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Foto do escritorMarcelo Augusti

YOGA, SUCESSO E FRACASSO

Atualizado: 26 de ago. de 2023



Aqui nenhum esforço é perdido, não há retrocesso ou prejuízo. Mesmo um pouco desta sabedoria (do yoga) liberta do grande medo (Bhagavad Gita, 2:40)



Há poucos dias atrás, uma personagem que está em evidência no cenário político da nossa sociedade, disse, em uma entrevista, que apenas com uma arma de fogo ao seu lado ele consegue ir para a cama dormir. Vamos analisar isto.


Dormir é o momento de repouso necessário após as muitas atividades que realizamos ao longo do dia. É um momento sagrado, que serve para revitalizarmos o corpo, relaxarmos a mente. É durante o sono que a energia vital faz reparos em nosso corpo e mente, nos restituindo a integridade física e psicológica para o novo dia que virá.


Uma pessoa consciente de sua liberdade, e consciente de que liberdade implica em responsabilidades, que cumpre seus deveres profissionais e familiares com honestidade, sinceridade e gratidão, sem expectativas de alcançar benefícios próprios, sem prejudicar ninguém, mas faz o que é correto apenas por ser correto, é uma pessoa, cujo projeto de vida, é um sucesso.


Tal pessoa, sem se importar com a quantidade de bens materiais que lhe foi concedida como resultado do seu trabalho honesto, sem se importar com fama ou poder, esta pessoa, fazendo o que é correto apenas por ser correto, alcançou o sucesso na vida. Esta é uma pessoa que, quando vai para a cama dormir, não necessita de uma arma de fogo ao seu lado, pois não tem nada a temer de uma “batida na porta à meia-noite”.


Mas quando alguém afirma, publicamente, que somente é capaz de dormir com uma arma de fogo ao lado, algo está muito errado na vida dessa pessoa. É possível que ela tenha feito coisas que prejudicaram outros, e sua consciência a acusa de seus atos desonestos, de suas mentiras e de sua falsidade.


De certo, esta pessoa está refém do medo e da insegurança. Pois podemos até tentar ignorar os “gritos” do mundo exterior, mas não podemos fugir à nossa própria consciência, mesmo que sua voz seja apenas sussurros. Para tal pessoa, há o temor de que, a qualquer instante, alguém virá sorrateiramente, para lhe cobrar a dívida e, com toda certeza, haverá sempre o terror de uma “batida na porta às 6h da manhã”.


Não importa o quanto essa pessoa acumulou em bens materiais ou ascendeu profissionalmente; não importa o quanto dinheiro ou fama ela tenha alcançado. A questão aqui é o modo como tudo lhe foi concedido. Quem vive na corrupção, na mentira e na falsidade, buscando benefícios a si mesmo e prejudicando qualquer um que interfira em seu caminho, abusando de fraudes e falcatruas, é porque fracassou em seu projeto de vida.


Um projeto de vida, conforme o conceito do antropólogo Gilberto Velho, é uma “conduta organizada para atingir finalidades específicas, tornando-se uma antecipação da futura trajetória e biografia do sujeito, e que se modifica a partir do campo de possibilidades, na qual o sujeito negocia a realidade com outros projetos e trajetórias individuais” (Projeto e metamorfose, 1994).


Um projeto de vida, portanto, embora possa ter um aspecto individual, está inserido em um projeto maior, coletivo, pois o “meu” projeto de vida não pode ferir o projeto de vida alheio. Temos que fazer ajustes naquilo que desejamos, pois muitas são as possibilidades que surgem ao longo da nossa jornada, e temos que considerar que todos têm seus desejos e todos buscam o bem-estar e a felicidade. Serenidade e harmonia é o que se busca sempre.


O sucesso na vida, portanto, não significa “vou me dar bem, custe o que custar”, mas, sim, saber fazer escolhas apropriadas, conforme nossas capacidades e habilidades, assumir compromissos honestos e cumprir os deveres com sinceridade, alegria e gratidão. De certo, uma vida de sucesso é uma vida em que “ter ou não ter” não é a medida do bem-estar e da felicidade, mas, sim, o “ser e o estar”: ser aquilo que se é, estar sempre presente, eis o “segredo do sucesso”.


O que a tradição do yoga nos ensina é que tudo o que fazemos deve ser feito com alegria, com serenidade e generosidade. Quando cumprimos nossos deveres, sem que isto implique em exigir nossos “direitos” quanto a autoria dos resultados ou do desfrute dos mesmos, estamos agindo conforme o entendimento de que “quem não se deixa afetar pelo bem ou pelo mal ao qual está sujeito no mundo fenomênico, sem louvar o bem ou desprezar o mal, este firmemente está fixo em conhecimento perfeito” (Bhagavad Gita II:57).


É este “conhecimento perfeito” que nos livra dos apegos ao que consideramos, erroneamente, como “sucesso ou fracasso”, quando atribuímos a esses um valor equivocado atrelado às nossas “conquistas individuais” no campo material, desconsiderando, por ignorância, que tudo o fazemos e tudo o que conquistamos, não depende apenas do nosso esforço individual, pois não vivemos no mundo sozinhos, e dependemos uns dos outros para que todos alcancem a paz e a felicidade.


No mais, é importante termos consciência de que o pouco que realizamos em nossa vida a partir desta compreensão correta, nos trará verdadeira alegria e bem-estar, em comparação ao muito que podemos vir a conquistar por meio do egoísmo, da ganância e embustes que, em realidade, nos causará apenas angústias e sofrimentos. Afinal, o sonho reparador pertence aos justos.


Hari Om Tat Sat.

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