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Foto do escritorMarcelo Augusti

MEDITAÇÃO DOS OITO MUDRAS

Atualizado: 9 de out. de 2023




Assim, se deve praticar com empenho os diversos mudrás a fim de despertar à poderosa deusa Kundaliní que dorme cerrando a entrada a porta de acesso ao Absoluto

(Hatha Yoga Pradípiká)



Mudrás são posturas que auxiliam na concentração para o alcance do estado meditativo. Essas posturas são realizadas com o corpo ou com as mãos, e possuem significados profundos no contexto espiritual, simbolizando a comunicação com energias sutis. Ao utilizar o mudrá, o propósito da meditação adquire significados diferentes a depender do mudrá praticado.


Hoje falaremos sobre alguns mudrás que conferem força e poder à prática meditativa, destacando oito desses gestos realizados com as mãos. Para além de seus usos como suporte psicológico para alívio e cura de problemas do corpo físico, o que nos interessa é a influência do mudrá na transformação da mente e no despertar da consciência.


Na disciplina espiritual do yoga, meditar com o apoio de um mudrá significa clareza mental e discernimento, silêncio e quietude interior, contentamento, serenidade, conexão com o Ser Interior e comunhão com o Divino. Cada gesto realizado com as mãos expressa uma consciência cada vez mais abrangente e profunda; assim, o mudrá é a representação daquilo que esperamos realizar durante a meditação.


A nossa proposta é realizar a meditação com a alternância de oito mudrás. Cada mudrá deverá ser mantido por 3 minutos, em total concentração. É imprescindível compreender o significado de cada um dos oito mudrás apresentados aqui, pois os efeitos serão percebidos a partir da correta concentração em cada um deles. Não podemos esquecer que a percepção dos efeitos meditativos dos mudrás, dependem do nível de espiritualidade em que se encontra cada pessoa. Conectar-se com o “mundo interior” - que é a nossa natureza espiritual, eterna e infinita - é algo que exige constância e persistência.


A opção por oito mudrás é pelo fato de que o número 8 é considerado, nas mais antigas tradições esotéricas, como o representante da eternidade, simbolizando a inexistência de um começo ou fim, do nascimento ou da morte, e daquilo que não tem limite; é o ciclo infinito da vida. O 8 também simboliza a ligação entre o físico e o espiritual, o divino e o terreno. É também o número da renovação constante, do fluxo natural da existência e da harmonia perfeita; trata-se, portanto, de um número que traz em si a força da transformação e o poder da integração.


Vamos, então, à sequência dos oito mudrás e uma breve explicação de cada um deles:


1. Atmanjali mudra














É o gesto de saudação e invocação por excelência. Transmite sentimentos positivos, de serenidade e harmonia. É o Namasté, ou seja, o reconhecimento da alma divina (atman) que habita em mim em relação à mesma alma divina que habita a quem saúdo. Esse gesto expressa reverência ou gratidão, e simboliza respeito por todos os seres. Iniciando a meditação com atmanjali mudrá, a consciência se eleva, e iniciamos a jornada no “mundo interior”.


2. Pushpaputa mudra














É o gesto da oferenda. Simboliza abertura e aceitação a tudo o que a vida nos traz. Pushpaputa mudrá é a superação dos medos e das inseguranças, pois representa a confiança que temos na vida, independentemente do que nos aconteça, pois tudo aquilo que nos chega não é para julgarmos como bem ou mal, mas o modo como o vida nos ensina a nos libertar dos condicionamentos que nos aprisionam nas malhas do apego e do egoísmo. Estar de “mãos abertas” representa que estamos de “mente aberta” para o conhecimento que nos conduz pelo processo de evolução espiritual. No mais, esse mudrá simboliza que apenas estamos aptos a receber o mesmo que estamos dispostos a oferecer.



3. Padma mudra














É o gesto da pureza e do despertar da consciência para a iluminação espiritual. Simboliza a flor de lótus (padma), que nasce nas profundezas escuras da lama, para crescer e se elevar em busca da luz, na superfície da água límpida. Representa a pureza das intenções: boa-vontade e afeição emanam de nós, como força e poder incondicionais, que alcançam todos os seres. Uma flor aberta disponibiliza alimentos para os insetos, acolhe-os nas noites frias; por outro lado, esses insetos polinizam a flor e, juntos, cumprem o propósito de suas existências. Do mesmo modo, estamos todos conectados aos demais seres e ao Universo e, assim, todos dependem uns dos outros para uma vida de harmonia e perfeição. O que padma mudrá nos ensina é o princípio divino da abundância infinita: o que doamos aos outros, com pureza de intenção, receberemos muito mais em troca.



4. Granthini Mudra














Granthini significa "dúvida" ou "nó". Indica "um nó difícil de desatar", uma questão difícil de resolver. Na tradição do yoga, refere-se a um fluxo de energia corporal (prana) que se encontra bloqueado. Essas obstruções ou nós impedem que o prana seja liberado, restringindo a evolução espiritual. São essas barreiras energéticas que nos mantém aprisionados em nossos medos, apegos e aversões. Granthini mudrá, portanto, simboliza a derrubada das barreiras que dificultam o acesso a libertação espiritual (moksha). Considera-se como três os principais nós energéticos: 1) o apego ao corpo físico e medo da morte; 2) o desejo egóico pelo poder e pelo acúmulo de posses materiais; 3) a ignorância de que somos uma individualidade apartada do Todo. A prática desse gesto desperta a consciência individual para a sua realidade universal.



5. Hakini Mudra














Hakini mudrá está associado à sabedoria transcendente, conduzindo a consciência para o conhecimento de todas as dimensões do nosso ser. Ele representa a concentração correta e a atenção plena, pois somente em perfeito estado de concentração e atenção é que podemos penetrar na quietude e no silêncio, de onde emergirá a sabedoria. Hakini significa poder: o poder de controlar o fluxo mental e dispor a energia sob o nosso domínio. Portanto, hakini simboliza a harmonia entre o físico e o mental e, quando realizado na meditação, canaliza o prana para o despertar da consciência e a criatividade. Na sequência dessa prática meditativa de oito mudrás, esse gesto estabiliza a mente, mantendo-lhe o foco, e possibilita-nos a conexão mais profunda com o “mundo interior”.



6. Jñana mudra













Esse é o gesto do conhecimento do Ser. Os três dedos estendidos representam os três modos da natureza material (gunas), enquanto o círculo fechado do indicador e polegar simbolizam a natureza espiritual e sua perfeita realização: a união (yoga) de atman (consciência individual) com Brahman (consciência universal). Jñana mudrá nos ensina que nosso corpo físico e personalidade são manifestações da natureza material transitória e mutável, porém, para além disso, somos uma consciência infinita e eterna, uma expressão do Ser Supremo.



7. Dhyani mudra













Esse é o gesto da contemplação do Ser Supremo. Após contemplarmos o Ser Interior (atman) em Jñana mudrá, passamos a contemplar o Ser Superior (Brahman). O círculo formado pela união dos dedos polegares representa o Absoluto, o Todo-abrangente, não apenas uma união ou conexão, mas a absorção plena da consciência individual na Consciência Universal. Dhyani mudrá antecede o último estádio dessa prática meditativa; após a absorção no Todo, repousaremos em sua infinita benevolência.



8. Bhairava mudra












Bhairava é uma divindade que representa a face assustadora do Ser Supremo, que a todos os seres aterroriza e a tudo aniquila. A outra face do Ser Supremo é Satcitananda – paz, amor e bem-aventurança. Ao compreendermos as formas opostas e complementares das manifestação do divino, alcançaremos o conhecimento de que a sabedoria do Ser Supremo vai além de tudo o que a nossa mente dualista possa conceber; e que sua compaixão acolhe a todos os seres sencientes, em suas angústias e sofrimentos. Munidos desse conhecimento correto, devemos repousar na sabedoria transcendente e na compaixão infinita do Ser Supremo. Esse gesto nos conduz ao tranquilo permanecer, que nada mais significa a confiança absoluta na Presença Divina que a tudo permeia com sua infinita benevolência, e que derrama, sobre todos aqueles que o conhecem, as bençãos de suas eternas bem-aventuranças.


Com esse mudrá, alcançamos a perfeita harmonia, superando todas as dualidades, e finalizamos a meditação.


Hari Om Tat Sat.

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