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Foto do escritorVanice Jeronymo

SVÃDHYÃYA, O QUARTO NYAMA: A BUSCA DO AUTOCONHECIMENTO


A permanência em silêncio, em contato com a natureza, pode ser um bom caminho para a prática de Svãdhyãya.


Este é o quarto dos cinco Nyamas. Os Nyamas, como vimos anteriormente, referem-se aos cuidados, às observâncias pessoais que o praticante de yoga procura seguir para que se dê seu autoaperfeiçoamento. Os Nyamas constituem as disciplinas necessárias para o yogi desenvolver sua força física e mental e assim, conseguir atingir suas realizações e manter-se em harmonia com a vida.


Svãdhyãya é um termo sânscrito que está relacionado à compreensão de si próprio, o autoestudo, o autoconhecimento: svā significa "próprio, o eu" e adhyāya significa "estudo, leitura, lição". Portanto, podemos compreender que este conceito vincula-se à leitura de si próprio, o estudo de quem somos, a observação e análise sincera de nossas ações, pensamentos, tendências.


Somente a partir da compreensão verdadeira sobre o que somos poderemos crescer e caminhar para a autorrealização.


Svãdhyãya nos ensina a lidar com as afetações emocionais provenientes das ilusões. No livro Yoga para Nervosos, o Prof. Hermógenes assim define esse Nyama:

"Svãdhyãya significa estudo do Ser e é remédio filosófico. Em livro tradicional da Índia fala-se que uma pessoa chegou a um quarto escuro e se horripilou ao ver uma cobra que a ameaçava. Depois que acendeu o candeeiro, constatou que era tão somente uma inofensiva corda. Nossas reações de medo, ódio, cobiça, ciúme, apego, finalmente todas as emoções com que reagimos ao mundo são originadas por um normal estado de ilusão, pois não vemos a corda, vemos a cobra. Reagimos à cobra que, embora sendo falsa, tem o poder de afetar-nos. Não vemos a corda, embora real. A Realidade não conhecemos. Ela é o Uno sem um Segundo, é o Absoluto, é o Ser, a Consciência e a Bem-aventurança escondida atrás deste mundo cheio de contrariedades, diversidades, de opostos, feito de nascimentos e mortes. O estudo do Ser, através da leitura de livros sagrados de todas as tradições religiosas, através de permanente observação das coisas de fora e de dentro de nós, através da meditação é que nos dá a coragem resultante de matar a ameaçadora cobra da ilusão.[...] A Realidade que Eu Sou nem adoece, nem sofre, nem morre, nem se perturba. Intranquilo, andei desejando e buscando poder, fortuna e prazer. Hoje - desiludido - salvo-me. Andei temendo coisas que também são ilusões. Desiludo-me e deixo o medo para trás, para longe de mim".

O Svãdhyãya nos motiva a encontrar nossa própria verdade e nos libertar das ilusões, que nada trarão. São muitos os caminhos para estar em contato com nossa essência. No Yoga, uma forma de praticar Svãdhyãya é por meio da repetição dos mantras. Ao recitá-los, levamos à mente sonoridades carregadas de significados. Esta prática auxilia no afastamento das tendências externas de nossas mentes. Contribui com o silenciar dos pensamentos e nos coloca em profundo contato com o que somos. Ainda que não estejamos habituados aos mantras incluídos nas práticas do Yoga, outras ferramentas nos serão úteis para promover o contato com nosso interior. A permanência em silêncio, em contato com a natureza, pode ser um bom caminho.


Atividades que nos mantenham no estado de absoluta entrega, no qual perdemos a noção do tempo, do espaço e até das nossas necessidades fisiológicas, promovem esta conexão. Muitas são as ações que nos permitem esse recolhimento. Podemos praticar uma meditação, ouvir uma música, entregar-nos a um trabalho artesanal, à leitura de um livro, praticar a escrita, experimentar um canto, contemplar um cântico, repetir uma oração, fazer uma caminhada, uma visita aos que já se foram, uma visita aos que ainda estão aqui ou a um lugar que fortalece aquilo que realmente somos.

Enfim, cada um saberá onde mirar para ser conduzido ao encontro com o próprio interior!

Svãdhyãyã no cotidiano

O que somos e o que nos dizem que somos Durante nossa infância, somos como esponjas que absorvem a água à qual estamos expostos. Muitas vezes, sem intenção de fazê-lo, familiares e amigos, expressam palavras ou sentimentos às crianças que acabam por moldar o comportamento delas na vida adulta.


Definições, críticas ou elogios, podem ser incorporados sem que sejam percebidos. Muitos caminhos posteriores podem ser seguidos a partir destas incorporações, e que nem sempre condizem com a essência de cada um. Costuma-se identificar tendências que definirão o futuro das crianças: este nasceu para ser isso; aquele não tem a menor vocação para ser aquilo; esta nasceu para brilhar; esse, coitado, não tem o reconhecimento devido; e assim por diante.


Há ainda aqueles que procuram despertar o melhor em seus rebentos a partir do estímulo para ser o melhor, sempre. Sem perceber, e sem a menor intenção, fazem exatamente o contrário. Ao ignorarem os esforços infantis, por exemplo, podem estimular os ressentimentos, as frustrações e as angústias advindas pela ilusão de acharem ser alguém que nunca atingirá seu melhor.


Ainda que se trilhem ou não os caminhos pré-determinados, a verdade com relação ao conhecimento do que se é na essência, geralmente fica obscura e confusa. Svãdhyãya nos convida à leitura sobre nós, de forma verdadeira, sem medos, julgamentos ou frustrações.


Atma-Vichara

(Auto investigação da Alma)


Quem sou eu?

Eu sou esse corpo?

Eu sou essa mente?

Eu sou esses pensamentos?

Eu sou essas emoções?

Eu sou esses sentimentos?

Eu sou esses desejos?

Eu sou essa personalidade?

Quem em mim posso chamar de eu?

Quem sou eu?

***

Não sou este corpo perecível. Sou a Alma, imutável e eterna.

Não sou esta mente inquieta. Sou a Alma, silenciosa e serena.

Não sou esses pensamentos incessantes. Sou a Alma, quietude e felicidade.

Não sou essas emoções agitadas. Sou a Alma, tranquila e ponderada.

Não sou esses sentimentos conflitantes. Sou a Alma, equilibrada e simples.

Não sou esses desejos que nuca satisfazem. Sou a Alma, satisfeita e plena.

Não sou essa personalidade efêmera. Sou a Alma, atemporal e infinita.

Quem sou eu? Sou a Alma, Consciência e Luz Divina.

O estudo de si mesmo, assim como qualquer outro estudo, deve ser feito com o objetivo de ser aplicado, transformado em realidade. Estudar não é uma atividade que terá um fim em si mesmo. O estudo deve ser absorvido, aplicado e transformador.



Convido-os à reflexão sobre a essência individual e sua compatibilidade com a vida!



Om Shanti.





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