A atenção plena consiste em observar sem criticar e em ser compassivo consigo mesmo. Quando a infelicidade e o estresse ocupam sua cabeça, em vez de levá-los para o lado pessoal, você aprende a tratá-los como se fossem apenas nuvens cinzentas e a observá-los com curiosidade enquanto se afastam. Em essência, a atenção plena permite que você capte os padrões dos pensamentos negativos antes que eles o lancem em uma espiral descendente. Esse é o início do processo para retomar o controle de sua vida. (Atenção Plena: como encontrar paz em um mundo frenético, 2011)
Vivemos na era da informação e da informatização. Assim denomina-se o atual período técnico e científico em que vivemos, cujo marco é a Terceira Revolução Industrial, ocorrida em meados do século XX.
A sociedade, nesse estágio atual, organiza-se em rede. Sua principal característica, fruto do enorme avanço tecnológico, é a intensificação do fluxo de dados, do armazenamento e compartilhamento da informação, cujo efeito mais sentido é a impressão de que a vida está mais acelerada.
Nesta sociedade, portanto, parece que não há mais tempo para nada e tudo passa muito rápido, pois o fluxo de informações é contínuo, e pode ser extensamente repetitivo ou muito diverso. Quando se percebe, a semana se foi, o mês passou, o ano findou. A sensação é que o tempo passou por nós, sem que dele desfrutássemos.
Ainda que a “sociedade da informação” tenha aproximado pessoas dos mais longínquos rincões, pois permite que permaneçam conectadas 24h do dia pelas inúmeras formas de tecnologias, ela acentua as desigualdades e diferenças. E como tudo acontece muito rápido, tudo é descartável.
Com o fluxo ininterrupto, as informações chegam com cada vez mais velocidade e em quantidade nunca vista, e por todos os meios tecnológicos possíveis; se faz necessário, portanto, analisar com muito cuidado as informações que circulam livremente nas redes sociais e meios digitais de comunicação. Paradoxalmente, a “era da informação” tem se revelado como a “era da desinformação”.
Além do apelo informativo das vias tecnológicas e redes virtuais, somos submetidos a uma enorme quantidade de outros estímulos que, sem piedade, assaltam a consciência: são os processamentos internos dos pensamentos e sentimentos, aos quais nos afundamos em divagações sem fim.
A questão é que a maioria dessas informações não tem qualquer relevância para a nossa vida, considerando-se nossas reais necessidades de bem-estar, saúde mental e evolução espiritual; tampouco dizem respeito às condutas que devemos observar em determinados momentos.
Em meio à absurda velocidade e quantidade de estímulos que chegam a nós, necessário, portanto, se faz um mecanismo que seja capaz de selecionar esse “mundo de informações”, e nos possibilitar a utilização sensata e adequada das mesmas; algo que, como um filtro, priorize o que é relevante, e descarte o que é dispensável. Este filtro é a atenção.
Mas, afinal, o que vem a ser a atenção? Atenção é o direcionamento da consciência sobre um determinado objeto, mantendo-se nele a concentração pelo tempo que for preciso. A atenção seleciona, organiza e filtra as informações, processando o fluxo ininterrupto de estímulos para obter dele o que nos interessa.
A atenção é como uma “luz interna” que ilumina os estímulos procedentes de determinado órgão sensorial. Essa “luz interna” lança o seu foco sobre os estímulos que nos chegam pelos sentidos da visão, da audição, do tato, do olfato, do paladar, do vestibular (equilíbrio e postura) e do proprioceptivo (consciência corporal do movimento na sua relação com o espaço), mantendo e favorecendo um em detrimento de outro.
Esse “foco de luz” ilumina, igualmente, os processamentos internos, levando-nos à consciência para os pensamentos e sentimentos, para que possamos nos dedicar a resolver as questões imediatas da vida e a tomar as melhores decisões para o futuro.
A atenção não é apenas um estado de vigilância da consciência; é, igualmente, uma função cognitiva complexa que também estimula a memória e facilita a aprendizagem. Com o envelhecimento, a capacidade de atenção e a concentração (um subproduto da atenção) se reduz, resultando em uma inibição das informações irrelevantes. O “filtro” se deteriora, e perde-se, portanto, a habilidade de memorização e a capacidade de estar atento de modo amplo e profundo.
Como uma capacidade da atividade psicológica, a atenção pode ser exercitada e aprimorada. A capacidade atencional é um aspecto fundamental do desenvolvimento humano, pois traz muitos benefícios para a nossa vida. Pesquisas evidenciam que a maior capacidade de atenção melhora o desempenho profissional e a aprendizagem em geral; e as pessoas “mais atentas”, ao longo da vida, apresentam menos problemas financeiros, de saúde e envolvimento em situações de risco e transgressões.
A atenção, assim, é responsável pela regulação do nosso comportamento ou autorregulação consciente. Uma pessoa atenta é capaz de inibir ou ignorar estímulos que levem à distração; “estar atento” significa que estamos monitorando o que fazemos, e isso nos impede de reações automáticas e condutas que possam ser prejudiciais. É a atenção que evita a impulsividade, a impaciência e a entrega à gratificação imediata, preservando algo melhor para nós, ainda que se encontre num futuro distante.
Três são os processos neurais, independentes entre si, e que controlam a atenção: o estado de alerta ou vigilância; o estado de orientação ou mudança de foco; e o estado executivo, que é a manutenção voluntária da atenção pelo tempo que for necessário para cumprir uma tarefa. O estado executivo é o responsável pelo que se denomina “atenção plena”.
É esta “atenção plena” que podemos exercitar e aprimorar com a prática de yoga. Ela se refere à habilidade metacognitiva de manter-se conscientemente atento, sem julgamentos, a tudo o que acontece no momento presente. Ou seja, é a capacidade de monitorar e regular os próprios processos cognitivos, de aprender sobre si mesmo e ter plena consciência dos próprios atos e pensamentos.
A “atenção plena” estabelece um estado de consciência refinado, amplo e profundo. Ela se aprimora, fundamentalmente, pela habilidade de observação do fluxo de eventos ou estímulos que se apresentam no “aqui e agora” e, a partir de uma atitude de aceitação nos possibilita distanciar, de modo consciente, de padrões mentais que geram as reações automáticas e os comportamentos indesejados.
O yoga, em sua essência, é uma prática contemplativa que visa regressar ao momento presente, de observar de modo particular – “prestar atenção” – ao que se passa no “aqui e agora”. Contemplar é uma “observação desinteressada”, isto é, perceber sem interpretar; é disso que decorre a “aceitação”, ou seja, aprender a perceber sem emitir opinião, parecer ou conceituar.
Quando percebo o aroma de uma flor, não penso “que perfume bom” ou “que cheiro desagradável”; apenas permito o fluir do aroma e as sensações e impressões que deixou em mim. Observo que, do mesmo modo que chegou até mim, passou e se foi. E nada mais é necessário. Isto é “atenção plena ao momento presente”.
O yoga nos propicia essa experiência do momento presente e o aperfeiçoamento da atenção plena. Pela prática de asana, por exemplo, tomamos consciência do nosso corpo, nossa postura, respiração, as sensações e pensamentos que disso decorrem.
Permanecer em silêncio por três minutos em um asana que nos seja desafiador, conforme os limites da nossa capacidade física do momento, é um excelente meio para se manter e aprimorar o foco atencional.
Durante os três minutos, devido a vários fatores externos ou internos, haverá uma alternância entre atenção e distração. E esse é o processo natural da aprendizagem da “atenção plena”: atenção, distração, consciência e retorno a atenção.
É esta sucessão de eventos – atenção e distração, intercalados com a consciência da distração e o retorno voluntário ao foco atencional – que faz do asana uma prática fundamental para aprimorar a atenção e “despertar a consciência”.
A prática de asana, portanto, nos auxilia a fixar a mente no objeto de contemplação. Fixar a mente é dharana ou concentração, o sexto aspecto descrito no Yoga Sutras de Patanjali. Trata-se do degrau imediato que leva à dhyana ou meditação.
Conforme ensinamentos do Swami Bhaskarananda, na obra Meditação: mente e a yoga de Patanjali (2019), fixar a mente por doze segundos correspondem a uma medida de dharana; manter-se em doze medidas de dharana (2’24”), correspondem a uma medida de dhyana. Logo, um asana mantido por três minutos, em plena atenção e concentração, constitui-se em uma prática de meditação.
Yoga é atenção ao momento presente. É plena consciência. Estude e pratique. Mas faça agora.
Hari Om Tat Sat.
Hoje em dia, é muito comum as pessoas se envolverem em várias atividades simultaneamente: respondem a mensagem do celular enquanto escutam música e estão, ao mesmo tempo, com duas ou mais telas abertas no computador. Temos a impressão que isso pode ser feito de forma eficiente e que, agindo desta maneira, aumentamos a produtividade. As pesquisas, todavia, mostram que não é possível estar atento conscientemente em duas atividades ao mesmo tempo. O que acontece é uma alternância de foco entre uma atividade e outra. Isso torna o desempenho mais lento, e o processamento da informação fica mais superficial. Após uma distração, leva-se alguns segundos para retomar o foco adequado. O hábito de envolver-se em multitarefas enfraquece a capacidade de manter a atenção por tempo prolongado. Perde-se, com isso, cada vez mais a habilidade da concentração, e uma das consequências é a dificuldade para ler textos mais extensos. Na verdade, tornamo-nos viciados na presença de alguma estimulação e temos cada vez mais dificuldade de ficar sozinhos com nossos pensamentos. (Ramon M. Cosenza, Neurociência e Mindfulness, 2021).
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