No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e Deus era o Verbo. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez (João, 1, 1-3)
A palavra tem poder. O poder da palavra está no som. O som é uma vibração. A palavra, dita ou a palavra pensada, emite vibrações. O som – as palavras, as vibrações – constitui-se na fonte criadora do Universo e tudo o que nele existe.
Desde a mais remota antiguidade, os sábios aprenderam que determinadas vibrações sonoras são capazes de elevar a consciência às mais altas esferas da espiritualidade. O Verbo, a palavra, dita em voz alta, sussurrada ou pensada, é a própria energia cósmica infinita que, ao vibrar, tudo cria e tudo transforma.
Mantra significa “instrumento do pensamento”. Pode ser uma sílaba ou um verso, entoado ou cantado em voz alta com outras pessoas, ou sozinho, em silêncio. Um mantra é pronunciado conforme descrições ritualísticas, cujo objetivo é estabelecer um estado mental contemplativo. Os mantras são utilizados em rituais do hinduísmo, do budismo e nas práticas de yoga.
Mas um mantra não é apenas algo a ser pronunciado, em voz ou mentalmente. Mantra é como uma chave de acesso a algo que você queira se tornar. Os antigos sábios conheciam o poder de criação dos mantras. A ciência atual, comprovou, por inúmeros experimentos, que o som cria formas. Veja o vídeo abaixo:
Ao entoar um mantra, uma forma específica associa-se ao som, conforme a emissão de sua frequência vibratória. Assim, entoar um mantra significa criar uma forma, ou seja, criar uma realidade. Um mantra, portanto, é algo que você irá se tornar, isto é, a chave para acessar uma realidade em construção.
Assim como todo som tem uma forma associada a ele, toda forma tem um som ligado a ela. Por isso se diz que todo o Universo e tudo o que nele existe, reverbera em frequências vibracionais, pois todo som é forma e toda forma é som. O som, pois, é uma onda psíquica, a primeira manifestação da Consciência Divina. Som é movimento, uma projeção de algo a ser criado ou transformado.
Na tradição do yoga, esse conhecimento que usa o som para criar certos tipos de formas ou realidades, denomina-se Nada Yoga. Conhecer as vibrações e suas frequências é dominar a forma e a realidade que a elas se associam. Por isso, os mantras têm força e poder.
A força do mantra está em sua repetição; o seu poder transformador, nas vibrações que emite. Um mantra, portanto, é uma “fórmula misteriosa”, uma sílaba, palavra ou expressão que, ao ser repetida na entonação correta, abre caminho para uma nova realidade. No yoga, um mantra deve ser repetido, em cada meditação, pelo menos, 108 vezes.
O número 108 é considerado sagrado pela tradição dos Vedas. Considera-se que os sábios do passado, chamados rishis, pela observação dos astros celestes (jyotisha), chegaram a algumas conclusões interessantes:
1) A distância aproximada entre o Sol e a Terra é 108 vezes o diâmetro do Sol;
2) A distância média entre a Lua e a Terra é de 108 vezes o diâmetro da Lua.
Os rishis chegaram a essas conclusões a partir de um simples experimento: com uma vara fincada no chão, afastando-se dela 108 vezes a sua altura, é possível estimar o diâmetro aparente do Sol e da Lua. A compreensão da “peregrinação da alma” passa pela compreensão mística da representação do Sol e da Lua. O Sol corresponde ao esplendor da Luz Divina; a Lua reflete a luminosidade do Sol. A alma é como a Lua: ela reflete a Luz Divina, que ilumina a sua jornada terrena.
Há, contudo, outros elementos que, na visão dos rishis, sustentam a ordem no Universo; eles perceberam correlações e correspondências nas várias dimensões da criação, onde tudo se atribui à manifestação da Consciência Divina, que a tudo contém, a tudo abarca. Muitas dessas correlações e correspondências (ou bandhu), na ordem do Universo, em termos de expressão numérica, reportam ao número 108. Por exemplo: 9 planetas celestes x 12 casas astrológicas = 108.
Lembrando que as casas astrológicas compõem o mapa astral de cada pessoa, e correspondem à configuração exata do Céu no momento em que ela nasceu. São essas casas que indicam as forças universais que se manifestarão em áreas específicas da vida das pessoas e que são influentes em seu destino na Terra. O 108, portanto, é a Consciência Divina que tudo guia e tudo manifesta no mundo terreno.
Antariksha ou o firmamento é o que está entre o Céu e a Terra. Essa região intermediária é representada pelo número 108, que representa o equivalente aos degraus que nos levam de volta da Terra ao Céu, ou nosso regresso ao Lar.
É por isso que, na tradição do yoga, os mantras devem ser repetidos 108 vezes no momento da meditação, pois ao meditar, abrem as portas da nossa consciência para a conexão espiritual e, num vislumbre da Consciência Divina, contemplamos o caminho de volta para casa.
O principal mantra na tradição védica e, consequentemente, no yoga, é a sílaba sagrada OM. Em sânscrito, OM significa “aquilo que tudo sustém”, a “realização da glória divina”. É o som transcendental (Shabda Braman), a palavra cósmica que revela a Realidade Suprema; é o som primordial que desperta na alma a Consciência Divina, para nela se unir.
OM é própria ordem do Universo físico e de todas as experiências sensíveis que nele vivenciamos. O mantra OM é a vibração fecunda da criação, o gérmen de todos os sons e vibrações da natureza. OM é o Verbo: ao ouvir OM, ao pronunciar OM, ao ver o símbolo OM ou contemplar OM, a energia vital vibra na frequência divina do Ser Superior. OM conduz ao silêncio interior e à elevação da consciência ao mais alto nível de espiritualidade: OM integra o Humano ao Divino.
Todos os mantras emergem do OM. Ele é a raiz de todos os mantras. Na tradição do yoga, OM representa os três estados da consciência: a vigília, o sonho, e o sono sem sonhos. A grafia do OM é o que permite essa representação: AUM. Sendo “A” (vigília), “U” (sono) e “M” (sono sem sonhos).
A vocalização do OM finaliza-se com o silêncio após a nasalização do M no final. Esse silêncio representa turya, o quarto estado da consciência e que é distinto dos demais. Turya é o domínio do inefável, do indescritível, do indefinível: é a essência da consciência, onde a alma e o Ser Interior tornam-se unos.
Om, é o Imutável, é tudo o que existe. O que foi, o que é e o que será, tudo é Om; e tudo o que não está submetido ao tempo triplo é também, realmente, a sílaba Om.
(Mandukya Upanishad)
Um dos mantras mais poderosos do yoga, é OM NAMAH SHIVAYA. Ao pronunciarmos esse mantra, expressamos nossa reverência a Shiva, aquele que nos desperta para o Ser Interior que existe em cada pessoa. Esse mantra, portanto, nos remete à compreensão de algo superior, de uma elevada força de transformação, uma potente energia de renovação. Shiva é considerado o criador do yoga e a divindade que representa a renovação. Quando se dá o encontro da alma com o Ser Interior, tudo se transforma, tudo se renova em nossa vida.
Além do que foi dito, mantra é qualquer palavra ou expressão que se repete muitas vezes. É um lema, uma frase que, à custa de repetição, buscamos nos convencer de algo, ou mudar a nossa realidade. Aqui, como instrumento da mente, o mantra pode se tornar um grande problema ou uma solução. Vejamos isso com muita atenção.
No yoga, o pensamento é considerado como o “arquiteto do destino”. Todo pensamento é uma imagem mental. Se temos um tipo de pensamento recorrente, uma imagem se forma em nossa mente. Essa imagem, por força do pensamento, torna-se uma realidade em potencial. Isso é possível, pois um pensamento recorrente é como um mantra: tem a força da repetição e o poder da criação.
Pensamentos, assim como palavras, geram vibrações. A depender da “força do pensamento”, essas vibrações têm o poder de viajar para bem distante, em muitas direções. Pensamentos são coisas vivas, são formados por energia e carregam as energias que o constituem, sejam positivas ou negativas. As imagens formadas pelos pensamentos, se tornam cada vez mais nítidas quanto mais recorrente é o pensamento, quanto mais energia nelas depositamos.
Na maioria das vezes, não temos consciência de nossos pensamentos recorrentes. Pensamentos são imagens das coisas que acreditamos; boas ou ruins, não importa, essas imagens são enviadas ao subconsciente. E é no subconsciente que as imagens, os pensamentos, vão ganhando cada vez mais contorno e colorido, até se concretizarem no mundo exterior.
Sim, os pensamentos se concretizam. Cada pessoa é um mundo de pensamentos: e o seu mundo, são os seus pensamentos. Cabe ao subconsciente transformar pensamentos em realidade. Pois a função do subconsciente é exatamente essa: construir a realidade. A matéria que ele utiliza? As imagens geradas pelos pensamentos. Por isso, o pensamento é considerado como o “arquiteto do destino”. No yoga sempre se diz: “tenha bons pensamentos”. Pois o seu mundo é originado do seu pensamento.
Quem sempre pensa “não posso, não sou capaz, não consigo, sou azarado, nada dá certo comigo”, e coisas do tipo, não evolui, em nada progride, fica estagnado. Pois é essa a imagem que a pessoa transmite de si mesma ao mundo exterior, por meio das vibrações de seus pensamentos. É naquilo que você acredita, de si mesmo, que os outros acreditarão de ti. E não há como falsificar uma vibração: se você acredita no que pensa e pensa no que acredita, é exatamente isso que as pessoas pensarão de você.
Cada pensamento emite uma frequência vibracional, que é a energia vital que emana de cada ser, coisa ou objeto no Universo. Ao mesmo tempo que emitimos ao mundo exterior a nossa vibração em uma certa frequência, do mundo exterior recebemos de volta a frequência emitida. A qualidade da nossa frequência vibracional afeta o mundo exterior, de modo positivo ou negativo e, por fim, reverbera em nós mesmos.
Portanto, ao falar, pensar, sussurrar ou intencionar algo, emanamos ondas de energia vital com imenso potencial de criação ou transformação da realidade. Podemos construir realidades poderosas, boas ou ruins, apenas pela frequência vibracional que emitimos ao mundo exterior, pela força recorrente dos nossos pensamentos.
Por exemplo, quando tratamos a prosperidade e a abundância como algo que já faz parte da nossa vida cotidiana, as imagens que se formam no subconsciente serão de prosperidade e abundância, desde que nossos pensamentos se direcionem a uma vida próspera e abundante. Não importa como é a nossa vida atual; o que importa é como desejamos que ela seja daqui para frente e ser gratos por tudo o que já conquistamos, seja o que for.
Uma vez formada a imagem da prosperidade e da abundância, o subconsciente nos conduzirá para a realização da meta: nossas atitudes serão como a “flecha que segue para o alvo”, pois nossas ações serão conforme a direção para onde converge o fluxo da nossa energia vital.
Portanto, assim como os mantras, os pensamentos têm força e poder de criação. Trazem harmonia e serenidade ou desenganos e agitação. E todos nós desejamos uma vida melhor, com mais conforto, afeto, saúde, tranquilidade e realizações.
Na tradição do yoga, há muitos mantras específicos que, quando recitados, nos auxiliam na resolução das questões do dia-a-dia. Não esqueçamos que os mantras são “instrumentos do pensamento”. Os mantras, portanto, além de sua função espiritual, podem auxiliar em nossas necessidades materiais.
Nesse contexto, dois mantras são muito recitados na Índia, e que dizem respeito à solução dos problemas materiais: o mantra da remoção dos obstáculos à prosperidade e o mantra da riqueza e da abundância.
Assim como os outros mantras, esses devem ser recitados em voz baixa ou escutados com atenção, de preferência, repetidos mentalmente, concentrando-se em sua força criadora e poder transformador. É como um exercício de aprimoramento qualquer: tem que ser constante, e ter convicção.
Considera-se aqui que, para alcançar os resultados almejados, devem ser praticados 2 vezes ao dia, às 6h e 18h, recitando-os cada um deles por 108 vezes, durante 21 dias. É como um remédio que, nesse caso, nos cura e nos previne dos “maus pensamentos”, corrigindo os comportamentos equivocados que nos levam para rumos contrários ao que desejamos.
Por que às 6h e 18h? Explica-se: 6h e 18h são os horários em que os ponteiros dos relógios se encontram alinhados, apontando um para o alto e outro para baixo; simbolicamente, representam a conexão entre o Céu e a Terra; é também o momento de início e fim de ciclo: da noite que se vai e do dia que chega (6h), e do dia que se vai e da noite que chega (18h). É o momento da união dos opostos que se complementam (céu e terra, dia e noite, humano e divino).
E por que 21 dias? Explica-se: o número 21 é considerado especial. É o número da integração, da comunicação, da interação, da expansão e da inspiração. O que o faz ser especial, é a sua formação: 2 e 1. O número 1 representa a coragem que as pessoas têm para fazer o que for necessário para alcançar suas metas. O número 2 representa as dualidades que existem no Universo, ou os opostos que se complementam; o 2 indica respeito às dualidades.
Mais do que isso, 2 + 1 formam o número 3. O número 3 é considerado sagrado em quase todas as tradições esotéricas. Podemos falar do Pai, do Filho e do Espírito Santo; de Brahma, Vishnu, Shiva; ou do Homem, o Universo e Deus. O 3 é luz e criatividade. E podemos ir um pouco mais além: 21 é 3 x 7. O número 7 representa a transcendência, a espiritualidade, a Consciência Divina, a perfeição do Espírito Supremo.
Até a próxima!
Para remover obstáculos à prosperidade
Para riqueza e abundância
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