Agora falo do primeiro rebento que cresce (da planta do Yoga) da completa realização de Brahman, no qual deve ser realizado por meio dos seis chakras e assim por diante em sua ordem apropriada
(Sat Cakra Nirupana)
O Yoga, como já visto em outros textos desse blog, é o processo de ascensão da consciência individual em direção à integração com a Consciência Universal. Quando a consciência individual se integra à Consciência Universal, então ela retorna ao seu estado original constitutivo, ou seja, a plena harmonia Terra-Céu, Humano-Divino, Matéria-Espírito.
Na tradição do Yoga, os chakras são centros de energia distribuídos pelo corpo humano. A palavra chakra significa "roda", ou seja, são centros por onde a energia vital (prana) circula pelo corpo, promovendo a saúde física e mental do indivíduo. Porém, mais do que isso, os chakras são núcleos de desenvolvimento da alma, isto é, pontos estratégicos pelas quais a consciência ascende, numa espiral, da sua percepção do humano ao conhecimento do divino.
Os chakras se comunicam por canais, denominados nadis. Para o estudo e prática do Yoga, há sete chakras principais: muladhara, svadhisthana, manipura, anahata, vishuddha, ajna e sahasrára. Do primeiro ao sexto chakras, eles se comunicam pelo canal central (sushumna), ladeados por dois canais que correm em paralelo, em forma de espiral (ida e pingala). Esses seis chakras se localizam ao longo da coluna vertebral, partindo de sua base (muladhara) até a parte frontal da cabeça, entre as sobrancelhas (ajna). O sétimo chakra se encontra no topo da cabeça, sem comunicação direta com os demais.
Como dissemos, cada chakra é um núcleo específico onde a consciência deve ascender para alcançar o seu estado original constitutivo, ou seja, uma unidade com a Consciência Universal. Cada chakra, portanto, representa uma etapa a ser superada; somente assim, a consciência individual, limitada se aprisionada em cada núcleo, se revelará como Consciência Universal, ilimitada, liberta das condições impostas pelos chakras.
É interessante observar que os desafios dos três primeiros chakras (muladhara, svadhisthana e manipura), está em superar aquilo que aprisiona a consciência individual à vida terrena: as necessidades básicas do corpo, os medos e desejos. Uma vez superadas essas etapas, o quarto chakra (anahata) é o elo intermediário entre a Terra e o Céu, ou seja, é o responsável pelo primeiro encontro do Humano com o Divino, nessa escala evolutiva da consciência individual.
O quinto (vishuddha) e sexto (ajna), são os núcleos mais avançados dessa ascensão, onde a consciência individual, após vislumbrar sua natureza espiritual e estabelecer a firme convicção em sua condição divina, reconhece a sua unicidade com a Consciência Universal, embora ainda não tenha se integrado a ela.
O caminho do primeiro ao terceiro chakra, depende, basicamente, da disposição do indivíduo em seguir adiante, em vencer as etapas. Seu esforço é solicitado, sua atitude ética e moral é posta à prova, pois há de se desprender das muitas tendências humanas e terrenas que aprisionam a alma ao ciclo do samsara. A partir do quarto ao sexto chakra, a consciência individual é guiada pelo Espírito Primordial (Purusha) que habita em cada um de nós. É ele quem conduzirá a consciência individual a reconhecer Atman, isto é, o princípio humano mais elevado, sua essência divina, eterna, imortal.
Por fim, o sétimo chakra (sahasrára), por não estar em comunicação com os outros pela nadis (sushumna, ida e pingala), não pode ser acessado por essas vias. O caminho do primeiro ao sexto chakra, como dissemos, depende tanto do esforço do indivíduo em se dedicar à sua ascensão, quanto do auxílio de um guia espiritual interior, que surge quando o indivíduo supera as três primeiras etapas. Como se diz na tradição do Yoga, o verdadeiro mestre apenas surge quando o discípulo está preparado para receber os ensinamentos mais elevados.
Portanto, do sexto ao sétimo chakra, a comunicação entre Humano e Divino, Terra e Céu, se dá por um "salto quântico", ou seja, quando ocorre uma mudança abrupta e significativa no estado da consciência individual; isto é, o processo, que até então era realizado gradualmente, núcleo a núcleo, passo a passo, vencendo as etapas, agora se faz de modo imprevisível, extraordinário e impensado.
A última etapa, portanto, de ajna para sahasrára, se faz de modo descontínuo, e essa peculiaridade na ascensão da consciência individual, podemos denominar de "Caminho de Deus". Isto ocorre quando a consciência individual alcança um nível de compreensão da existência em que pressente estar próxima de algo muito elevado, porém, não sabe como alcançá-lo. Desconfortável nessa situação, o indivíduo passa por um período de desespero, onde todos os seus esforços parecem não ter dado em nada. É como se houvesse fracassado.
A sensação é de que há um abismo intransponível entre a consciência individual e a Consciência Universal; mas tal abismo, necessita ser transposto, para que o plano de ascensão espiritual se complete e a alma, enfim, se liberte dos grilhões do karma (suas tendências humanas, suas impressões terrenas, que a fazem reviver continuamente o ciclo de prazer e sofrimento).
O "Caminho de Deus" é a última barreira a ser superada para que a consciência individual se liberte das amarras da Terra e retorne ao Céu, ou seja, para o estado original de bem-aventurança, paz e amor infinitos que são a essência de sua natureza eterna. Quando a consciência individual se depara com o último estágio de sua escala evolutiva no mundo terreno, a única coisa a fazer é continuar a jornada, fazer o que aprendeu com os ensinamentos de seu guru interior, sem jamais duvidar de sua realização suprema, por mais que isso pareça impossível de alcançar.
O "Caminho de Deus", logo, é um salto de fé. Somente pela fé e devoção (Bhakti Yoga) a etapa final poderá ser superada. As primeiras três etapas, podem ser superadas pela via das ações corretas (Karma Yoga); as três posteriores, pela via do conhecimento (Jñana Yoga). A última etapa, é a via da contemplação e meditação (Raja Yoga).
No próximo post, trataremos de cada uma das etapas da evolução da consciência, suas características e desafios, e a representação de cada chakra no processo do yoga até a ascensão final.
Hari Om Tat Sat.
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