As emoções perturbadoras, que brotam de nosso apego a um “eu” que não existe, obstruem nossa paz e felicidade. Esse apego só pode ser superado pela compreensão de que esse “eu” é totalmente inexistente (Geshe Sonam Rinchen, monge budista)
A firmeza e a constância no yoga, traz como um dos principais benefícios, senão o mais importante, a dissociação da alma espiritual com o complexo formado pelo corpo-mente, e seu principal fenômeno, o ego.
O ego, como já visto, é o falso “eu”. Ele é a grande ilusão da mente. O maior desafio a ser superado no caminho da autorrealização espiritual é, exatamente, despir-se do falso “eu” para que o verdadeiro Eu se revele em toda a sua plenitude.
A mente tece a trama da vida e, com isso, cria o nosso mundo palpável. Desejos e fantasias surgem na mente dominada pelo ego e causam impacto em nosso corpo e em nossa vida. Mas tudo não passa de meras ilusões.
Tais ilusões, entretanto, provocam sofrimento na alma espiritual que, no estado de ignorância, se identifica com o falso “eu”. Pois a mente, em seus delírios egóicos, vê o que não existe, ouve o que não foi dito e percebe apenas as suas próprias ilusões. Nesse estado mental, perdemos o contato com a verdade e a realidade, e a paz e felicidade nos escapam.
O yoga nos convida a meditar sobre a nossa real natureza. A meta do yoga é o conhecimento direto da verdade e da realidade do que somos em essência. Enquanto esse conhecimento não for alcançado, a alma espiritual permanecerá agrilhoada ao ego e às ilusões da mente.
Pela prática da meditação, o falso “eu” será desnudado e a mente será purificada das ilusões. A mente, assim restituída ao seu estado original de serenidade e harmonia, será o instrumento que possibilitará que a alma espiritual se desvencilhe do falso “eu” e reconheça o Eu verdadeiro, ou seja, o Ser Interior.
Quando o ego se instala e domina a mente, ela se torna o instrumento para satisfazer o ego, seja em seus apegos ou aversões. A mente, controlada pelo ego, torna-se perturbada, pois o ego tem muitos desejos e nada o satisfaz por inteiro. O ego sempre quer mais e nunca se contenta com tudo.
O ego reage a todos os estímulos do mundo exterior que ele julga como agradáveis ou desagradáveis. O ego, portanto, opera mais no nível emocional do que no racional. Podemos dizer que o falso “eu” é regido pelas emoções: a tudo que o provoca, seja agradável ou não, ele dá uma resposta imediata, no sentido de buscar a própria satisfação.
Emoções, logo, evocam movimento; são reações intensas, inatas ou adquiridas, que podem se manifestar de modo consciente ou inconsciente. Em si mesmo, as emoções têm uma importante função de nos ajustar ao meio em que vivemos. Portanto, emoções geram comportamentos.
As emoções ditas inatas e universais são: alegria, tristeza, medo, nojo, surpresa, desprezo e raiva. Já dentre aquelas adquiridas ou aprendidas socialmente, podemos citar: vergonha, inveja, ciúme, empatia, orgulho, culpa, timidez. Essas fazem parte de um processo de construção social, que tem a ver com as relações familiares, religiosas, econômicas, políticas e culturais.
Quando um estímulo do ambiente nos impacta, é porque fomos afetados por uma emoção. Basicamente, a emoção é uma resposta que deve ser dada imediatamente a uma provocação ao ego. O ego, para manter a sua subsistência, necessita tanto garantir sua segurança ou honra (quando ofendido, “temos que revidar” o mais rápido possível), ou satisfazer algo que lhe agrade.
Emoções, como movimento, correspondem a fluxos de energia e, como tal, não podem ser obstruídas ou estagnar. Quando cristalizada na mente, a emoção torna-se um sentimento. Cristalizar é fixar algo na mente. Fixar na mente é um modo de aprendemos, culturalmente, a maneira “certa” de como devemos sentir ou reagir diante de uma emoção. A sociedade exige de seus membros a resposta emocional adequada a cada situação. Os sentimentos são um modo artificial de controle das emoções.
O sentimento, portanto, é uma emoção “racionalizada”, pois cada cultura nos ensina, por meio da educação, como “pensar e agir” socialmente, quando uma emoção “inflama” o ego. Há, portanto, uma estreita relação entre emoção, sentimento e pensamento. Eles interagem entre si e, sob o controle do ego, determinam, em certa medida, nosso modo de ser e estar no mundo.
O yoga nos familiariza com essas nuances da mente condicionada por sentimentos e pensamento que brotam das emoções. Quando percebemos, claramente, o falso “eu”, tudo aquilo que perturba a mente se dissipa. As emoções serão percebidas como emoções; e não haverá mais identificação da alma espiritual com os sentimentos e pensamentos decorrentes das emoções. Isso significa que, diante dos estímulos do ambiente, o ego não mais se avultará para dar respostas que lhe satisfaçam, e nenhuma provocação parecerá real.
Quando a experiência da inexistência do ego como “eu mesmo” se realiza, esse centro de comando na mente se desfaz. Os conteúdos mentais que impediam-nos a clareza da correta compreensão da verdade e da realidade, se dissipam e tudo se torna sereno e harmônico novamente.
Desalojar o falso “eu” do centro de comando das nossas vidas não é fácil. Porém, o caminho do autoconhecimento, pela via do yoga, exige que detenhamos esse impostor, para que o Eu verdadeiro – o Ser Interior – se revele em sua plenitude à alma espiritual. Saber identificar a emoção e o momento exato de seu surgimento, é um passo fundamental para a derrocada do ego como controlador da mente.
Falamos que as emoções se cristalizam na mente em forma de sentimentos e pensamentos. Mas elas também se cristalizam no corpo. Emoções, como já dito, são energias, cujo fluxo deve seguir livremente. O fluxo das emoções inatas, na maioria das vezes, se dissipa naturalmente. É difícil conter a alegria, o medo, a tristeza, a raiva, o nojo, a surpresa e o desprezo. Eles fluem naturalmente.
Porém, no caso das emoções construídas socialmente, o fluxo nem sempre é liberado. Podemos conter, em nossa mente e no corpo, a vergonha, a inveja, o ciúme, a empatia, o orgulho, a culpa e a timidez. Quando essas emoções são reprimidas, a mente e o corpo se perturbam, se agitam; e no corpo, assim como na mente, elas também tomam forma.
Em uma mente perturbada por emoções, somente imagens destrutivas podem ser formadas, somente pensamentos perversos podem ser originados. No corpo, podemos observar os efeitos deletérios das emoções na alteração da respiração (respiração curta, rápida, realizada na garganta, sem profundidade), e também, na tensão muscular, que se cristalizam em posturas.
Muitas posturas corporais refletem os efeitos deletérios das emoções. Pessoas cabisbaixas, encurvadas, ombros encolhidos, peito estufado, abdome contraído, modos de andar, sentar, comer, copular etc., mostram o quanto o corpo “fala” abertamente, daquilo que não flui livremente por “dentro”.
Yoga, com ásanas e pranaymas, soluciona os problemas posturais do corpo e da respiração. A meditação, soluciona as questões do ego e das emoções. As emoções são a causa de muitas inquietações que perturbam a mente e o corpo, adoecendo-os.
O yoga, com seus ensinamentos e práticas, nos proporciona a experiência da bem-aventurança de nossa verdadeira natureza. Somente o conhecimento da realidade nos emancipa de todas as expectativas e discriminações falsas. Permita-se o fluir sereno e harmônico das emoções sem, no entanto, identificar-se com elas.
Como lidar com as emoções:
Identifique a emoção no momento exato de seu surgimento. Pegue-a “no pulo”.
Não reaja, apenas observe o fluxo da emoção, como surge, como se dissipa.
Não receie o conflito interno, apenas observe o movimento do ego, não lute com ele.
Descreva o que está sentindo ou pensando.
Não julgue as emoções, apenas permita-as o surgir e o dissipar.
Resista às reações, respire com profundidade e suavidade. Sorria!
Hari Om Tat Sat.
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