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Foto do escritorMarcelo Augusti

SADHANA PANCHAKAM: AS ETAPAS DA JORNADA ESPIRITUAL

Atualizado: 11 de mai. de 2023



Purusha so’hamasmi

“Este Ser, sou Eu”

(Isha Upanishad)


A prática do yoga nos conduz à revelação de nossa verdadeira identidade. “Quem sou eu?”, é a questão fundamental da nossa existência, ao qual devemos saber a resposta correta, caso nossa intenção seja viver plenamente o amor, a paz e a felicidade, enquanto transitamos na jornada terrena.


Adi Shankara, um dos mais renomados filósofos hindus, nos legou preciosos ensinamentos do Vedanta para que possamos alcançar moksha ou a liberação do infindável samsara, que nos enreda no interminável jogo das aparências do nome e forma, e no turbilhão das dualidades alegria e tristeza, prazer e sofrimento, vida e morte.


Uma das obras do sábio Shankara nos aponta os passos que devemos seguir para alcançarmos a resposta definitiva à pergunta “quem sou eu?” e, assim, vivermos na plenitude da paz, do amor e da felicidade.


Sadhana Panchakam ou “As cinco estrofes da prática”, é um poema escrito por Shankara, com as principais recomendações a todos aqueles que sentem o chamado para a realização da jornada espiritual.


Sadhana Panchakam é composto por cinco estrofes de oito versos, totalizando quarenta versos, sendo que cada um deles corresponde a um passo da jornada espiritual. Cada verso sintetiza a essência do autoconhecimento e dos ensinamentos do Vedanta sobre a Realidade.


No breve texto, Shankara explicita as recomendações que nos auxiliam a estabelecer os valores, os hábitos, as atitudes e práticas que devem ser adotadas e seguidas com consistência para nos mantermos atentos em nossa jornada espiritual.


A jornada espiritual é o caminho que nos conduz à revelação de quem somos. Como uma magnífica catedral, somos o templo sagrado do Divino, do Ser Supremo. Para entrarmos em um templo sagrado, se quisermos estar diante do altar da divindade que lá habita, temos que vencer os degraus de uma escadaria.


Do mesmo modo, cada verso do Sadhana Panchakam, cada passo dessa jornada espiritual, corresponde a um degrau, que deve ser superado, um a um, conforme a ordem sugerida por Shankara, para chegarmos à divindade que habita o nosso mais íntimo interior. Subir cada degrau é caminhar até o altar do nosso templo, onde estaremos, então, diante de quem, de fato, somos.


Os degraus correspondem àquilo que devemos fazer para que a Consciência imutável e ilimitada que é a nossa essência, se revele em todo o seu esplendor e plenitude. Por isso, as etapas da jornada espiritual rumo ao Ser Supremo, podem ser comparadas a uma escadaria (sopana), que nos conduz ao mais alto degrau da compreensão do sentido da existência, isto é, o conhecimento da realidade de quem somos.


Assim como a divindade já se encontra no interior da catedral, o Divino já habita em nós. Esta é a nossa verdadeira natureza. Logo, Sadhana Panchakam nos indica apenas os meios para que possamos descobrir essa natureza divina, ou seja, aquilo que somos em essência. Isto significa que aquilo que buscamos no mundo exterior - paz, amor e felicidade - corresponde exatamente àquilo que já somos em nosso interior, porém, não sabemos, devido à nossa ignorância (avidya).


Vejamos quais são os degraus da ascensão ao Conhecimento Supremo, essas 40 etapas que nos conduzem rumo à liberação da ilusão e do sofrimento:


Primeira estrofe


  1. Vedo nityam adhīyatam: estude sempre o Vedanta para obter o conhecimento da verdade;

  2. Taduditam karma svanusthīyatām: pratique os ensinamentos, cumpra seus deveres;

  3. Tenesasya vidhīyatam apacitih: dedique todas as ações a Íshvara, que cada pensamento, palavra ou ação seja uma oferenda ao Divino;

  4. Kāmye matistyajyatām: livre-se de todo apego por desejos mundanos, mantenha o foco na senda espiritual;

  5. Pāpaughah paridhūyatām: não prejudique ninguém, pois o maior prejudicado será você;

  6. Bhavasukhe dośo’nusandhīyatām: não desperdice energia e tempo com coisas fúteis ou inúteis, que limitam seu avanço;

  7. Ātmecchā vyavasīyatām: cultive o autoconhecimento;

  8. Nijagrhāttūrnam vinirgamyatām: abandone qualquer identificação com a sua personalidade limitada.


Segunda estrofe


  1. Sangassatsu vidhīyatām: esteja em companhia de pessoas que buscam o mesmo que você;

  2. Bhagavato bhaktirdrdhā’dhīyatām: seja consistente e fervoroso na devoção;

  3. Śāntyādih paricīyatām: cultive os seis valores: mente atenta, controle dos sentidos, serenidade, tolerância, confiança e concentração;

  4. Drdhataram karmāśu santyajyatām: abandone qualquer ação movida pelo ego;

  5. Sadvidvānupasrpyatām pratidinam: aproxime-se respeitosamente de um mestre para ser instruído;

  6. Tatpādukāsevyatām: dedique-se em favor de algo ou alguém, sirva com amor;

  7. Brahmaikāksaramarthyatām: compreenda que você é uno com o Ser Supremo;

  8. Śrutiśirovākyam samākarnyatām: esteja sempre disposto e atento para ouvir os ensinamentos do Vedanta.


Terceira estrofe


  1. Vākyārthaśca vicāryatām: medite sobre o significado dos mahāvākyas (as grandes contemplações): Tat tvam asi (Eu sou Aquilo), Ayam Atman Brahman (Atman e Brahma são o mesmo), Aham brahmasmi (Eu sou Brahman), Sarvam khlavidam Brahman (Tudo isto é Brahman);

  2. Śrutiśirah paksah samāśrīyatām: compreenda os ensinamentos das escrituras sagradas e eles te revelarão quem você é;

  3. Dustarkātsuviramyatām: não participe de discussões tolas, nem se perca em argumentações inúteis;

  4. Śrutimatastarko’nusan-dhīyatām: contemple o Ser ilimitado que é você;

  5. Brahmāsmīti vibhāvyatām: lembre-se sempre da grande contemplação Tat tvam asi;

  6. Aharahargarvah parityajyatām: abandone o orgulho e a vaidade;

  7. Dehe’hammatirujhyatām: elimine a identificação com o corpo-mente;

  8. Budhajanairvādah parityajyatām: não argumente contra os sábios.


Quarta estrofe


  1. Ksudvyādhiśca cikitsyatām: pelo alimento frugal, cure a doença da fome;

  2. Pratidinam bhiksausadham bhujyatām: alimente-se diariamente com aquilo que lhe é oferecido;

  3. Svādvannam na tu yācyatām: não seja exigente com os alimentos, aprecie o que a vida lhe dá;

  4. Vidhivaśātprāptena santusyatām: aceite tudo que venha até você;

  5. Śītosnādi visahyatām: seja indiferente com a dor e o prazer, o frio e o calor, a noite e o dia;

  6. Na tu vrthā vākyam samuccāryatām: evite conversas desnecessárias;

  7. Audāsīnyamabhīpsyatām: seja sempre imparcial diante de tudo;

  8. Janakrpānaisthuryamutsrjyatām: seja indiferente diante da gentileza ou da maldade das pessoas, mas sempre gentil em relação a elas.


Quinta estrofe


  1. Ekānte sukhamāsyatām: sozinho, em uma postura confortável, medite;

  2. Paratare cetassamādhīyatām: abstraindo-se das sensações exteriores, concentre-se no Ser Supremo;

  3. Pūrnātmā susamīksyatām: veja que você (Atman) é o Ser Supremo (Brahman);

  4. Jagadidam tadvādhitam drśyatām: observe como o mundo é inconsistente;

  5. Prākkarma pravilāpyatām: que os frutos das suas ações passadas não tenham mais efeito;

  6. Citibalānnāpyuttaraih ślisyatām: não se apegue a nada que possa lhe trazer problemas no futuro;

  7. Prārabdham tviha bhujyatām: que você possa exaurir, neste corpo e neste mundo, todas as tendências atuais;

  8. Atha parabrahmātmanā sthīyatām: depois da desintegração do corpo, no fim desta encarnação, que você seja (isto que você já é), paz, amor e felicidade eterna.


Esses são os versos de Shankara que nos revelam o caminho para uma vida plena de serenidade e harmonia.


Hari Om Tat Sat.



Referência:

Sadhana Pancakam, Sri Adi Sankara. Comentário de Swami Paramarthananda. Publicado por Arsha Avinash Foundation, Índia.







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