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Foto do escritorMarcelo Augusti

O MANTRA DA PLENITUDE




Om purnamadah purnamidam purnat purnamudacyate

purnasya purnamadaya purnamevavasisyate

Om shanti, shanti, shanti.

(Isha Upanishad)




Na prática do yoga, a primeira dos Upanishads – coleção de textos clássicos do Vedanta – apresentada aos adeptos que se aprofundam no estudo da sabedoria transcendental, é a Isha Upanishad.


Isha Upanishad ou Ishavasya Upanishad (Isha = Mestre, Senhor, no sentido de governar, de quem domina e controla; vasya = aonde tudo habita, que encobre ou abarca tudo), designa o Ser Supremo, o Absoluto, o Ser Infinito – o Íshvara, a onipresença e unidade essencial que permeia todo o Universo.


Esta Upanishad revela-nos que, para além da matéria constitutiva do nosso corpo e mente, existe um manancial inesgotável de amor, paz e felicidade: o Ser, pleno de Plenitude.


Este Ser é pura consciência, existência eterna e bem-aventurança infinita. Ele é Plenitude. Ao entrarmos em sintonia com o Ser, por meio do yoga, o Íshvara (o Mestre interior que nos ensina o controle e domínio da mente), revela-nos a nossa essência divina e a vida plena ao qual pertencemos.


Esta Upanishad nos mostra que o mundo material não é uma força cósmica inconsequente, que nos aprisiona em um invólucro limitado e nos lança a um ciclo infernal de renascimentos e mortes infindáveis.


Logo em seu início, assim como em todas os Upanishads, temos a Invocação da Paz que, na Isha também é conhecida como o “Mantra da Plenitude”. Pois é sobre o Ser Supremo, o Absoluto, aquele que é pleno de Plenitude que ela nos fala.


Trata-se de um verso simples e direto, porém, para quem não é versado na sabedoria védica, parece um paradoxo ou mesmo uma alegoria infantil.


Entretanto, em sua simplicidade, esse verso traz em si toda a beleza da realidade e sua verdade, conforme nos ensina a tradição do yoga.


Vejamos o que nos revela o Mantra da Plenitude:


Purnamadah = Isto é Plenitude

(Eu que sou a Realidade e a Verdade, o Imanifesto, sou Plenitude)


Purnamidam = Aquilo é Plenitude

(Tudo o que se manifesta no mundo dos nomes e formas é Plenitude, sou Eu)


Purnat Purnamudacyate = A causa de tudo é Plenitude.

(Do Ser Supremo, emerge a vida, o universo e tudo o que nele há)


Purnasya Purnamadaya = O efeito de tudo é Plenitude.

(Em tudo o que existe no universo, em cada partícula de vida, o Ser Supremo está presente)


Purnamevavasisyate = Retirando-se o efeito, retirando-se a causa, o que resta é apenas Plenitude.

(Mesmo que o mundo material se desintegre, que tudo se disperse, quem fica e existe eternamente, sou Eu, o Infinito, o Absoluto, o Supremo – a Plenitude)


O visível e o invisível, o todo e a parte, tudo é expressão do princípio divino da criação, Brahman. Do Ser Supremo brota o princípio da vida – Brahman – e deste surge o universo e tudo o que nele há.


Quando o universo e tudo o que nele há retornar a Brahman, o que permanece é Brahman, o princípio da vida eterna e infinita.


Pois o mundo fenomênico, assim como Brahman, também é infinito (Purnamadah Purnamidam). Mas este mundo fenomênico é apenas uma projeção de Brahman (Purnat Purnamudacyate Purnasya Purnamadaya). Esta é a difícil ilusão – maya – ao qual temos que superar: a de que não existe o sofrimento, pois tudo é Plenitude (Purnamevavasisyate).


Quando, pelo yoga, nos unirmos ao princípio da vida, então o Mestre da Plenitude – o Íshvara que habita nosso coração - nos revelará este segredo: de que somos todos Um; e paz, amor e felicidade é a vida plena ao qual pertencemos.


Hari Om Tat Sat.


No mundo, tudo está sujeito à mudança,

Mas o Ser Supremo a tudo permeia.

Pelo yoga, mantém-te firme na consciência do Ser.

Não cobices nada de ninguém, pois nada lhe faltará.

(Isha Upanishad)


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