Dinamarqueses, Noruegueses, Suecos e Butaneses encontraram em suas culturas os modos para um viver simples, sincero e feliz. Tornaram-se conhecidos por estarem entre os povos mais felizes do mundo!
Nos últimos anos dois tipos de estilos de vida têm sido apontados como os preferidos entre os habitantes dos povos nórdicos, especialmente dinamarqueses, noruegueses e suecos: o Hygge e o Lagom. Ambos os estilos estão voltados à busca da felicidade.
O termo hygge (pronúncia “ruga”) deriva de um termo norueguês do século XVI, hugga, vinculado à ideia de “conforto" no sentido de "consolo", consolar alguém” e que, posteriormente, passou a se vincular à ideia de conforto e aconchego. Mais disseminado entre os dinamarqueses, o estilo hygge remete então à sensação de acolhimento escandinavo, aos cuidados que se deseja ter junto aos ambientes nos quais se vive, pessoas com as quais se interage e, principalmente, consigo mesmo. Embora o termo exista há muito tempo, foi a partir de 2016 que passou a ser utilizado com maior frequência para descrever o modo de vida fundamentado nessas sensações de bem-estar.
Viver em consonância com o hygge, implica cuidar de si e de tudo que está no entorno de forma a torná-lo confortável e restaurativo. Embora esse estilo seja até indicado por médicos dinamarqueses no auxílio de tratamentos de doenças, seu uso se configura pelo carinho que há por trás das ações, nos cuidados que se costumava atribuir, antigamente, àqueles possíveis apenas em casas de avós, tais como tomar uma xícara de chá quentinho, envoltos por cobertores, recolhidos em silêncio e protegidos pela atmosfera doméstica.
A jornalista britânica Helen Russel, descreveu o termo como algo que se aproxima do prazer que se pode obter com coisas simples e calmantes. Outros escritores consideram que o termo pode incluir a valorização da arrumação da casa, da companhia e boa conversa entre amigos e familiares queridos, do consumo de comidas e bebidas simples e até dos famosos banhos gelados pelas manhãs nórdicas em épocas de temperaturas abaixo de 0°. Tudo isso pode ser considerado uma espécie de “hedonismo saudável” ou uma forma de se manter um “santuário” particular em detrimento às turbulências da vida, e até uma maneira de promover o equilibro em processos de transtornos afetivos.
É interessante observar que o termo é utilizado, muitas vezes, ao mesmo tempo que se considera esses povos, especialmente os dinamarqueses e, dependendo do período, também noruegueses e suecos, os mais felizes do mundo. Para o escritor Meik Wiking, CEO do Happiness Research Institute, instituição voltada aos estudos sobre níveis de bem-estar, felicidade e qualidade de vida, o que contribui significativamente com essa posição é o fato de tais populações terem suas necessidades básicas resolvidas, dentre as quais encontram-se educação gratuita e de boa qualidade, previdência social, assistência médica, descansos remunerados, entre outros. Desta foram, eles ficam livres para apreciarem o que há de melhor nas pequenas coisas da vida, sem a necessidade de buscar mais e mais dinheiro. Concentram-se na melhoria da qualidade de suas vidas.
Os suecos encontraram no estilo Lagom um caminho para o viver bem e mais feliz. O lagom valoriza a harmonia, o equilíbrio, a moderação e o contentamento na trilha da felicidade. Em tal estilo vive-se bem nem com menos e nem com mais, mas com o suficiente. Longe dos extremos, o meio seria o equilíbrio que não pende nem para um lado e nem para o outro. É lá que se encontra a medida para aplicar nas relações pessoais, nas aquisições, nos comportamentos, nas horas de trabalho e de festejos, nas quantidades de sono, comida, palavras, etc. A sociedade sueca é caracterizada como um solo fértil para a aplicação destes conceitos ou modos de viver, pois assim como os holandeses, são vistos como povos de hábitos simples, despretensiosos, modestos, com caráter confiável e espírito coletivo.
Autores que se debruçaram sobre o tema, como Lola A. Akerstrom autora de Lagom – o Segredo Sueco para Viver Bem; Linnea Dunne, autora de Lagom: A Arte Sueca para Uma Vida Equilibrada; Niki Brantmark autora de Lagom, a receita sueca para uma vida feliz e equilibrada, discorrem sobre as atitudes afinadas com o estilo lagom, dentre as quais estão a importância dos momentos de silêncio; o repúdio à repetição de obviedades; a importância de ouvir mais do que falar; a alimentação moderada; a sustentabilidade e a simplicidade; o controle sobre a dedicação às horas de trabalho; a rejeição ao exagero e o incentivo ao consumo consciente. É um modo de vida que se aproxima dos minimalistas e busca eliminar a pressão advinda das obrigações sociais.
Mas, se a boa condição financeira e política dos nórdicos é o que faz pensar que viver afinados com hygge e lagom só é possível para quem usufrui desse benefício, por que os butaneses também são considerados uns dos mais felizes do mundo? O Butão é um país pequeno, localizado no sul da Ásia, extremo leste dos Himalaias e faz fronteira com a China e a Índia e cerca de 23% de sua população vive abaixo da chamada linha da pobreza. Por outro lado, o país é famoso por incentivar seus habitantes à busca pelo equilíbrio entre felicidade espiritual e posse de bens materiais. As mídias e as tecnologias não afetam a população como um todo; a preservação do meio ambiente é compreendida como prioridade e grande parte do país está em área de parque nacional, onde vigoram leis rígidas de proteção às florestas e animais, além de terem baixos níveis de poluição e contarem com as montanhas do Himalaia como paisagem. A religião que prevalece é o budismo, cujos fundamentos são o respeito à natureza, o carma, a iluminação. É interessante pensar que o governo mantém o FIB, um indicador de Felicidade Interna Bruta, baseado na preocupação de medir a dimensão da sensação entre as pessoas.
O diferencial que coloca as populações entre as mais ou as menos felizes, conforme os casos acima, parece não ser a condição financeira – embora essa contribua significativamente para tornar tudo mais fácil e propício à eliminação de problemas - mas sim, a mentalidade desenvolvida para lidar com a vida, a natureza, o espírito, o corpo, as relações em geral. Tornando-se mais consciente daquilo que é essencial à vida, dos interesses coletivos e da divindade que existe em tudo que está ao nosso redor, a vida torna-se mais leve, porque coisas que não tem importância para o nosso desenvolvimento enquanto seres humanos melhores, tornam-se dispensáveis e são eliminadas. Quando a consciência é despertada para a vida em harmonia com a coletividade, seja entre humanos ou entre outros seres, passamos a perceber que as ações de cada um produzem efeitos profundos sobre a vida do outro. Da mesma forma, quando saímos do eixo de equilíbrio e entramos na zona dos extremos, também interferimos no equilíbrio universal.
A prática do Yoga pode ser um aliado para o trabalho de desenvolvimento corpo-mente-espírito, independente do país no qual se habite, cultura a qual pertença ou situação financeira que se usufrua. Ao tomar, por exemplo, os yamas e nyamas que as normas de conduta que os yogins seguem para tornarem-se pessoas justas com seu entorno, dedicadas, centradas e esforçadas para a elevação de seus próprios níveis de compreensão sobre a si próprios e sobre a vida, evocam-se modos genuinamente compatíveis com os estilos de vida que visam a simplicidade, disciplina, respeito, justiça e bem-estar (acompanhe as explicações de cada um dos yamas e nyamas em nossos posts semanais).
A filosofia indiana que existe há mais de cinco mil anos perpassa culturas diferentes e expressa comportamentos éticos que se sobressaem às famosas posturas e relaxamentos corporais. Mostram-se presentes nos mais diversos modos de viver que intentam a felicidade. Por meio de hábitos coerentes e saudáveis, o Yoga convida à felicidade de forma comedida e em busca daquilo que realmente importa: a vida em suas mais amplas representações!
Até o próximo post!
Om shanti
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