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Serra da Canastra, 2015.
Acervo: Vanice Jeronymo

PROCESSO TERAPÊUTICO E SAÚDE HOLÍSTICA

O turvo, através da quietude, torna-se gradualmente límpido. O quieto, através do movimento, torna-se gradualmente criativo (Lao Zi, séc. VI a.C.)

O movimento é bom para o corpo. A quietude é boa para a mente (Sakyong Mipham - Monge Budista).

Processo Terapêutico e Saúde Holística: About Me

A saúde é o bem mais precioso que um ser humano pode ter. Sem saúde, a vida se torna difícil. O conceito de saúde vai além da ausência de doenças. Muitos intelectuais já debateram e discutiram o conceito de saúde. E não iremos adentrar por essas veredas. Porém, a raiz etimológica desse termo pode nos dar algumas interessantes pistas do seu significado. Saúde provém do latim salus, que designava o atributo daquilo que está íntegro. Salus, por sua vez, tem sua origem no grego holos, que designa totalidade. Podemos dizer que saúde é a uma condição de estar totalmente íntegro, ou seja, uma condição de completude. Portanto, se algo em nós não está íntegro, nossa saúde foi abalada.

O processo terapêutico que desenvolvemos em direção à saúde, isto é, à total integridade do ser humano, tem como princípios o movimento e a quietude. O movimento é a principal característica do corpo humano. O corpo humano, portanto, é dotado da capacidade de mudar (mover-se), com muitas possibilidades de variações. Mas, geralmente, nos limitamos. Aprendemos um movimento, e logo o mesmo, repetido automaticamente, se torna um padrão, uma estrutura fixa.

Essa estrutura fixa gera um comportamento padronizado. Esse comportamento padronizado reflete a nossa história corporal. E em nossa história corporal, carregamos não apenas as marcas do mundo exterior; porém, em nosso corpo, se inscrevem todos os pensamentos, emoções e sentimentos. Se reprimidos, temos um corpo estruturado de modo rígido, refletindo suas tensões internas, seus conflitos não resolvidos. Nessa condição, o corpo, privado de sua espontaneidade, perde a sua integridade. E nossa saúde, fica abalada.

Mas essa estrutura, embora fixa, pode ser superada, gerando uma mudança em nosso comportamento corporal e, mais do que isso, em uma nova atitude perante o mundo. Isso é possível pois o cérebro é maleável, ou seja, ele se ajusta às mais diversas circunstâncias, aos mais variados estímulos. Amplia-se a consciência corporal ao se realizar movimentos de maneira suave, leve, e sem esforços que gerem dor ou traumas. Mas o cérebro, embora versátil e ágil, e de extraordinária capacidade e habilidade, necessita de tempo e suavidade para gerar mudanças.

A quietude é um estado de completo esquecimento das manifestações do mundo interior de todo ser humano. Pensamentos, emoções e sentimentos são fatores que, ao jorrarem descontroladamente, abalam a nossa saúde. A mente aflita é uma mente fragmentada, sem integridade. Nessa condição, a mente não está plena, focada; ela está ansiosa, preocupada, viajando velozmente entre o passado e o futuro, nunca estando no presente. É no estado de quietude, todavia, que as turbulências se acalmam, que a mente se torna límpida, e é possível definir, com discernimento, quais caminhos que se devem seguir, e outros que se precisam rejeitar. É no estado de quietude que emana a criatividade, que a inteligência se manifesta naturalmente e que as ações corretas emergem de resoluções que geram harmonia em nossa vida.

Movimento e quietude não se opõem, se complementam. Quando o movimento chega ao término natural, segue-se a quietude. Movimento e quietude, logo, permanecem em harmonia com as exigências da vida, que ora requer de nós ação, ora repouso. É preciso saber agir, quando assim somos solicitados; tanto quanto é necessário o repouso, quando assim somos convidados. Movimento e quietude consistem na busca pela simplicidade da ação e pela serenidade da mente.

Movimento e quietude, portanto, são os princípios que direcionam a nossa prática terapêutica, cuja finalidade é restaurar a percepção da integridade do indivíduo (o Ser pleno), resgatando a espontaneidade do pensar, do sentir e do agir, libertando o indivíduo das reações condicionadas e de comportamentos padronizados. Esse processo ocorre em duas etapas: 1) reestabelecimento da naturalidade do fluxo da energia vital e desbloqueio de tensões musculares, por meio da prática de movimentos corporais de soltura, equilíbrio e relaxamento. Esse é o princípio do movimento.  Nessa primeira etapa, corpo e cérebro serão liberados de suas tensões e conflitos, de sua rigidez e automatismo, com a ampliação da consciência corporal e do reconhecimento dos padrões cerebrais e sua possibilidade de mudança; 2) recolhimento interior, com observação e exame diligente da mente, investigando a natureza daquilo que nos limita, nos preocupa e nos aflige. Esse é o princípio da quietude. Sentar e esquecer do mundo exterior. Voltar-se para o mundo interior, não para criticar ou julgar os nossos pensamentos, emoções ou sentimentos. Mas apenas permanecermos quietos para uma melhor compreensão do sentido daquilo que desejamos, do significado da nossa existência.

O processo terapêutico nessas duas etapas visa o alcance da tranquilidade interior, pois é nesse estado de tranquilidade interior (quietude) que podemos agir (movimento) no mundo exterior, sem sermos afetados pelas confusões e tumultos causados por aqueles que ainda não se encontram em plena harmonia. Não será mais necessário lutarmos contra aquilo que não temos controle ou domínio, pois alcançaremos a sabedoria do “deixar fluir naturalmente”. Toda ação que tem sua origem em dimensões mais amplas da consciência, tem como base uma compreensão profunda da existência.

Conhecendo a quietude, pode-se possuir a estabilidade. Conhecendo a estabilidade, pode-se encontrar a serenidade. Conhecendo a serenidade, pode-se encontrar a paz. Possuindo a paz, então pode-se pensar. E podendo pensar, pode-se agir (Mêncio, séc. III a.C.)

Processo Terapêutico e Saúde Holística: About Me
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Cachoeira da Bocaina, Analânida/SP, 26/08/2016.
Acervo: Marcelo Augusti.

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