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Foto do escritorVanice Jeronymo

SANTOSHA, O NYAMA DO CONTENTAMENTO!


Praticar Santosha é aceitar as coisas como elas são e procurar manter um estado confortável para enfrentar todas as situações. É entender que elas acontecem no momento certo, nem cedo, nem tarde. Sem lamentos nem revoltas.



Santosha é o segundo dos cinco Nyamas. Os Nyamas, como vimos anteriormente, referem-se aos cuidados, às observâncias pessoais que o praticante de yoga procura seguir para que se dê o autoaperfeiçoamento. Os Nyamas constituem as disciplinas necessárias para o yogin desenvolver sua força física e mental e assim, conseguir atingir suas realizações e manter-se em harmonia com a vida.


Santocha remete ao esforço para manter-se em estado de contentamento perante qualquer situação, independente das circunstâncias. Praticar Santosha é aceitar as coisas como elas são e procurar manter um estado confortável em todas as circunstâncias da vida. É entender que tudo acontece no momento certo, nem cedo e nem tarde. Sem lamentos nem revoltas. É perceber que tudo transcorre como tem que ser, na hora certa, da forma certa, mesmo que, em princípio, nos pareça que algo veio tarde demais, ou muito cedo, e lamentar por isso.


Nada veio tarde ou cedo para nos atrapalhar o caminho. É difícil compreender os mistérios da ordem dos acontecimentos da vida, mas tudo está como deve ser, como deve ser, pois o que chega até nós são apenas os frutos das sementes que plantamos e das escolhas que fizemos. Portanto, não há porque se desesperar, pois recebemos no momento exato, aquilo que merecemos. O que fazer? Aprender e evoluir. Isso é Santosha!


Os acontecimentos nos atingem de diferentes maneiras. Sobretudo, quando há perdas de pessoas próximas, planos desfeitos, projetos de vida interrompidos, nessas circunstâncias, naturalmente, sentimos o desamparo profundo, um grande desapontamento e tristeza. Desanimados, às vezes faltam forças para seguirmos e somos conduzidos por nós mesmos ao lugar mais sombrio que podemos encontrar em nosso interior. Podemos ir ao encontro da depressão em seu mais elevado nível e, com isso, viver em sofrimento ou não mais viver.


Mas, Santosha nos ensina que por mais incompreensível que uma situação se apresente, é preciso aceitar as coisas como elas são e superar os sentimentos mais difíceis. Assim, aprendemos a desenvolver paciência para atingirmos nossos objetivos, por mais que eles pareçam, às vezes, inatingíveis. É neste Nyama que valorizamos nossos resultados intermediários, e os compreendemos como pontes necessárias para a conaquista do nosso melhor!


O comportamento de São Filipe Néri, padre católico que viveu durante o século XVI, frente às inúmeras dificuldades encontradas em seu tempo para conseguir colocar em prática seus projetos sociais parece-nos Santosha. Ele sabia aceitar as contrariedades, o cansaço, as injustiças com alegria. Acreditava no significado divino e oculto que havia por trás de cada um dos obstáculos e na possibilidade de crescer ao enfrentá-los assim. Culto e fiel aos seus propósitos e ao estilo de vida simples, dedicado especialmente às crianças e aos jovens pobres de Roma, recusou a oportunidade de tornar-se cardeal e manteve-se com alegria em seu caminho até a morte. Para ele a alegria consistia também no desapego ao poder e à fama. Ficou conhecido como o Santo da Alegria, do Sorriso de Deus!


No conto budista O Monge Feliz, o contentamento também está ancorado na vida simples e meditativa. Trata-se da história de um homem rico e de alta posição que ao iniciar a velhice, desistiu da riqueza e da posição social e partiu para a floresta para viver como um monge pobre. Percebeu que o sofrimento a ser enfrentado na velhice seria quase o mesmo para ricos e pobres. Então, dedicou-se à meditação, ao desenvolvimento mental e espiritual e como resultado tornou-se o Monge Feliz. Aprendeu a ver alegria em todas as coisas e seu maior ensinamento foi sobre o desapego à riqueza e ao poder como instrumento favorável ao aumento da felicidade.


Da mesma forma que os percalços nos conduzem a um estado profundo de um determinado sentimento, os bons resultados também podem nos conduzir ao sentimento extremo e oposto. A euforia, assim como a depressão, também nos retira do nosso equilíbrio e nos afeta o pensamento. Podemos, sem perceber, tomar comportamentos egoicos, simplesmente por estarmos muito felizes com nossos resultados e assim, o desequilíbrio estará posto! É preciso manter o contentamento, sem torná-lo exacerbado.


Santosha não é...


Conformismo...

Praticar Santosha nada tem a ver com o conformismo. O conformismo mantém a pessoa insatisfeita, dentro de uma situação na qual ela irá aceitar algo, porém, sob lamentação.

Otimismo exagerado...

Não se trata também de cultivar o otimismo exagerado, comportamento geralmente infantil e que mascara as situações. Em Santosha, aceita-se os acontecimentos com maturidade emocional, em harmonia, independente das turbulências. Tudo nos servirá de aprendizado para situações futuras.

Indiferença ou superficialidade...

Também não se trata de indiferença, superficialidades, minimização das ocorrências. Ao contrário! É compreendê-las em sua amplitude e percebê-las tão profundamente que elas nos permitirão o crescimento e o amadurecimento perante as adversidades ou às conquistas da vida.

A prática dos Nyamas, assim como dos Yamas, é algo difícil de se manter, exige esforço constante e um certo grau de policiamento interno para que não nos tornemos radicais, arrogantes, pretensos a uma sabedoria a ponto de nos sentirmos muito mais ou muito menos do que nossos iguais. Cabe-nos, em todas as oportunidades, exercer a gratidão e sentirmo-nos seguros, alicerçados em tudo que existe em nosso interior!

Como diz o antigo provérbio:

Não cairá uma folha de uma árvore, se Deus não quiser!

Admitidas todas as possibilidades sobre Deus, conforme a crença de cada um, isso seria Santosha: aceitarmos tranquilos e em estado de contentamento a descida das folhas sobre nossas cabeças! .


Om Shanti.





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