O apego nasce com o senso de “eu” e “meu”. Encontre o verdadeiro sentido dessas palavras e liberte-se de todas as amarras. Quando você reconhecer o “eu” como ele é, um feixe de desejos e de medos, e o senso de “meu” como abrangendo todas as coisas e pessoas necessárias ao objetivo de evitar a dor e assegurar o prazer, você verá que “eu” e “meu” são ideias falsas que, criadas pela sua mente, então te dominam quando você as toma por realidade (Sri Nisargadatta Maharaj)
A percepção do “eu” e “meu” é resultado do acúmulo de nossas experiências, que se fragmentam em memórias e tornam-se nossas lembranças. Todas as lembranças daquilo que já vivenciamos nos possibilitam a formação de uma identidade corporal, pois toda experiência é realizada no e pelo corpo.
O senso de “eu” e “meu” é o que denominamos de ego ou “eu falso”. Esse ego é um produto do corpomente e, embora nos possibilite a orientação para nos relacionarmos no “mundo externo” (temos um nome, uma forma, um endereço, uma idade, uma profissão, uma família, etc.), todavia, não é aquilo que somos em realidade.
Quando nos identificamos com o ego, ou seja, quando a alma se identifica equivocadamente como sendo o corpomente, é o ego que passa a administrar a nossa vida. Como o ego é um emaranhado de lembranças que geram uma identificação, tudo o que iremos fazer é no sentido de evitar o que foi classificado como desagradável (fruto de nossas experiências passadas), e buscar repetir tudo o que foi percebido como agradável.
Podemos afirmar que o “eu” e “meu”, quando assumem a direção de nossa vida, nos lançam nas armadilhas do jogo do tempo, pois a mente em movimento (evitando o desagradável e buscando o agradável), sempre vagueia desordenada entre o passado e o futuro. Ou seja, nesse movimento da mente, orquestrado pelo ego (que nada mais é do que o produto da mente), nunca estamos inteiros na experiência vivida, isto é, não há integração ego-alma (os desejos de satisfação do ego não refletem a vontade de liberação da alma).
Essa falta de harmonia gera na alma – identificada com o corpomente – o sofrimento. Sofrimento é toda a bagagem psicocorporal que carregamos quando tomamos as experiências dolorosas do corpomente, engendradas pelo ego, como se fossem reais e verdadeiras, ou seja, da própria alma. Mas a alma, em si mesma, não sofre; o sofrimento se dá pela identificação errônea com o corpomente, ou seja, a alma que sofre padece da ilusão de "ser o que ela não é".
Todavia, o corpomente também gera prazer físico e psíquico. Esse prazer, entretanto, é efêmero e, quando as sensações agradáveis do corpomente se refletem na alma que com ele está identificada, ao mesmo tempo que geram satisfação, também provocam a necessidade de repetir a dose. Tal é essa necessidade que, paradoxalmente, quanto mais se busca prazer no corpomente, mais sofrimento é sentido pela alma, que anseia pela repetição da experiência prazerosa.
Todo apego, logo, nasce dessa equivocada identificação da alma com o corpomente. Enquanto o ego precisa ter cada vez mais experiências, pois é isso que o faz subsistir, a alma de nada necessita ter, pois ela já é o que tanto busca: plena felicidade. Ou seja, enquanto o ego é uma invenção da mente transitória, a alma é pura existência, é eterna e infinita.
Enquanto não retoma a sua verdadeira natureza e se reconhece como Sat-chit-ānanda (“existência, consciência e êxtase”), por mais absurdo que pareça, a alma se apega tanto ao que gera satisfação, quanto ao que provoca dor. A alma, identificada com o corpomente de sofrimento – pois independente dos eventos, o que resta no final é sofrimento – torna-se, então, prisioneira do ego, vítima de si mesma e de sua ignorância.
O yoga, quando praticado com constância e seriedade, nos permite investigar o comportamento do corpomente em seus pormenores. Estar atento aos movimentos da mente e às ações do corpo, nos possibilita o controle da mente e o domínio do corpo.
O que prevalece, quando a alma está presente, administrando a própria vida ao invés de delegar seu poder ao ego, é a consciência, ou seja, aquilo que nos permite a compreensão da totalidade de nosso “mundo interior”.
Quando meditamos no mantra So ham (“eu sou isso”), estamos contemplando a essência Divina em nós. Esta essência Divina é a nossa natureza espiritual Sat-chit-ānanda. So ham corresponde ao som da respiração, quando respiramos de modo inconsciente (so = inspiração; ham = expiração).
No yoga, sabemos que o que nos conecta ao “mundo interior”, é a respiração. So ham, quando trazido à consciência, conduz a alma de volta ao domínio da mente e ao controle do corpo, lhe reconstituindo o poder de administrar a própria vida e de conduzi-la em paz, em amor e felicidade.
Hari Om Tat Sat.
Enquanto houver mente, haverá dor e prazer. Para ir além da dor e do prazer, você tem que ir além da mente, o que somente é possível quando você encarar a mente como algo que acontece a você, e não em você. Ir além da mente é o estado de verdadeira consciência, é permanecer presente, sendo a testemunha de tudo, mas sem se afetar por nada.
(Sri Nisargadatta Maharaj)
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