao mundo interno e resgatar aquilo que foi deixado para trás - o sentido de mandala atribuído pelo seu preconizador, o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), se dá pela representação do Si-Mesmo, ou seja, o processo psicológico de integração de opostos. Para ele, mandalas expressam a totalidade da personalidade, simbolizam o caminho que leva à individuação. Trata-se, assim, de uma estrutura, de uma representação simbólica do “átomo nuclear” da psique humana, uma maneira de alcançar experiências pessoais mais profundas.


O uso de mandalas como instrumento terapêutico configura possibilidades de aplicações que incluem a associação às simbologias, elementos pessoais e numerologia, como é o caso do desenvolvimento do método de desenvolvimento de mandalas pessoais.


Presentes em diversas culturas, mandalas, como dito anteriormente, geralmente são concebidas como elementos que nos unem ao Sagrado, seja este uma entidade específica ou o Sagrado guardado dentro em nós, prestes a ser acessado com intuito de proporcionar novas percepções.


Nas práticas de yoga e meditação e pela perspectiva da espiritualidade, mandalas e os elementos que a compõem, muitos extraídos da Geometria Sagrada, são utilizadas como elementos que favorecem a expansão da consciência. Os conceitos espirituais utilizam os ensinamentos da Geometria Sagrada, de maneira a transcenderem o uso das fórmulas científicas que estão intrínsecas às formas e, por meio da visualização e contemplação, estimulam esse processo. A prática pode levar a uma experiência intuitiva direta da forma e dos seus significados não analíticos. A preocupação não se ancora nos padrões científicos e matemáticos, pois a Geometria Sagrada passa a ser apreciada como uma forma de arte, na qual percebe-se de forma individual e sutil a conexão entre espírito e geometria, o desenvolvimento do primeiro por meio dos efeitos produzidos pelo segundo.


É importante destacar, que embora as pesquisas da Geometria Sagrada e a disciplina moderna de Física Quântica se vinculem enquanto saberes científicos e com o envolvimento do domínio da Matemática, Física, Álgebra, Geometria, Eletrodinâmcia, entre outras disciplinas, nesse cenário que estamos aqui tratando, a compreensão do assunto tende ao intuitivo e místico, ainda teorias e saberes científicos são faces da Geometria Sagrada e criação do mundo.


Podemos pensar na conexão entre Mandalas e Yoga por meio das Práticas Meditativas. As práticas meditativas podem ocorrer de maneiras diversas, inclusive, durante os processo criativos, como uma espécie de simbiose, no qual o processo de desenvolvimento da concentração e a prática de meditação são maneiras de abrir perspectivas que auxiliam a efetuar mudanças na vida. Artistas e experts em criatividade, por exemplo, aprovam a meditação como um caminho para obterem maiores descobertas criativas e a meditação irá ajudar a alterar o hemisfério cerebral, a diminuir o estresse, a descobrir um contato interior com uma fonte criativa e assim, fazer emergir muitas ideias.


Mandalas, portanto, configuram uma das trilhas para acessar e modificar o interior de cada um, por meio da contemplação e até mesmo da concepção, do processo criativo, do se permitir fazer. Assim, se colocam com uma das muitas possibilidades que envolvem Yoga e Meditação. Aderir às práticas meditativas, conduzirá ao descobrimento da própria identidade, do nosso lugar no esquema do Universo. Através das práticas, adquirimos e depois reconhecemos nossa conexão com uma fonte de força interior, que posteriormente será capaz de transformar também o mundo exterior. Yoga, Meditação e seus instrumentos, tais como mandalas, portanto, não nos fornecem apenas a luz da descoberta, mas também o poder para concretizar mudanças profundas.


Om Shanti


Mandala artesanal. Acervo da autora


Referências

CAMERON, Julia. O caminho do artista. Desperte seu potencial criativo e rompa seus bloqueios. Editora Sextante, 2017.

CORONA,Eduardo. LEMOS, Carlos Alberto C. Dicionário da arquitetura brasileira. São Paulo: Edart, 1972.

KOCH, Wilfried. Dicionário dos estilos arquitetônicos. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

SYMONDS, Russell. Geometria Sagrada e o Projeto de Criação. 2013.






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