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Foto do escritorMarcelo Augusti

O YOGA E AS CELEBRIDADES





Somente aquele que não se perturba com o incessante fluxo dos desejos mundanos – que são como rios que entram no oceano, que sempre se enche, porém, nunca se agita ou transborda – somente este encontra a paz e a harmonia (Bhagavad Gita, II:70)



Muitas são as pessoas que anseiam pelos holofotes da publicidade para tornarem-se em atrações que apenas servem para o entretenimento de um público fascinado por seus atos exibicionistas, relatados em profusão pelas mídias sociais. Para essas pessoas, o importante é garantir o contrato com bons patrocinadores, cujo interesse é modelar o público conforme seus interesses estritamente comerciais. Tais pessoas buscam apenas prestígio e dinheiro. Querem tornar-se famosas, notáveis, reputadas – querem ser celebridades.


O principal exercício das celebridades é criar uma aura de encantamento nas pessoas, padronizar as massas, fazer daquilo que é tradicional algo brilhante e, com isso, enriquecer enquanto podem se manter na crista da onda. Para se tornar uma celebridade, diplomas não são necessários, tampouco algum tipo de riqueza herdada: o que vale é o quanto de energia se está disposto a despender para alcançar o êxito esperado, ou seja, o sucesso da influência sobre o outro. O principal talento exigido para se tornar uma celebridade é a autopromoção.


No universo da publicidade, a autopromoção é baseada em técnicas de venda e estratégias de marketing voltadas para a divulgação de supostas qualidades profissionais incríveis. O objetivo da autopromoção é o alcance da maior quantidade de clientes em potencial, ao destacar as capacidades e habilidades extraordinárias da celebridade, que irá revelar dicas e segredos que “mudarão a sua vida”. Recursos como workshops, e-books, podcasts, canais de mídia, cursos de formação, palestras e relatos de pessoas (confirmando as destrezas ímpares da celebridade e o impacto espetacular que causaram às suas vidas), fazem parte dos métodos para a conquista do público.


As celebridades, esse fenômeno social típico de uma cultura hiperconsumista e ostentatória, podem ser vistas em qualquer área profissional. Vemos celebridades na educação, na medicina, na advocacia, na política, na ciência, na engenharia, no esporte, na arquitetura, na filosofia, nas forças de segurança pública, na religião, enfim, elas estão em toda parte, povoando o imaginário popular. Onde há a possibilidade de se obter prestígio e dinheiro, enganando, iludindo, lá estarão as celebridades, fascinando a todos com suas “auras magnéticas”.


Um dos motivos para o yoga se tornar popular na América, foi pelo fato de que Eugenie Peterson (1899-2002), conhecida pelo nome artístico de Indra Devi, tornou-se a primeira professora de yoga em Hollywood, estabelecendo-se na Sunset Boulevard, em 1948, onde seus muitos e famosos alunos (entre eles Greta Garbo, Gloria Swanson, Robert Ryan, Yul Brinner e Jennifer Jones), lhe renderam o epíteto de “a primeira-dama do yoga”.


Indra Devi, sem dúvida, teve seus méritos: foi a primeira mulher a ser aluna, na Índia, daquele que é considerado o “pai do yoga moderno”, Krishnamacharya, que fez do yoga, uma cultura física, para que esta pudesse ser aceita mais facilmente no Ocidente. Foram as sementes plantadas por Indra Devi que tornaram o yoga uma moda entre milhões de pessoas, principalmente as mulheres, alcançando o auge na década de 1990, e se estendendo até os dias de hoje. Yoga, que se diga, como cultura física, como um meio para adquirir beleza corporal, para aliviar o estresse, como um estilo de vida saudável e ao mesmo tempo sexy, onde jovens mulheres esbeltas e flexíveis, com seus trajes feitos de nylon e lycra, explanam com elegância suas curvas.


Indra Devi, esta celebridade no universo do yoga, contribuiu, e muito, para a aceitação e expansão do yoga na América, embora, por um viés predominantemente físico, o que acabou por distorcer o que o yoga é, em sua essência. Além do mais, Devi fez do yoga uma modalidade quase exclusivamente feminina, pois que exalta a flexibilidade, uma qualidade física em que as mulheres são muito superiores aos homens. Tais distorções afastam muitas pessoas do yoga, pois se aos homens é difícil executar determinadas posturas, devido à sua menor mobilidade articular, muitas mulheres se sentem constrangidas por não terem o corpo esbelto o suficiente ou não serem tão flexíveis como as outras.


Yoga é para todas as pessoas, de todos os gêneros, de todas as idades, de todas as camadas sociais, de todos os corpos, de todas as etnias e religiões. Yoga é a busca pela espiritualidade, pela nossa essência, e não pelo corpo perfeito a todo custo. A perfeição do yoga está no alcance da libertação de todos os nossos desejos condicionados, inclusive o próprio desejo de se libertar.


Entretanto, ao fazer do yoga um produto a ser comercializado no mercado da cultura física, disseminado por famosos, oferecido somente a quem pode pagar pelos seus inúmeros acessórios, cursos de formação de elevado custo financeiro, matrículas e mensalidades em “estúdios” supermodernos, com professores inventando métodos e sistemas “científicos” que prometem performances físicas e mentais que se dizem superiores aos concorrentes, acredito que estamos perdendo, em muito, o que o yoga pode nos oferecer como o seu mais valioso bem: a paz interior, a harmonia com todos os seres e a integração com a natureza.


Hari Om Tat Sat.


Mas o que é uma celebridade? As celebridades são os Nomes que não precisam de melhor identificação. O número de pessoas que as conhecem excede o número de pessoas que elas conhecem. Onde quer que estejam, as celebridades são reconhecidas e, o que é mais importante, reconhecidas com emoção e surpresa. Tudo o que fazem tem valor publicitário. Mais ou menos continuamente, dentro de certo período de tempo, são material para os meios de comunicação e diversão. E quando esse tempo acaba, e tem de acabar, e se a celebridade ainda vive – da melhor forma que puder – de vez em quando talvez ouça perguntarem: “Lembra-se dele?”. É isso que significa a celebridade (Charles Wright Mills)

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