Obra Guernica, de Pablo Picasso, retrata o bombardeio da cidade de Guernica durante a Guerra Civil Espanhola (1936 -1939). Fonte: todamateria.com.br/guernica-de-pablo-picasso/
Como vimos no post sobre os Yamas e os Nyamas, o yoga mantém normas de convivência e de conduta para que os praticantes estabeleçam a harmonia entre eles e o ambiente a sua volta e para que consigam atingir níveis elevados de desenvolvimento pessoal. Os Yamas e Nyamas são os suportes dados pelo yoga para seguir a trilha rumo ao Samadhi, ou seja, em direção à vida em comunhão com a Natureza e com o Universo.
Hoje falaremos um pouco sobre Ahimsa, o primeiro dos cinco Yamas. Ahimsa é o yama ligado ao princípio da não violência. Praticá-lo é promover a paz, o respeito pelo outro, aceitar o que é diferente, enfim, é defender a não violência em nossas ações diárias!
Não é fácil praticá-lo, pois Ahimsa requer o cultivo dos bons pensamentos sobre nós mesmos e também sobre os outros. Exige cuidado e respeito com o que somos, mas também com o que nos envolve: o ambiente, as pessoas, animais, plantas, ar, água, etc. É necessário, portanto, estarmos abertos a ouvir as ideias diferentes das nossas. Cada um tem sua história, sua vida, suas razões, suas necessidades e ritmos. É preciso respeitá-los para estarmos afinados com Ahimsa!
São muitos os tipos de violência: físicas, verbais, simbólicas, gestuais e posturais. Quando praticamos Ahimsa procuramos evitá-las em suas diferentes manifestações. A violência, às vezes, emerge sorrateira e indiretamente. A agressão física é, certamente, a mais evidente e não deixa dúvidas quando acontece. Tirar a vida de alguém, ainda que de um inseto, talvez seja o tipo mais grave de violência. Guerras, chacinas, matadouros produzem sofrimento por meio da violência direcionada e configuram os exemplos mais explícitos de violência consentida. Na obra do pintor Pablo Picasso, Guernica, que representa os efeitos da guerra em uma população, podem ser observados os semblantes horrorizados de todos: pessoas, touros, cavalos, etc. Tudo é cinza e a ambiência de sofrimento é ampla.
Mas, palavras, olhares, posturas, gestos, indiferenças e ironias podem machucar, reprimir e afetar a vida de alguém de maneira profunda, dolorosa e muito prolongada. Para ilustrar sequelas deixadas por agressões físicas e verbais vou utilizar a história que se passa na comédia Loucos por Dinheiro, que muitos já podem ter assistido. Um casal em dificuldades financeiras descobre um bule mágico, que gera dinheiro a cada vez que eles se machucam. Inicialmente, percebem que cada agressão física sobre seus corpos rende muito dinheiro. Então, eles começam com leves tapas e tropeções, e vão intensificando as experiências para, proporcionalmente, aumentarem os ganhos financeiros gerados pelo bule. Basta ter a coragem, sentir a dor física, receber o dinheiro, aguardar o tempo para curar as feridas do corpo e começar de novo. Entretanto, chega um momento no qual as agressões físicas não produzem mais tantos efeitos e é necessário mudar de nível, por meio das agressões verbais. O casal passa a ter que enfrentar o outro tipo de dor, aquele que envolve mágoa, tristeza, decepção e as coisas não se regeneram tão facilmente como o corpo o faz. Embora seja uma comédia sem muitas pretensões, produz uma boa reflexão sobre o assunto.
Ainda que a demonstração de fúria seja direcionada para alguém ou algo específico, todo o ambiente no qual ela ocorre, se ressente. Tudo se desestabiliza. Paira uma outra energia no ar, ou pior que isso, a energia local se esvai. Presenciar uma cena violenta agride a todos. A cena e os sons impactam e se perpetuam na memória de todos.
Quando a ordem coletiva não é respeitada, ela é violentada. A produção de barulho excessivo na vizinhança, o tom de voz exagerado em locais públicos ou privados, o lixo espalhado pela cidade, imposições em benefício próprio sem respeito ao bem-estar do outro, são tipos de violências.
Para permanecer em Ahimsa, é necessário colocar a atenção sobre nossos comportamentos, desenvolver a consciência e o controle das nossas ações, emoções, palavras, gestos e posturas. Tenhamos como referência a passagem das borboletas pelos ambientes. Atravessam sem fazer barulho, sem incomodar. São vistas. Chamam a atenção devido à beleza, a alegria de suas cores e à suavidade de suas asas! Jamais pela brutalidade.
Ainda que já tenhamos sido violentos em alguma medida, e as consequências tenham sido as piores, sempre há tempo para a busca da redenção e para o recomeço, em uma ambiência melhor, mais pacífica e harmônica!
Na próxima quarta-feira, falaremos sobre Satya, o cultivo da verdade!
Até lá!
Om Shanti.
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