As qualidades de um Buda são alcançadas meditando sobre elas (Dalai Lama)
Todos seres humanos trazem em si a semente da perfeição, pois todos carregam o mesmo potencial divino. Ou seja, não há nada em especial ou particular a um único ser humano, que muitos já não realizaram ou que outros possam vir a realizar.
Isso significa que não há qualidade ou habilidade que não possamos expressar, que outros antes de nós já expressaram e outros mais expressarão. Todos os seres humanos, de todas as épocas, são dotados do mesmo potencial divino de realização.
Por meio do yoga das deidades podemos, quando assim desejarmos e com dedicação e perseverança, despertar esse potencial inerente a todo ser humano e, então, iniciar o processo de autotransformação.
O yoga das deidades ou Devatayoga é o yoga da contemplação das imagens divinas. Deidade se refere ao conjunto de forças e qualidades que se materializam em uma divindade. Logo, deidade é uma fonte de tudo o que provém do divino. Toda e qualquer deidade, portanto, é invariavelmente divina.
Contemplar uma imagem divina (yidam) é meditar nas qualidades que elas representam, e em sua força e poder de transformação do ser humano. Assim, com esforço e determinação, podemos nos transformar naquilo que contemplamos.
Qualidades divinas como amor, paz, felicidade, sabedoria, compaixão, generosidade, simplicidade e temperança, estão ao nosso alcance. Em verdade, elas já fazem parte de nós, e estão apenas aguardando pelo despertar da nossa consciência para que se manifestem espontaneamente em nossa vida.
O yoga das deidades, portanto, nos desperta para expressarmos aquilo que, em essência, já somos.
Visualizações
A técnica principal do yoga das deidades é a visualização. Visualizar a deidade e contemplar suas qualidades divinas para transformar-se na deidade, não literalmente, mas na expressão genuína de suas qualidades divinas.
Essa prática contemplativa reforça nosso reconhecimento e convicção de que somos, por natureza, um ser íntegro, e em harmonia com todos os demais seres sencientes, com todo o universo e com o Ser Supremo.
Portanto, o objetivo do yoga das deidades é nos fazer compreender a nossa própria essência espiritual e, mais do que isso, que essa essência é intrínseca a todos os seres. A deidade é apenas um reflexo de qualidades já inerentes ao praticante, o que torna esta prática diferente do mero pensamento desejoso de conquistar algo. Basta apenas permitir que a essência se manifeste.
O praticante pode contemplar representações da deidade como estátuas, pinturas ou mandalas. Mandalas, são frequentemente utilizadas como auxílio à visualização no ioga da deidade.
Ao imaginarmos a nós mesmos como possuidores das qualidades divinas da deidade contemplada, nosso corpo, nossa mente e nosso modo de expressão se modificam, de maneira que ocorre uma poderosa atualização (update) do nosso próprio ser em direção à manifestação das qualidades divinas. Trata-se de ativar os potenciais inatos que revelam a nossa essência espiritual.
Transformação da autoimagem
O processo do yoga das deidades nos leva ao mais elevado patamar da transformação pessoal. É pela integração entre o indivíduo que contempla e a imagem contemplada que se realiza uma união harmônica entre emoções e atitudes, culminando na construção mental de uma nova imagem do indivíduo, em semelhança à imagem da deidade.
Essa nova autoimagem, portanto, manifesta-se no comportamento do indivíduo em seu dia-a-dia, onde ele expressará, de modo espontâneo, as qualidades divinas da deidade contemplada em suas visualizações.
De um modo geral, a maioria das pessoas tem uma ou mais imagens com que se identifica e a partir delas forma sua autoimagem. Essas imagens, entretanto, podem ser positivas, negativas ou neutras, exatas ou exageradas. As imagens das deidades representam apenas qualidades positivas exatas, ou seja, as virtudes que os seres humanos, como almas celestiais, deveriam expressar, naturalmente, em suas vidas terrenas.
Se nos identificarmos com imagens negativas exageradas, e a partir delas construirmos nossa autoimagem, nosso comportamento se moldará conforme o que essas imagens representam. Esse engano nos conduz a situações catastróficas, que geram apenas sofrimento, tristeza e frustração. Tais imagens refletem apenas os desejos inferiores do ego, e nada têm a ver com a vontade superior da alma.
A identificação com as deidades e suas qualidades divinas, se baseia nos potenciais das suas naturezas espirituais, o que nos permite a realização destas qualidades para o bem de todos. Se aquilo com o qual nos identificamos não gerar riqueza espiritual para o bem de todos os seres, tampouco servirá para o nosso próprio benefício.
No yoga das deidades é fundamental compreender que nosso empenho está totalmente voltado para a liberação do sofrimento, a empatia, a compaixão e a sabedoria para o benefício de todos os seres sencientes. É o despertar da consciência para a nossa unidade e harmonia para com todos os seres do universo.
As deidades e suas respectivas imagens representam a perfeição a ser alcançada. É a perfeição de suas qualidades divinas que deve ser contemplada. São elas que estimulam o processo de purificação da nossa mente.
Purificar a mente significa conduzi-la de volta ao seu estado original, que é serenidade. Quando estamos envolvidos nas atividades do mundo, nossa mente se perturba com a diversidade e multiplicidade de pensamentos, preocupações e expectativas.
A mente, assim, em estado de agitação, fica obstruída em sua capacidade de discernimento. É muito comum entrarmos em desespero, em angústia ou ansiedade, quando a mente fica perturbada pelo excesso das atividades mundanas e o tráfego mental disso decorrente.
As imagens das deidades não são para serem adoradas, porém, contempladas, minuciosamente, em suas características. Quando contempladas em meditação, elas promovem uma íntima ligação com o praticante, quando este é capaz de se imaginar como detentor das mesmas qualidades divinas das deidades contempladas, sem, todavia, se apegar a elas.
Quanto mais se contempla as qualidades divinas das deidades, mais o praticante se aproxima delas, vinculando-se ao que elas representam. O resultado desse processo, como já dito, é a manifestação, em algum nível operante, das qualidades divinas da deidade contemplada na vida cotidiana do praticante, sem ele se deixar levar pelo ego.
O yoga das deidades também nos conduz a criação de um espaço mental tranquilo e estável. Por meio da contemplação diária, ela nos possibilita fluir com naturalidade pela vida, de modo que possamos nos expressar calmamente ao longo do dia, por mais caótico que ele esteja se apresentando.
Hari Om Tat Sat.
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