Yoga é o caminho que conduz a revelação do Divino no Humano. Seus ensinamentos e práticas levam ao autoconhecimento, ou seja, ao conhecimento daquilo que somos em realidade. Yoga é liberdade e imortalidade. Pelo processo de autoconhecimento, somos libertados das limitações que a mente condicionada nos impõe. A mente, clarificada pela luz da consciência, torna-se aberta e receptiva ao amor, a verdade, a paz e a felicidade. Harmonia e serenidade se fazem presentes em nossa vida.
Imortalidade é estar livre dos contínuos ciclos de nascimentos e mortes. É quando, finalmente, o ser humano une-se ao Ser Divino, pois alcança a compreensão de que em cada ser vivo, em todo o Universo, em cada coisa, habita a Presença Suprema. Enquanto o ser humano não alcançar essa compreensão, vida e morte lhe acompanharão persistentemente em suas aventuras na existência terrena.
Yoga apresenta vários caminhos e meios para o ser humano revelar-se como Ser Divino. E, ainda mais, para que a vida terrena se transforme em uma vida divina. A vida terrena caracteriza-se pela atribulação e pelo egoísmo. A vida divina é serenidade e harmonia. Trazer serenidade e harmonia para a vida terrena é dever de todo ser humano, esteja ele consciente disso ou não.
Todas as tradições que buscam revelar o Divino no Humano, que trazem o Céu à Terra, têm o seu lado esotérico e o místico, sendo que umas tendem mais para um lado do que para o outro. O esotérico acredita que certos ensinamentos e conhecimentos devem ser mantidos em segredo, que jamais devem ser vulgarizados. Esses segredos são transmitidos apenas aos iniciados na tradição, seja ela filosófica, científica ou religiosa. Somente poucos escolhidos podem ter acesso à doutrina, aos rituais e práticas.
Muitos cristãos, sejam católicos, protestantes ou dissidentes, desconhecem que há um lado esotérico na tradição cristã. Eles negam que Jesus tenha deixado uma revelação oculta e em segredo, que não é para todos. Se apegaram apenas à figura histórica de Jesus, como salvador da humanidade, ignorando seus ensinamentos. Quantos que professam venerar o Cristo, carregam em si preconceitos contra tudo e todos? Porém, vejamos as palavras do próprio Jesus aos seus discípulos:
Então, os discípulos se aproximaram dele e perguntaram: “Por que lhes falas por meio de parábolas?” Ao que Ele respondeu: “Porque a vós foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino do Céu, mas a eles isso não foi concedido” (Mateus, 13: 11-12).
Jesus ensinava o povo por meio de parábolas, isto é, narrativas alegóricas que transmitem uma mensagem indireta, fazendo analogias. Portanto, Jesus não se dirigia ao povo abertamente, no sentido de comunicar diretamente os segredos dos seus ensinamentos. A revelação desses mistérios estava reservada apenas para poucos escolhidos, seus discípulos. Somente aos discípulos, os iniciados na doutrina, é que as coisas ocultas seriam reveladas abertamente.
Por que Jesus ensinava o povo por parábolas? Pois nem todas as pessoas estão aptas a receberem o tesouro da Verdade e ingressarem no Reino do Céu. Quantos há que, investidos de uma túnica ou travestidos de profetas ou apóstolos, deturpam as palavras do Mestre? Quantos há que, por interesses egoístas, corrompem os ensinamentos do Mestre e levam o povo a crer em mentiras e fanfarronices? Quantos há que fazem da Palavra Divina uma moeda de troca para obterem satisfações perversas? Porém, tudo a seu tempo, será esclarecido. “Porque não há coisa oculta que não haja de manifestar-se, nem escondida que não haja de saber-se e vir à luz” (Lucas 8:17).
O esotérico, portanto, é isso: uma revelação da Verdade, protegida, contudo, por símbolos, enigmas e analogias, cuja chave de acesso é concedida somente àqueles que estão preparados para recebê-la com a mente aberta e receptiva, iluminada pela consciência daquela Presença suprema que habita em nós. A todos os seres humanos será concedida essa revelação; porém, cada um a seu tempo, cada um conforme não apenas à sua fé, mas, também, pelas suas obras e devoção. Há de se estar preparado “em espírito e verdade” para adentrar o Reino do Céu. O próprio termo “Reino do Céu” é uma alegoria que temos que desvendar se, de fato, estivermos dispostos a conhecê-lo. Enquanto não houver sinceridade de propósito e intenção pura, ficaremos apenas com as parábolas, os símbolos e os enigmas, sem acesso às chaves do Reino do Céu.
Místico é uma percepção ampliada e profunda da Realidade, algo que nos sobrevém quando uma Verdade nos é revelada em um estado mental de silêncio e quietude. Um conhecimento místico é um conhecimento direto, uma compreensão súbita de uma questão, a solução de um problema que é captado pela mente num instante de luz. O místico surge quando estamos imersos no espírito, absorvidos pela consciência. Quando a mente silencia, quando a torrente implacável de pensamentos se aquieta, então a luz da consciência emerge e somos agraciados com a perfeição do conhecimento.
Como se trata de receber o conhecimento diretamente da própria Presença suprema que em nós habita, o místico não se apoia mais em escrituras ou palavras para alcançar a Verdade. “A letra é morta, mas o Espírito vivifica” (II Cor, 3:6). Isso quer dizer que nenhuma explicação ou interpretação que fizermos de um livro considerado sagrado, ou mesmo a palavra de uma autoridade eclesiástica, será suficiente para nos conduzir à libertação ou salvação, e a uma vida divina na existência terrestre.
Por mérito próprio, ninguém chegará à liberdade e à imortalidade. Podemos nos esforçar, e isso é válido e necessário para a evolução espiritual. O esforço pessoal é o primeiro passo a ser dado. Temos que “querer a perfeição”, desejar com ardor e fazer com sinceridade de propósito tudo o que estiver ao nosso alcance; um querer que não é para satisfação de interesses próprios, para ter reconhecimento social; mas um querer que é originado de uma intenção pura, a manifestação de uma vontade maior, que nos impele na busca do Divino no Humano. Mas não é o Humano que alcança o Divino; é o Divino que se revela ao Humano.
O místico pouco tem a ver com o esotérico. Enquanto o esotérico é algo velado, o místico se abre a todos, a todos que se dedicarem e perseverarem na vereda do autoconhecimento. Não se trata de um conhecimento oculto, no sentido de que uma pessoa ou um grupo de privilegiados detém os segredos da vida e da morte, da matéria e do espírito, da Terra e do Céu. Místico é um conhecimento que é dado do “alto”, mas que, em verdade, já nos pertence, pois está em nosso próprio interior. Não é algo que vem de fora, uma palavra, um ritual; porém, uma súbita revelação que nos é concedida pela Presença suprema que habita em nós. Por isso é “do alto”.
Jesus foi místico. Recebeu “do alto” os ensinamentos sobre a Verdade e a Realidade. Se não os revelou abertamente a todos, era porque nem todos compreenderiam, o que, de fato, aconteceu. Então, também foi esotérico, transmitindo os mistérios do Reino do Céu aos poucos discípulos que o acompanharam na jornada terrena. Porém, mais de mil anos passados, podemos ter acesso a esse conhecimento, a esse mistério. O yoga é o caminho. Alguém duvida que Jesus foi um yogi?
Hari Om Tat Sat.
Referências
BRANCO, Raul. Os ensinamentos de Jesus e a tradição esotérica Cristã.
YOGANANDA, Paramahansa. A yoga de Jesus.
YOGANANDA, Paramahansa. A segunda vinda da Cristo: a ressurreição do Cristo interior. Vol. 1 e 2.
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