Um dia, haverá alguns que ousarão investigar a possibilidade de haver uma realidade lícita, que não está exposta aos cinco sentidos, uma realidade na qual o presente, o passado e o futuro estão interligados, na qual o espaço não é uma barreira e o tempo desapareceu; uma realidade que pode ser percebida e conhecida somente quando somos passivamente receptivos, em vez de ativamente inclinados a conhecer.
(Carl Rogers, psicólogo, 1972)
Yoga é o processo que promove o encontro da consciência individual com a Consciência Universal. A Consciência Universal designa a totalidade de tudo o que existe no Universo. O universo é também denominado de cosmo, que nada mais significa do que a harmonia desse universo, organizado de maneira regular e integrada. Quem organiza, regula e harmoniza o cosmo é a Consciência Universal.
Nos ensinamentos do Yoga Sutras de Patanjali, o encontro da consciência individual com a Consciência Universal torna-se possível quando a consciência individual se aparta das sensações corporais e dos pensamentos para, então, mergulhar no cosmo, ou seja, na harmonia do universo, tornando-se com ele uma unidade.
A psicologia transpessoal é um dos ramos da psicologia. Ela trata de investigar os fenômenos da consciência cósmica. Esse termo, “consciência cósmica”, foi utilizado por Richard Maurice Burke, um psiquiatra canadense, em 1901, ao qual designava um estado de consciência que está acima da consciência comum dos seres vivos, e mais além da autoconsciência.
A experiência da consciência cósmica leva o indivíduo a se perceber como parte integrante e indissociável do universo; essa experiência de unidade com o universo é acompanhada de sentimentos de paz, plenitude e amor a todos os seres vivos; o indivíduo sente-se iluminado, compreendendo de um relance a razão de toda a existência, a relatividade do tempo e do espaço, a insignificância das aparências e a ilusão do mundo em que vivemos.
A experiência da consciência cósmica não é uma experiência que pode ser acessada pelos cinco sentidos corporais; e, além de se situar fora dos cinco sentidos, ela supõe uma desconexão com esses sentidos. É como desligássemos nossos sentidos para alcançar algo além deles, que, por meio deles, jamais alcançaríamos. No yoga, essa desconexão com os sentidos corporais denomina-se pratyahara.
A experiência da consciência cósmica, logo, é uma experiência mística. Um fenômeno místico pode ser caracterizado pelos seguintes elementos: sentimento de unidade; transcendência do tempo e espaço; sensação ampla e profunda de bem-estar; senso apurado do sagrado; inefabilidade; súbito estado de êxtase; mudanças positivas nas atitudes perante a vida.
A psicologia transpessoal, ao tratar da conexão do indivíduo com a consciência cósmica, investiga os estados ampliados da consciência. Tais estados podem ser alcançados por técnicas específicas do yoga (asanas, pranaymas), e que são considerados fundamentais para a concentração (dharana) e a contemplação (dhyana), que conduzem ao autoconhecimento.
Essas técnicas, quando realizadas corretamente, abrem as portas para uma percepção ampliada para diferentes estados de consciência; isso implica no abandono momentâneo do pensamento, ou seja, do “eu penso, logo, sou”. Podemos dizer que no yoga, “enquanto eu penso, não sou”; abandonar o “eu penso” é o único meio para se revelar o “eu sou”.
Tanto no yoga como na psicologia transpessoal, o senso de identidade vai além do pessoal (além do ego, da personalidade), e abarca todos os aspectos da humanidade, do passado ao futuro, do presente, e do cosmo. Trata-se de um despertar espiritual, em que ambas podem promover experiências de memórias de outras vidas, identificação com a consciência de outros seres humanos ou animais e o desenvolvimento de uma consciência mais abrangente, profunda, universal.
Podemos dizer que a prática do yoga promove experiências transpessoais, pois nas experiências transpessoais, assim como no yoga, são eliminadas as inquietações do corpo e as correntes de pensamentos para se alcançar a percepção direta da realidade. Essa percepção direta da realidade se faz pela conexão com a consciência cósmica ou a comunhão com o universo (samadhi).
Vemos que o yoga e a psicologia transpessoal têm muito em comum. Ambas investigam e instigam a um estado espiritual da consciência. Ambas consideram que existe dentro de cada indivíduo um “algo” preexistente ao nascimento, uma essência subjacente e que está fora do tempo-espaço; que há em todo ser humano uma tendência à procura dessa unidade da existência universal, ao qual ele não mais percebe devido ao excessivo uso do raciocínio e dos cinco sentidos corporais em detrimento da intuição.
No yoga ou na psicologia transpessoal, o que leva o ser humano à busca da unidade fundamental, do conhecimento de sua essência espiritual e de ultrapassar as barreiras do ego, é a força e o poder desse “algo” preexistente, que o impele no rumo de uma bem-aventurança absoluta, ao qual ele é a própria felicidade.
Hari Om Tat Sat.
Comments