Pratyahara, o quinto passo do caminho óctuplo do Yoga que iremos aqui estudar, é compreendido como a capacidade de controlar os sentidos para a estabilização e tranquilização da mente. É o passo que antecede a máxima concentração. É o estágio mental preparatório para os três últimos passos do caminho: Dharana (desenvolvimento da máxima concentração); Dhyana (o estado meditativo) e finalmente o Samadhy (a iluminação, a comunhão com o Divino).
Até aqui, a prática envolvia corpo, mente, energia e comportamentos. Todos os passos são relevantes e interdependentes no caminho óctuplo do Yoga, mas é a partir do Pratyahara que a trilha se torna mais estreita e mais específica no que se refere ao viés da preparação mental, concentração e meditação para atingirmos o objetivo.
O alemão Georg Feuerstein (1947-2012), importante estudioso do Yoga, nos explica que a prática conjunta de posturas (ásanas) e de controle de respiração (pranayamas) produz a diminuição progressiva à sensibilidade aos estímulos externos. Desse modo, a consciência fica "blindada" aos acontecimentos e influências do ambiente, e assim, é conduzida ao estado de recolhimento dos sentidos e controle das emoções. Nesse estado, estamos atentos mentalmente a tudo, mas afetados por nada!
Isto é Pratyahara!
Nossa mente fica, assim, extremamente ativa, mas os sentidos são mantidos no modo "desativado", sem afetações por sons, visões, sabores, aromas. Embora, durante a prática, os yogins mantenham seus corpos firmes, em postura sentada, e assim expressem uma imagem que os remeta à ausência, o que ocorre é exatamente o contrário disso. Absolutamente atenta, a mente está aberta, porém, não entregue aos agitadores dos sentidos. Pratica-se, assim, a inibição sensória.
Esse conceito está fundamentado na transferência das atenções voltadas ao mundo físico e ilusório para o que realmente é importante: o interior de cada um. Assim, independente das circunstâncias nas quais os yogins estão mergulhados, a mente estará protegida, fortalecida e fixada no objeto de concentração.
No Pratyahara não desprezamos o que está fora de nós, aprendemos com tudo o que está ao redor, mas nesta prática nos voltamos à interiorização. Estamos focados no autoconhecimento, na pureza dos sentimentos e na tranquilização interior.
Bhagavad-Gîtâ e Mahâbhârata
Alguns versos presentes no Bhagavad-Gîtâ, texto religioso hindu escrito em sânscrito e que pertence ao poema épico indiano Mahâbhârata, invocam este conceito e o relacionam com o recolhimento da tartaruga ao casco, com a renúncia aos prazeres devido ao poder que estes têm de arrastar a mente humana para onde querem, com as ilusões que confundem a mente. Tido por alguns autores como o texto sagrado de maior importância e influência no hinduísmo, o Mahâbhârata discute a evolução do ser humano, por meio do tri-varga, ou as três metas da vida humana. São elas: o desfrute sensorial (kama), o desenvolvimento econômico (artha) e religiosidade com seus códigos de conduta moral e rituais (dharma). Além das metas, o texto trata da liberação deste ciclo por meio de moksha e da saída do samsara, que são os ciclos de nascimento e morte. Estabelece ainda os métodos de desenvolvimento espiritual e o papel do Eu em nossa trajetória, seja material ou não.
Pratyahara e as renúncias
Pratyahara não condena moralmente os desejos, tais como os sexuais e os alimentares, desde que moderados. O que se leva em conta é a escravização do ser pelo desejo e a necessidade de controlar os sentidos para que a consciência se mantenha em retidão. Não se apregoa a eliminação das experiências sensoriais, mas o seu controle. Ou seja, a ideia de Pratyahara está ancorada no fortalecimento mental para que o praticante não se deixe dominar por nenhum dos sentidos e mantenha-se firme em seus propósitos.
Após esta leitura, convidamos os leitores à reflexão sobre o que os tira o foco e a concentração e prejudica a frutificação dos projetos.
O que desvirtua aquilo que foi concebido para ser bom?
As avaliações periódicas são importantes para nortear as escolhas e estruturar os caminhos!
A vida em equilíbrio, sempre!
Om Shanti.
Comments